Tempos etílicos

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Aliás, não adianta teimar, mãe também se diverte.

Aí quando lhe damos sinceridade perdem o parâmetro.

No nosso tempo as coisas eram mais rígidas e a gente

enganava mais vivendo, assim, mais livre e solto.

Voar não é só para quem tem plumagem, há arte neste

espaço sujo e amassado.

Havia um conhecido que sempre brincava sobre uma

lata de cera "Parquetina" que encheríamos de fezes,

tipo para fazer exames, como se fosse um penico.

Desde então brincávamos "da latra".

Certa feita, como havia um peso de morte familiar,

senti-me atacado por todos os lados; resolvi brincar

de "uma latra de merda" para reverter em

uma célula de energia.

A latra se tapada faz uma reunião físico-química que

se converte em gases para o lado do butano e a explodem.

Porém, poder-se-ia converter esta explosão (sem cheiro)

em uma célula de energia transformável em luz.

Em contraposição ao da latra havia um outro companheiro de boteco

que demonstrava uma certa cultura, assim como formação e berço.

Após a terceira cerveja descambávamos a divagar e, certo dia,

resolvemos planejar uma empresa que nos desse trabalho e dinheiro.

Claro que o nosso subconsciente e instinto de autopreservação

pretendia nos tirar da boemia à tarde, pleno horário comercial.

De início pensamos em abrir uma funerária, afinal a única certeza

que temos é a morte, portanto, não nos faltaria clientela.

Porém, um bom negócio deve ser inovador para não entrar no

mercado concorrendo com as empresas da área já estabelecidas,

então lembramo-nos de uma grande fatia de mercado que, além

de morrer de medo da morte teme ser enterrado ainda vivo.

O terror de se ver encaixotado e coberto por sete palmos de terra!

Por que não abarcar esta fatia de mercado inexplorada?

Faríamos caixões confortáveis, com comunicação telefônica com

a família, frigobar repleto de iguarias e cerveja, claro!

Pois não é que no dia seguinte recebo um e-mail deste sócio com

uma apresentação da empresa com site bem elaborado e com

tratamento de imagens sofisticada.

Naquele momento, sem ainda ter tomado a primeira cerveja do dia

pensei, além de reconhecer suas habilidades em uso de modernos

softwares, como poderia ter levado adiante tal ideia

etílica mesmo sóbrio?

Afinal por mais que fosse uma conversa de bêbado com mais

conteúdo do que a da lata de merda do da latra era pura

conversa de boteco também.

Neste tempo eu tinha um amigo imaginário oriental

de nome "Detonô", baixinho e invisível, que quando me honra

acompanhar detona tudo.

Não é que está ficando rico? Comprou uma "Mercedes" e até

contratou um chofer nordestino, amistoso e bom motorista,

com sua camisa azul clara com palas nos ombros, boné e

o caralho a quatro, invisível como seu patrão japa –

apelido fissurinha.

Décadas de sobriedade depois é interessante lembrar-me

destes tempos etílicos.

destes  tempos etílicos

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Aliás VoadorasOnde histórias criam vida. Descubra agora