Agora, sem o galo Geraldo, que foi devolvido ao seu terreiro natal,
pude dormir até mais tarde (até às quatro e um quarto horas)
percebi que os pássaros cantam desde muito cedo.
Uma amiga e colega, só que professora do fundamental comentou
comigo que leu um estudo sobre as aves que habitam a cidade.
Elas têm acordado mais cada vez mais cedo neste habitat diverso
e passaram a cantar desde a madrugada. Afinal é o único momento
do dia em que podem conversar e cantar sossegados; pela manhã
o barulho dos carros, máquinas e demais traquitanas dos
humanos abafa sua conversa.
Nesta madrugada pude constatar tal fato e lembrei-me de um lugar
específico por onde passo todos os dias e me chamou a atenção o
número enorme de pombas que habitam uns fios na pracinha
entre as ruas Ilhéus e Tácito de Almeida.
É uma verdadeira infestação de pombas no local.
Seguindo meu trajeto diário habitual passo pela Praça Charles Miller
(em frente ao estádio do Pacaembu) onde foi feito um "piscinão"
para conter enchentes frequentes no local. Lá tem feira semanal
e uma vez vi uma filmagem do piscinão muito aterrorizante;
as ratazanas com mais de um palmo de comprimento são tantas
que para se locomoverem tem que passar umas por cima das outras.
A associação é pelo fato de que as pombas são chamadas de pragas
voadoras. A selva de pedra da megalópole trouxe para si estes
desequilíbrios ecológicos e, no caso, biológicos também.
Fico com o Geraldo que me acordou mais de um mês a uma e meia
da madrugada com seu canto desafinado e ininterrupto, mas,
a meus pedidos, quem o trouxe levou-o de volta para sua casa.
A do galo Geraldo entenda-se bem!
Como já citei anteriormente o belíssimo poema de
João Cabral de Melo Neto denominado "Tecendo a manhã"
tem muito a ver com esta minha crônica, então vou copiá-lo para
que meus leitores vejam a maravilha desta criação
(imagino que ele tenha ficado anos a lapidando) e terei o aval
de um poeta do seu calibre quanto a necessidade do galo ter que
ter sido removido à antiga moradia – onde ele tinha outros galos
para conviver, afinar seu canto e ajudar na criação deste novo dia.
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Aliás Voadoras
NouvellesFazendo um breve preâmbulo; esta crônica é um dos capítulos de um livro que escrevo há mais de uma década intitulado "Aliás Voadoras". Aleá era o nome que os moradores de certo lugar do oriente, que foi dominado pelos portugueses, davam às fêmeas...