35.Jack

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Uma vez, dentro de um cubículo em uma loja de flores, ele viu as tulipas mais lindas do mundo. Não eram vermelhas, estavam mais para um tipo raro com uma camada amarelada e verde nas pétalas adjacentes. Era exatamente delas que lembrava-se agora, em sua mais profunda vertigem no horizonte calmo.

Nada era certo, porém o conflito de sua mente estava mais do que imposto. Ele neutralizou o olhar na estrada a metros dali, sem intenções, como se quisesse tomar para si o poder de agir sem fracasso, de tudo correr para dar certo, tomando coragem no vento que o rodeava. Ele sabia que manter William Lambert em cárcere privado era crime, mas seria ainda mais criminoso deixar que Emily sofra durante uma vida inteira por algo que nunca quis. Casar-se jovem, ter certa restrição da juventude, era mais do que maldade. Os pais a fizeram um instrumento de seus caprichos e disso Jack tinha convicção.

O casamento, pensara ele, é hoje!

A sensação de estar barrando um grande evento na mansão dos Buster, o renomado casal Buster, era um tanto estranha. Estranha da forma boa. Enérgica. Satisfatória. Orgulhosa.

Não haverá casamento. O noivo está aqui comigo!

Por um momento acresceu um sorriso ao rosto concentrado. Ele passara toda uma noite pensando no que fazer, avaliando o que tinha ocorrido para que ele chegasse a fazer algo que nunca pensou que faria. Livrar Emily de qualquer sofrimento, seja com um casamento ou nas mãos da família imponente, era parte de uma obrigação e não de uma escolha. Fácil assim. O sol iluminava o portão de metal da oficina de Terency Milton. A placa, já desgastada pelo tempo, corroída nas laterais por ferrugem, levava os dizeres: "OFICINA MILTON, Não banque o esperto comigo ou com seu motor!". Jack sempre achara a frase esquisita, um tanto quanto sem sentido. E quando perguntava ao amigo o que significava aquilo, sua resposta era a mesma: "Eu não fiz isso!".

Terency vinha de lá, deixando para trás os carros com capôs abertos, motores jogados ao chão, óleos sobre as estantes, destampados, e a sala que mantinha William Lambert prisioneiro.

- Eu não posso acreditar que está pensando em fazer isso! - ele se prostrou ao lado de Jack, cético, o olhar cismado com a ideia do amigo.

- Achei que estivesse tudo resolvido! - Jack descruzou os braços. - Eu tenho duas escolhas: Esperar a polícia me encontrar por meio dos Buster ou tirar Emily de lá de uma vez por todas. Prefiro escolher a mais racional.

- Racional? - questionou Terency. - Não há uma opção racional dentre essas duas!

- Você está errado, Tery. A segunda opção é a mais sensata! Não posso recuar agora...

Terency encarou o amigo de longa data, o questionando:

- Provavelmente o Jack que conheci não vive mais dentro desse corpo. - ele percebeu então um olhar de repreensão do amigo. Jack o olhava como se tivesse dito algo extraordinariamente indigno e provocativo. Então ele concluiu: - E quer saber? Estou gostando.

Jack sorriu com o apoio de Terency.

- Então? - perguntou o rapaz. - Acha que o evento já deu início?

- Provavelmente, Tery. - respondeu Jack. - Então acho que está na hora! Cuide bem do noivo!

Jack correu pela estrada de terra até os fundos da oficina, tirou de lá uma motocicleta recém-montada por Terency, pôs o capacete e partiu.

* * *

Ele sabia que se fosse pego ou se os Buster pusessem a polícia em sua procura, não achariam William. Os Buster não sabiam sobre Terency, não o conheciam. Então ter que saber sobre ele, encontrar sua oficina e deduzir que Will está escondido no cômodo dos fundos era um tanto quanto impossível.

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