11.Emily

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Lea se provara ser uma fiel confidente.

Emily sentia falta de Jeyne Kemble, a antiga professora de piano. E por alguns dias suportara sua falta como um fardo a ser carregado em um deserto sem fim. Todas as suas palavras, seu segredos e suas angústias eram guardados dentro do peito quando antes eram compartilhadas com Jeyne. Mas agora Emily sentia que Lea tinha a particularidade de ouvir.

- Não se preocupe, anjinho. - disse Lea, com a mão suavemente recostada na bochecha úmida de Emily.  - Seu pai está apenas tomado de estresse. Ele vai entender se sua escolha for essa, sim, ele vai entender.

- Você não compreende. - soltou Emily, ofegante. - Eles nunca deixaram-me ser livre, fazer minhas próprias escolhas, sempre interferiram na minha vida de forma pessoal, para seus próprios interesses. Eles não conseguiram fazer isso a Norman, então depositaram todas as necessidades em mim.

- Você é talentosa, Emily. Seus dedos são mágicos nas teclas de um piano. Não se deixe abater, anjinho. - Lea fez algo que só Jeyne fazia, deixando Emily confortável com o afeto. A professora de piano trouxe-a para junto da barriga, de modo que Emily, sentada, repousasse a cabeça ali, enquanto Lea passeava seus dedos pelos cabelos loiros da jovem. - Se você acredita em você mesma, siga em frente. Mostre a eles que estão errados. Mostre que você pode ter uma boa vida sem o auxílio direto deles. E sei, independentemente do que está acontecendo, você é capaz de saber ser feliz, Emily. Eu sei disso.

A garota tinha espantado sua tristeza e agora olhava para Lea McMory com um sorriso estampado no rosto. A ardência do tapa do pai em seu rosto tinha se transformado em coragem de seguir. Emily agradeceu a Lea, realmente acomodada em falar com ela agora.

Já era hora e Lea precisou ir embora. As partituras ficaram sobre o piano; Emily a acompanhou até a porta, despedindo-se e novamente agradecendo. Dali a pouco ela estaria na universidade, enfrentando o destino que o pai a obrigou seguir.


Preferiu não dizer nada a Andy Creegan, ela não poderia se vitimizar ou expor seus problemas pessoais a amiga sempre que acontecesse algo na família. Parte da angústia tinha sido compartilhada com Lea horas atrás, então estava tranquila quanto a desabafar com mais alguém sobre o que tinha sofrido.

As aulas tinham um teor crítico e o professor cuidou de relatar os conceitos complexos de cirurgias. Era necessária certa atenção para pegar cada ponto da matéria, o que Emily não estava conseguindo. Andy notou que a colega de classe estava preocupada com alguma coisa e sentia pela amiga:

- Vejamos... - disse Andy. - Quais músculos se contraem quando fazemos massagem cardíaca?

Emily demorou um instante para entender que Andy dirigia a pergunta a ela. Piscou algumas vezes, fitando a amiga com uma expressão de cansaço.

- Esta é a matéria bimestral, sabia disso? Não poderei ajudá-la mais uma vez se você não se esforçar, Emi. - alertou Andy, e isso deixou Emily aturdida:

- Desculpe... eu não estou focada hoje. Realmente... desculpe. - Emily tomou os livros nas mãos e enquanto esperava a aula terminar, rabiscou coisas ilegíveis no caderno.

Andy desistiu de alertá-la. Quando a aula chegou ao fim Emily não quis contar nada a amiga, preferiu o silêncio soprado ao vento que limpava todos as suas preocupações. Não trocaram mais do que algumas palavras educadas, falando sobre assuntos relacionados às provas bimestrais. Emily achou que durante o diálogo Andy a questionasse a respeito de Jack Field, a que tinha levado a confusão e suas complicações. Porém Andy não dera qualquer sinal de que se importasse com isso. Emily respirou aliviada e se dirigiu ao externo da universidade.

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