Aquele labirinto era o pior de tudo. Ele não conseguia passar por ele, tampouco se esquivar por entre suas paredes alternativas. Um emaranhado de caminhos que não levavam a lugar nenhum e Ryler Bentter sabia muito bem disso. Seu olhar difuso da sociedade, da própria vida, não passava de uma análise retrógrada da humanidade. Ele sabia, no âmago, que alguma coisa estava errada ao seu redor, que alguma coisa estava errada em si mesmo, mas preferiu fechar os olhos, contar até três, (contar até dez, contar até vinte...) respirar fundo e tirar isso da cabeça.
Desde o acidente ele pensava bastante no que estava acontecendo ao seu redor. Tudo aquilo era resultado de uma vida toda de marginalidade. O perseguiu assim como perseguira seu irmão. Uma vez Dean fumou. Muito. Bastante. Horrores. Maços e mais maços de cigarro que Ryler não pôde contar. Não lembrava se nesse tempo sabia contar, era bastante novo, para falar a verdade. Dean tinha se trancado no quarto e passou todo o dia lá. Era natural que aparecesse com pessoas estranhas em casa. Ryler conhecia bem o irmão para aguentar aquele tipo de coisa.
Uma vez ele levara uma garota para o quarto na própria casa. O pai não ficava muito em casa e Ryler entendia suas motivações. Tinha certo conhecimento sobre o pai ser traficante e nada disso mudaria o seu modo de ver o cenário bizarro que era sua vida.
Labirintos... sempre vejo labirintos, não tenho para onde correr...
Dean tinha treze anos na época e a garota parecia bem mais jovem. Stephanie. Ryler ainda lembrava do nome dela. Ainda lembrava da forma que o irmão gritava no quarto com a menina, a cama rangendo e Stephanie lançando gemidos. Ele lembrava bem da menina saindo de lá aos beijos com Dean. Merda! pensou, Meu irmão tem treze anos e já comeu uma garota! Ainda por cima mais nova!
Os barulhos ficaram na sua cabeça por mais de uma semana. Depois esqueceu, naturalmente.
Qualquer que fosse a natureza de Dean, se ele fumava milhares de cigarros, transava jovem demais ou fazia parte de uma gangue só dele... Ryler ainda o amava. Porque a única pessoa no mundo que Dean nunca faria mal era ele.
* * *
Ele sabia que os anos haviam se passado.
A gangue.
Aquelas pessoas que Ryler abominava na época do irmão se transformaram em companheiros de matilha. Dean estaria orgulhoso de mim, imaginou. De mim. Apenas de mim.
Ele sabia que algo estava errado quando chegou ao galpão. Não era o primeiro dia que todos eles paravam de conversar quando o viam, disfarçavam, cada um indo para um lado do galpão e desconversando o que quer que fosse. Ryler sabia que alguma coisa estava estranha e quis descobrir o quê, mesmo que isso lhe custasse caro.
- Vamos lá... conte-me, Jared! - Ryler levou o garoto até um local vazio nas instalações do fundo do galpão, o prendendo contra a parede e encarando seus olhos vesgos. - Você sabe que Norman não vai gostar nada, nada se eu disser que estão tramando algo contra minha vontade.
- Não sei do que está falando! - a voz de Jared era esganiçada, quase um chiado rouco.
- Ora, ora. Não se sabe quem é mais audacioso! Pode ser eu ou você! Por que todos estão combinando algo que não chegou ainda em meus ouvidos? - perguntou Ryler, nervoso. As costas ainda doloridas do acidente e o ferimento na testa ardendo por baixo da gaze.
- Talvez deva perguntar para outra pessoa, Ryler! - ele começava a ficar nervoso, quando uma voz surgiu às costas de Ryler.
Junto a voz vinha um grupo de outras sombras e pernas:
- Tudo bem, Ryler. Jared é um dos nossos! - quando Big Roy disse aquilo, Jared se dirigiu para o grupo atrás dele e de Franklin. - E você também pode ser se quiser! Basta dar alguns passos, Ryler... vamos! Tenho certeza que o fantasma do velho e querido Dean ia ficar feliz com isso! Venha...
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O Amor É Cinza
RomanceJack Field é um jovem de vinte anos que é reservado à família e não pensa duas vezes quando quer ajudá-la em qualquer coisa. O emprego de artista de rua não está rendendo, porém a persistência de que um dia tudo será melhor o torna focado em seus ob...