Ela estava perdida, desolada, com a luz da lua a abraçá-la e o raio de sol a confortá-la.
Antes, mais uma vez. O espelho mostrava uma Emily consumida de tristeza, suas pálpebras perdiam as forças de terem um olhar firme, o reflexo não passava de uma caricatura de outro ser naquele vestido.
O vestido de noiva estava um pouco apertado na lateral e era muito longo, mas quem ligaria? Emily, em provável caso, não fez qualquer diferença. A estilista tinha entrado um minuto atrás para encaixar o véu, pôr os grampos e deixá-lo alinhado, arrumou o coque no cabelo de Emily e passou mais uma vez a linha por um ou dois centímetros no tecido perolado. "Deslumbrante, querida. Seu marido a achará encantadora!", disse a estilista antes de cruzar a porta e deixar Emily a sós com sua imagem refletida no espelho grande.
Não há mais tempo. Não tenho como voltar atrás. É tarde... meu sofrimento... como arde em meu coração. Jack...
Era realmente uma bela criatura banhada de delicadeza. As pérolas brilhantes, as lantejoulas em prata e o véu levemente translúcido complementava uma noiva perfeita.
Seguiu escada abaixo, os corredores estavam vazios demais. A sala estava mais vazia, pareceu a Emily, após o ataque de Norman. Ivy passara todo o dia anterior tentando se recuperar, Carlton retornara para casa e Emily não via mais a mãe desde aquela manhã, quando apareceu com um sorriso simpático à porta do quarto, trazendo consigo duas mulheres com lenços azuis na cabeça que ajudariam Emily nas roupas e maquiagem. E agora o ambiente aerado da mansão dos Buster era uma bolha de silêncio. Emily desceu as escadas e encarou cada detalhe da sala de estar.
Encontrou o piano, dando impressão de estar tão solitário quanto ela. Sentou-se no banco deixando uma cauda enorme do vestido deslizar atrás. Seus dedos pousaram sobre cinco teclas, e cada uma, lentamente tomou destaque na melodia. A canção tocada tinha a suavidade de uma pluma de sonho. Ela não sabia mais quanto tempo ficara ali. Meia hora, provavelmente? Em nenhum momento ninguém atravessou a porta da sala para tirá-la do mergulho melodioso da canção. Quando concluiu e finalmente pôde esticar os dedos, contente com seu desempenho, se sentindo um pouco mais feliz, consigo mesma e não com a situação, ela ouviu aplausos.
- Brilhante! - disse uma mulher com um vestido verde e uma echarpe cor de vinho.
- Eu sei disso. Sei do que minha menina é capaz! - complementou uma senhora belamente vestida e elegante.
Emily virou-se e se deparou com duas figuras que ela pôde distribuir um abraço filial.
- Oh, vocês vieram... - Emily estava muito contente pela vinda de Jeyne e Lea.
- Logicamente. Você nos convidou! Estamos aqui! - falou Jeyne, com seu sempre toque gentil na voz, carinhosamente alisando a bochecha de Emily. - E saiba que eu adorei conhecer Lea.
Lea McMory sorriu com sutileza, fazendo Emily lembrar que ela também tinha sido fundamental para que pudesse tocar como tocara um minuto atrás.
- Sim, conheci Jeyne no jardim, há pouco. Conversamos bastante e me contentei em saber que ela compactua com muitas coisas de que gosto. Sem contar que frequentamos a mesma Academia de música! - ela encarou Jeyne com um olhar sorridente.
- Oh, sim, claro! Isso mesmo! A Lavern Novat. Por mais que eu tenha frequentado no início, com recursos escassos... Lea tomou a melhor fase da Lavern, tenho conhecimento de que fizeram doze salas novas para aulas de piano integral. É ótimo! - após dizer aquilo, Jeyne olhou o olhar tristonho de Emily, que tentou por tudo disfarçar, não preocupá-las. - Oh, minha querida, eu sei o que está passando.
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O Amor É Cinza
RomanceJack Field é um jovem de vinte anos que é reservado à família e não pensa duas vezes quando quer ajudá-la em qualquer coisa. O emprego de artista de rua não está rendendo, porém a persistência de que um dia tudo será melhor o torna focado em seus ob...