13.Emily

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"Nada de tocar no BMW!"

Emily lembrava muito bem da ordem imposta pela mãe, mas ver Jack ser levado dali pelos amigos imprestáveis do irmão ultrapassava o seu limite pessoal de obediência. A noite anterior já tinha sido bastante difícil. Ter que ver Jack ser trancafiado no quarto do jardim por dois seguidores do irmão, e em seguida ter Norman em seu quarto, afagando seus cabelos e dando-lhe um beijo na testa foi insustentável para Emily.

Conseguiu dormir por três míseras horas, despertando em intervalos pequenos, e em seguida retornando a cabeça ao travesseiro. Estava bastante insegura quanto ao que o irmão poderia fazer, mas acreditou que se ela não fizesse algo, Jack seria mais um que Norman prestaria contas. E ela já conhecia a fórmula que o irmão usava para prestar contas com alguém. Quanto a isso seu pai nunca impôs limites.

       Brandon tinha acabado de levar o carro para a calçada. O dia tinha amanhecido com uma ponta de nuvem escura surgir em meio ao véu branco de outras que cobria boa parte do céu. Emily não se contentava com Big Roy e Franklin estarem trancafiando Jack naquele quarto, com toda a sujeira e insetos presentes no local. No fundo ela sabia que Big Roy não baixaria a guarda quanto a seu pedido. Teve que aderir a uma atitude radical: os proprietários da residência. Seus pais seriam uma boa ideia, mas o fato de Emily mencioná-los era mais parte de uma certa intimidação. Ela não os incomodaria para tirar aqueles dois dali. Principalmente depois do dia anterior.

Ela encarou Big Roy por trás do volante da caminhonete de Norman. "Ele não vai gostar nada disso!" pensou Emily, encarando em seguida Jack no banco do passageiro. Amedrontado. Seus olhos se fixavam nos dela como se ela fosse a única esperança que ele tivesse, como se ela fosse o único réptil diferente em um ambiente de serpentes. A caminhonete arrancou dali e Emily não precisou pensar muito para tomar uma decisão. Brandon lavava o carro pessoal dos Buster, então Emily recorreu a única oportunidade que tinha nas mãos; O BMW vermelho estacionado na garagem era o único modo de salvar Jack das mãos de Big Roy e Franklin. Entrou no veículo, girou a chave na ignição e quando percebeu estava seguindo a caminhonete pela estrada.


Eles pararam quase dois quilômetros dali, em um galpão que se fechava com duas ruas desérticas. De um lado havia um posto de gasolina com dois carros estacionados. Do outro uma praça com uma fonte, uma estátua jorrando água pelos braços estirados a frente do corpo, como uma deusa mitológica. Emily encostou o BMW logo atrás da caminhonete e desceu do veículo, a tempo e seguir os passos de Big Roy e Franklin pelo terreno mal aproveitado até o interior do galpão. Jack tentava de qualquer forma olhar para trás em busca dos olhos dela, mas Franklin o puxava violentamente para dentro. Antes que Big Roy pudesse fechar a porta metálica, Emily conseguiu adentrar.

- O que pensa que está fazendo aqui? - questionou Big Roy, num nível de voz que sugeria repreensão. - Isso não é da sua conta!

- Larguem ele! - ordenou, sem mais delongas. - Larguem-no agora!

- Desculpe-me, Emily, mas essas ordens eu só recebo de Norman. - disse Big Roy, enquanto Franklin levava Jack para o canto mais obscuro do galpão, que possuía uma luminária no centro sobre uma mesa retangular.

- Ah, é claro! - Emily riu com a situação. - Ele manda e os bastardos obedecem, não é mesmo?

- Tenha cuidado com o que você fala! Suas palavras podem machucá-la! - exclamou Big Roy, se aproximando de Emily.

Ela o encarou, seus olhos percorrendo os contornos da tatuagem de escorpião na testa do rapaz.

- A única coisa que vai machucar aqui são suas bolas caso não faça o que eu estou pedindo! Agora largue Jack se não quer ver a sola do meu sapato esmagando seus futuros filhos! - Emily parecia bem maior que Big Roy agora.

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