Saindo de casa a caminho da farmácia, do supermercado ou do sacolão há um bar que vende coco verde.
Sentado na soleira da entrada sempre se encontra um homem pardo, grande e pacífico que vende (ou ao menos faz) bijuterias. Traja-se com simplicidade ou denota pobreza, assim como destreza e agilidade com as ferramentas do seu trabalho de artesão.
Lembra-me da juventude quando vivi por quase um ano em Paraty – RJ e ficava sentado ao lado da igreja matriz em frente a um feltro azul escuro vendendo bijuterias. Na verdade, revendendo, uma vez que nunca tive habilidades manuais. Ele, ao contrário, faz suas bijuterias com bastante cuidado e esmero.
Certa feita a corrente do meu relógio de bolso começou a engastalhar. Prendia um elo no outro e não havia como soltá-los; quanto mais eu tentava mais aumentava o número de elos engastalhados.
Lembrei-me dele por saber que tinha as ferramentas necessárias (alicate de bico etc.) por já tê-lo visto lidando com eles e pedi-lhe que arrumasse minha corrente.
No outro dia, passando por lá, ele não estava no lugar de sempre, mas, perguntando ao garçom este o chamou por uma porta lateral ao bar, da qual eu não havia reparado a existência antes, e ele veio sorridente e pegou minha corrente já consertada.
Perguntei quanto devia e ele ainda sorrindo respondeu:
- Imagina, não foi nada não Sr. É forte esta corrente deu trabalho para abrir.
Sem graça lhe contei que tinha sido presente de um dos meus irmãos que tinha me trazido da Itália e que o relógio todo era artesanal. Dei-lhe dez reais que, ao menos, lhe pagaria o almoço daquele dia e ele aceitou meio sem graça.
Agora toda vez que nos cruzamos cumprimentamo-nos, mas nunca tive a oportunidade de lhe contar sobre minhas andanças pelo seu metier.
Contar-lhe-ia que certa feita o Prefeito de Cunha me pediu três pulseiras de cobre com o nome entalhado das suas filhas e que eu com o uso das punções das letras e um martelo consegui entalhar o nome das meninas sem tremer.
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Aliás Voadoras
Short StoryFazendo um breve preâmbulo; esta crônica é um dos capítulos de um livro que escrevo há mais de uma década intitulado "Aliás Voadoras". Aleá era o nome que os moradores de certo lugar do oriente, que foi dominado pelos portugueses, davam às fêmeas...