Antes de seus sonhos se esvaírem por completo em sua mente, ele recordava de um em especial:
Eles estavam numa colina, onde os pássaros nunca chegavam e as nuvens deslizavam pelo solo gramado e verdejante. Jack tomou uma carmélia nas mãos, alisando suas pétalas rosadas. O vento sussurrava algo que ele não conseguia entender, mas pareciam frases em conflito num ambiente utópico. Divagava, num profundo apego às memórias, se é que isso existia num sonho. E as memórias eram como borrões, ofuscados pelo brilho do sol imenso que se prostrava a frente da colina. Ele ouvia o barulho das aves baterem asas, mas nenhum sinal delas no alto da colina. No minuto seguinte Emily apareceu, tomada por uma estranha alegria que a dava um brilho especial. Ela tinha joias nos dedos das mãos, calcanhares, garganta, orelhas, cabeça, cintura... Jack notou que durante um segundo um razoável raio de sol passou pelo horinzonte, inclinando na colina, e nesse momento iluminaram-se os olhos de Emily. Eram cristalizados, joias incrustadas nas íris.
- Uma bela carmélia, Jack - sua voz era comparada a de um anjo há muito treinado. - Não há muitas por aqui.
Só quando ele levou a carmélia a frente para entregá-la, viu que seus dedos, suas unhas, pele... estavam acinzentados. Uma espécie de cinza que descascava lentamente, formando uma camada de sujeita em cada espaço aberto. Ele estava horrível. Seu corpo de estátua estava quebrando aos poucos... ele apenas viu Emily tocar as pétalas das rosas, suas unhas num ouro brilhante...
Então a colina foi um tipo de cama para os pequenos pedaços de rocha que partiram dele, de seu corpo-estátua.
Então ele deixou o sonho sabendo que pedras de diamante não se embatiam com pedras brutas.
Ele não sabia ao certo porque aquele sonho tinha invadido os tantos outros que sua imaginação podia alcançar. Talvez Emily no sonho tivesse desenvolvendo o papel da mulher exploradora e narcisista que fora visitá-lo e propor-lhe estudar fora. A mãe. Todas aquelas joias a preenchendo de maneira rude, até os olhos, transformavam-na num ser misterioso, a ponto de assumir a aparência da filha nos sonhos de Jack. Com certeza, ela o empurraria daquela colina mais cedo ou mais tarde, enquanto os pássaros lá embaixo formariam uma rede de asas para aparar sua queda. Em vão. Ele despencaria até o ponto mais próximo.
Todos os dias ele resolveu evitá-la. A situação estava insustentável. Ele achou que se se aproximasse de Emily ainda mais, a proposta do casamento dela iria se concretizar. Talvez se deixasse Emily de lado por algum tempo iria protegê-la da mãe. Se o casamento fosse verdadeiro Emily com certeza o diria algo, o falaria da forma radical da mãe de resolver tudo e que ela não aceitaria se casar. Mas Jack sabia muito bem que assim como tinha sido para ele, uma surpresa atingiria Emily.
O primeiro dia que Emily resolveu visitá-lo fora dois dias depois da aparição de sua mãe na residência de Jack. Ele se recolheu para os fundos, olhando para a mãe com um semblante de insegurança, parte medo, parte angústia. Mandy sabia bem o que fazer, assim como Michael. Tudo o que Jack os contara... era um absurdo! Conforme os dias se passavam Jack não conseguia se libertar das amarras que a senhora Buster o colocara. Emily desistira de ir vê-lo, e os sonhos estranhos retornaram.
Agora seus pés estavam pousados numa espécie de banheira cristalina. As mãos estavam segurando uma carta...
"Emily Buster casou-se. Minha querida filha. O felizardo deste aprazer já a levou à lua-de-mel. Felizes estão, sempre."
Mais algumas coisas estavam escritas, como os detalhes do casamento, os detalhes em pedra lisa da catedral, os convidados em trajes sugerindo um padrão. E no final assinava-se o nome da senhora Buster.
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O Amor É Cinza
Lãng mạnJack Field é um jovem de vinte anos que é reservado à família e não pensa duas vezes quando quer ajudá-la em qualquer coisa. O emprego de artista de rua não está rendendo, porém a persistência de que um dia tudo será melhor o torna focado em seus ob...