39.Alfred

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July Beshner entrou na sala carregando um conjunto de folhas documentadas, seu olhar parecia cansado de estudá-las. Todos aqueles números, todas aquelas decisões fatídicas e administrativas... ela realmente estava exausta.

- As ligações do senhor Domus foram direcionadas, senhor Buster. - disse, pondo as folhas sobre a mesa do diretor.

- Já o atendi, Beshner. Tudo bem. - Alfred continuou a digitar algo na planilha. Todo o controle interino da empresa ficava em suas mãos. Bom, pelo menos o núcleo administrativo. Basicamente os retornos funcionais e financeiros da empresa funcionava, como Alfred costumava chamar, de pêndulo magnético. "Duas empresas em negociação, ambas possuindo um grande ímã por lucro, tendem a canalizar a força de retorno para si". Alfred sabia que a B.GLASS tinha grandes sócios, empresas pequenas que confiavam na capacidade de uma empresa grande como a dele para crescer. Porém para Alfred sempre era uma moeda de troca injusta. A B.GLASS faria empresas como DUMANJI e EMPRAIOR crescerem, como fez nos últimos dois anos com a RENESTOW e a GENERAY TRESH, e de retorno teria apenas sócios dispostos a negociar produtos para o exterior ou entre departamentos nacionais com taxa de juros menos elevada que as empresas concorrentes.

- Acho que o senhor deve sim aceitar negociar com Dumas. A DUMANJI é uma excelente aliada, o senhor não terá outra oportunidade de se aliar a uma microempresa tão fiel. - July era o tipo de secretária que não temia dar opinião ao chefe, mesmo que esse fosse Alfred Buster, proprietário e diretor geral da B.GLASS.

Alfred a olhou como quem desconfia de um sócio charlatão.

- Está tudo conversado, Beshner. - ele deu uma olhada na papelada que ela trouxera, desviando um minuto os olhos do computador. - Quanto a esses documentos, seria melhor que Henry resolvesse. Ele está livre esta tarde?

- Provavelmente. - respondeu, cética.

Ela recebeu os papéis de volta, com uma dúzia de rubricas que o chefe tinha dado no canto inferior de cada documento. Antes que chegasse à porta, Alfred estalou os dedos e ela olhou para trás.

- Ele já chegou?

- Oh, não, senhor. - respondeu a secretária, os braços finos pesando com as dezenas de documentos apoiados. - Por enquanto.

- Então... deixe-me avisado quando ele estiver aqui. - a ordem de Alfred fora clara, ele percebia pelo movimento afirmativo da cabeça de July.

- Absolutamente. - ela recuou dois passos para trás, girou a maçaneta e sumiu no corredor.

* * *

Fora a primeira vez após trinta minutos olhando para a planilha, preenchendo dados de fornecedores e datas de entregas, que Alfred Buster recostara as costas na cadeira presidencial e deixava a mente arejar um pouco. O dia estava um pouco quente e o terno não ajudava muito. Ele esperava há mais de quatro horas a visita do filho. Ele ainda não estava se sentindo bem com o episódio vergonhoso do evento de casamento da filha. Todos os convidados... todo o privilégio... todo o retrato de família perfeita que ele tentava mostrar para a sociedade acabou despedaçado. Mas isso não poderia deixá-lo abalado. De forma alguma. O trabalho seria a única forma de se desprender daquele martírio, da mágoa com Emily. No dia em questão tentou uma reaproximação e achou ter obtido sucesso. O que começava a sentir não era mais algo passageiro, era uma sensação de algo que estava impregnado em seu peito. Ódio... pareceu sussurrar-lhe os ventos malditos. Algo encarcerado dentro dele o fazia querer tomar atitudes sórdidas, não pensadas...

Antes que desistisse, alguém bateu à porta e com a autorização de Alfred Buster, July apareceu trazendo um rapaz de jaqueta de couro e o cabelo loiro-dourado. Alfred se ergueu da cadeira e deu sinal para que July se retirasse, em seguida ofereceu a cadeira a frente para melhor conforto de Norman.

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