Em meio a uma amplitude emocional de ter tido a manhã ao lado de Emily, Jack finalmente chegou em casa, encontrando os pais na sala de estar. A mãe tecia algumas peças em azul, uma viva cor que lembrava o contorno de um dos quadros brilhantes de Jeyne.
- Que bom que chegou, filho. Estávamos preocupados. - a mãe levantou-se e abraçou Jack, um abraço quente, mostrando tanto afeto que ele sentiu o coração dela bater no peito. - Por que não nos comunicou que iria passar a noite na casa daquela jovem?
Jack franziu o cenho:
- Achei que o motorista...
- Sim, sim! Ele veio. Nos deu o recado. Mas mesmo assim... você poderia ter nos deixado a par da situação antes.
- Desculpe. - disse Jack, olhando para o pai, que enrolava o jornal no colo, um sorriso estampado no rosto calmo, parcial, entendendo os motivos que Jack tinha para fazer o que fez. O jovem estava vivendo uma fase de emoções fortes e era normal que ele agisse daquela forma impulsiva.
- Mandy... - falou Michael Field, erguendo-se com dificuldade da poltrona. - Está tudo bem. Jack apenas está conhecendo uma garota. Não há nada demais nisso.
Houve um tom de pretensão na voz do pai, e Jack percebeu. Era como se Michael tomasse como certo que Jack e Emily estavam... o pensamento do jovem com relação a isso deu lugar a uma pergunta da mãe:
- Você esteve com Terency, querido?
Ele não poderia contá-la tudo a respeito da noite anterior. Não poderia mentir, tampouco omitir a verdade. Achou melhor que os pais ficassem fora disso, aquele problema era dele, apenas dele e a sua família tinha problemas demais para ter que lidar com mais esse. Ele esperou que, acompanhada dessa pergunta dela, viesse alguma informação sobre o amigo.
Jack meneou a cabeça, confirmando o fato.
- Ele esteve aqui nesta manhã. - falou o pai.
Certo. Era agora que Jack seria desmascarado pelos pais. Como ele pôde ser tão idiota de achar que eles não desconfiariam de nada, que Terency simplesmente retornaria para casa ao ver que tinha acontecido alguma coisa, repousado a cabeça no travesseiro e dormido, sem preocupações? Antes que ele se desculpasse pela segunda vez, se preparando para explicar tudo, a mãe complementou o que o pai dissera:
- Ele disse que precisava falar com você.
Jack estranhou. Só isso? Nada mais? Então era isso... Terency provavelmente já sabia do acidente, da motocicleta ou talvez não. Será que alguma vez Terency desconfiaria que Jack pudesse roubar? Ele espantou esse pensamento de sua cabeça antes que pudesse criar um desafeto emocional com o amigo.
- Tudo bem. - foi tudo que disse.
O silêncio perdurou na sala como um grande véu, pálido como o amanhecer, resplandecente e calmo. Michael retornou ao jornal, Mandy aos tecidos e Jack sentiu falta de Clarice. Havia um tempo que não conversavam como bons irmãos, como sempre faziam. Desde que Clarice começou o namoro com um colega das aulas de dança, Jack não tinha mais o momento fraternal com a irmã. Ela conseguiu um emprego fora o período que ficava como estátua-viva no viaduto Grand Mary. "Você não tem que continuar conosco se não quiser filha." dizia o pai. "Eu realmente amo o que faço, pai. Eu posso dar conta dos dois trabalhos." respondia Clarice. Jack já a tinha cobrado antes: "Quando eu poderei conhecer e aprovar esse cara?", Clarice ria e soltava: "Estou apenas conhecendo-o agora. Quando estiver apto, apresentarei a vocês. Ele é especial para mim.".
Com isso Jack via que a garotinha, que até pouco tempo atrás ia para sua cama na calada da noite e se aconchegava ao seu lado porque tinha medo da tempestade, tinha ficado para trás, dando lugar a uma outra garotinha, essa destemida e sem inseguranças.
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O Amor É Cinza
RomanceJack Field é um jovem de vinte anos que é reservado à família e não pensa duas vezes quando quer ajudá-la em qualquer coisa. O emprego de artista de rua não está rendendo, porém a persistência de que um dia tudo será melhor o torna focado em seus ob...