Certo dia meu bom amigo Angelo, quando conversávamos em seu novo restaurante e casa noturna na Av. Nove de Julho em São Paulo, Capital, uma casa muito bonita, bem decorada e elegante, com diversos ambientes e ao lado do famoso restaurante "La Tranbuille". Encontrávamos-nos no restaurante da sua casa noturna, no andar superior que tinha uma sacada com vista para dois dos ambientes inferiores. Meu Filé au Chateaubriand estava divino, por sinal, e espantou-me o fato de ele lembrar como nos havíamos visto pela primeira vez.
Eu alugava um pequeno quarto com banheiro em Paraty – RJ onde descendo um lance de escada dava para um braço do rio que corta a cidade, onde ficava amarrada minha pequena chata de mergulho movida por um motor de popa Yamaha de 5Hp.
Como de costume pelas manhãs eu estava saindo pelo rio com minhas tralhas de mergulho rumo à baia que se situa entre Paraty e Angra dos Reis e é famosa por suas trezentos e sessenta e cinco ilhas (uma ilha para conhecer por dia no ano) quando avistei em cima da ponte da igreja matriz uma moto Honda 750 c.c. preta com o tanque com o formato de um caixão de defunto. Chamava a atenção até de quem não gosta tanto de motos quanto eu.
O motociclista cruzou um sorridente olhar comigo e uma grande empatia nos uniu naquele mesmo instante. O motociclista era este amigo que hora lembrava este pouco usual episódio. A casa noturna onde conversávamos fechou por não estar dando lucro creio eu, mas, quem sempre teve diversas e entende do assunto é o Angelo. Atrevo-me a opinar que a fina decoração, os altos custos fixos e a falta de estacionamento faziam com que os preços não pudessem ser populares, e a música nos três ambientes internos inferiores era estilo "tecnomusic" o que me desagradava e creio ajudou a causar a insolvência do negócio.
Este bom amigo já havia tido diversas outras casas noturnas, cito especialmente o "Rose Bom Bom" onde nos reencontramos após o episódio de Paraty, uma quadra abaixo do "Victória Pub" na década de setenta, onde eu trabalhava como public relation e, dada a proximidade frequentemente ia ao Rose dançar um bom e velho Rock and Roll.
Nunca paguei para entrar, para desespero do gerente José, que acompanhou meu amigo em outras danceterias noturnas e, quando me via já avisava os "leões de chácara": - Este pode deixar passar...
"A Vila" era uma construção muito antiga formada por um bloco posterior onde funcionavam os bares e a pista de dança, um grande pátio interno, um pequeno rio canalizado paralelo à rua e ao casarão com duas pequenas pontes, uma de cada lado do terreno das construções.
Entrei pela primeira vez para conhecer a nova danceteria e rever meu amigo. Pedi uma dose de Jack Daniel's on the rocks e fui conhecer o lugar. Depois de sondar o primeiro bloco saí para o pátio interno e tomei a pequena ponte da esquerda, vi que dava para alguns quartos com pessoas dormindo a sono solto completamente vestidas e ainda calçando seus sapatos, o que me levou a pensar que eram dormitórios para aqueles que haviam exagerado na dosagem alcoólica.
Voltei ao casarão que chamei anteriormente de primeiro bloco e pedi ao garçom que completasse minha dose gratuitamente. Em primeira instância ele se recusou, mas, ao ver minha insistência e determinação abaixou-se para pegar um líquido desconhecido de uma grande garrafa que estava no chão. Enfurecido saí do ambiente para procurar o dono do lugar. Ao passar pelo pátio vi um pastor alemão com uma aparência muito triste, peguei-o no colo, não sei de onde arrumei força para tal façanha e fui desta vez pela ponte da direita em busca do proprietário.
No caminho havia um senhor com roupas surradas aparentando ser o caseiro do lugar. Segurava pelas coleiras dois dobermanns pinscher com cara de poucos amigos (muito ferozes). Na hora entendi a tristeza do pastor que tremia de medo no meu colo.
Sem demonstrar nenhum receio atravessei o caminho dos três e entrei em um dos quartos daquela ala da vila onde se encontrava meu amigo. Relatei a ele todo o ocorrido e ele fez uma cara de quem ficou "num mato sem cachorro" apesar da alegria do pastor que ao vê-lo havia pulado do meu colo para fazer festa para seu dono...
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Aliás Voadoras
Short StoryFazendo um breve preâmbulo; esta crônica é um dos capítulos de um livro que escrevo há mais de uma década intitulado "Aliás Voadoras". Aleá era o nome que os moradores de certo lugar do oriente, que foi dominado pelos portugueses, davam às fêmeas...