Para quem não conhece, São Paulo é uma megalópole sul americana,
brasileira, para ser mais preciso, conhecida por seu povo muito
trabalhador, seu trânsito insuportavelmente engarrafado e sua
pequena quantidade de área verde por habitante. Há quem a chame
de "selva de pedras", já foi conhecida como "terra da garoa", mas,
a ocupação maciça e desordenada do solo, assim como
a enorme emissão de poluentes dos carros, caminhões e ônibus
que entopem suas ruas e avenidas mudou completamente o clima.
Há redutos de áreas verdes nos poucos parques que restam e,
principalmente, nos bairros exclusivamente residenciais
conhecidos por "Jardins".
Há o Jardim Europa, o Jardim América, o Jardim Paulista, o Butantã,
o Alto de Pinheiros, o Alto da Lapa, parte do Morumbi
e alguns poucos outros mais que não vou ficar enumerando, pois,
estou escrevendo para contar uma história que se passa atualmente
no Alto de Pinheiros, bairro onde meus pais tem uma casa e onde
mantenho um escritório com este computador onde agora escrevo.
Um dos vizinhos da rua de cima é fazendeiro e fez um
galinheiro em seu quintal.
Estranhei, a princípio, ouvir um galo cantar ao amanhecer e,
como acordo cedo, gostei do toque de campo que este cantar lembra,
além, do maravilhoso poema de João Cabral de Melo Neto
denominado "Tecendo a Manhã" do seu livro de poemas
"Educação pela Pedra" de 1995.
Para espanto geral de todos, uma galinha carijó apareceu na rua da
casa dos meus pais e passou a viver livre entre os jardins das
casas circunvizinhas, atravessando a rua de asfalto, apesar dos
veículos e dormindo no alto das arvores para escapar de um
gato safado que viu nela um banquete.
Passou a ser a atração dos transeuntes.
Alimentei-a e a batizei por Geralda.
Assim também fizeram outros dois ou três vizinhos e, um deles teve
a ideia de trazer do sítio de uma amiga um galo carijó
para lhe fazer companhia.
É um belo espécime, bastante jovem e com as penas com reflexos dourados.
Por comodidade, talvez, o galo foi por mim batizado de Geraldo.
Tudo deveria transcorrer como um conto de fadas campestre no meio da
cidade grande, porém, o Geraldo pirou!
Ele tinha um amor de adolescência que crescera no mesmo terreiro
de nome Maricota e esta carijó demonstrou afeição pelo Geraldo.
Começaram a namorar e formariam um belíssimo par, já haviam
planejado ter uma grande família.
A Maricota pensava, puxa! Se saírem ao pai meus filhos serão lindos.
O destino não lhes foi grato, um humano pegou o Geraldo pelos pés
e o colocou em um porta malas de carro.
Levaram-no para longe. A intenção era boa, dar uma companhia para
a Geralda, porém, o Geraldo já tinha seus planos.
Sempre que cantava ao amanhecer a Maricota ficava ao seu lado e o
casal não se desgrudava o dia todo.
Aqui na cidade, até que no primeiro dia o Geraldo foi muito educado com
sua nova amiga, porém, após, começou a sentir muita falta do seu amor.
Onde estaria a Maricota que não aparecia mais ao seu cantar?
Passou a cantar desesperadamente e fora de hora. No início a saudade
era tamanha que nem esperava amanhecer, lá pelas três da manhã
começava a cantar. A Maricota não vinha!
Começou a ficar desesperado e cantar as três, as quatro, depois as cinco...
Agora está cantando sem parar desde as três da manhã, o dia todo.
Daqui a pouco vai ficar rouco, creio que não se deve dar xarope às galinhas,
pois, correria o risco de ele ficar ainda mais xarope do que já está.
Estou fazendo uma revolução nas redondezas para levar o Geraldo de volta
ao seu terreiro onde finalmente reencontrará seu grande amor!
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Aliás Voadoras
Historia CortaFazendo um breve preâmbulo; esta crônica é um dos capítulos de um livro que escrevo há mais de uma década intitulado "Aliás Voadoras". Aleá era o nome que os moradores de certo lugar do oriente, que foi dominado pelos portugueses, davam às fêmeas...