"Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês', diz o Senhor, 'planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro." (Jeremias 29:11)
A mulher andou pela calçada lembrando dos minutos que antecederam sua apresentação no bar. Sua acompanhante a seguiu pela rua pedregosa até o outro lado, contente por ter acontecido tudo aquilo numa só noite.
- Meus alunos vão adorar - disse Lea, os cabelos soprados pelo vento que vinha a norte. - Espero que me apoiem na minha decisão.
- Oh, sim, claro que vão apoiá-la, não há dúvidas. Eu que estou muito velha para conseguir uma dessas oportunidades. - respondeu Jeyne, os passos vagarosos ao acompanhar a velha amiga.
Já moravam há muitos anos em Portugal. Jeyne tinha abandonado a antiga casa para se estabelecer em uma bela moradia numa cidadezinha do país, junto a Lea McMory. Seus setenta e oito anos pesavam em suas costas e sua cabeça, ela lamentava estar esquecendo algumas notas, algumas canções que um dia ousou escrever, porém todas elas Lea aprendera a tocar com perfeição e isso para Jeyne bastava. Ouvi-las já trazia uma sensação de paz em seu coração que sempre esperou que tocasse o coração do mundo.
Lea faria uma turnê pelo país com concertos. Andrew Pudover a convidara três anos atrás para fazer parte da academia de músicas da cidade, então ela aceitara. Tinha envelhecido tantos anos... tinha trinta e cinco quando chegou a Portugal, e agora aos quarenta e oito procurava enxergar a vida com muito mais seriedade que um dia ousou enxergar. Era agora professora da academia para crianças. Sentiria falta de todas elas na turnê.
Alguns dias atrás pensava juntamente com Jeyne em Emily. De quando retornaram à Carolina do Norte para confortar pela perda do pai e do irmão. O velório tinha um ar pesado, os corpos ali à frente, os caixões lacrados. Mas o que mais pesava era ter visto Jack no hospital, em coma, lutando pela vida cada instante.
Aquela noite Lea e Jeyne ajoelharam-se e rezaram. Uma prece longa e renovadora.
* * *
A placa caída ao chão mostrava que uma nova se erguia no local.
Terency deu uma boa olhada, estava excelente. A oficina ganhara uma nova placa, mas ele não sabia o quanto duraria para que o velho amigo a visse.
Há anos se sentia pesaroso. Toda semana visitava Jack Field no hospital na cidade e conversava longos minutos com ele. Tudo isso só o aproximou de uma pessoa em especial: Clarice.
A irmã de Jack normalmente chegava no mesmo horário que Terency Milton, talvez fosse coincidência, talvez não. Quando o costume de estarem juntos em visitas se tornou quase uma obsessão por se verem, Terency sabia que de alguma forma Jack estava influenciando.
Ele e Clarice estavam juntos há cinco anos. "Espero que não se incomode, meu amigo." pensou, quando deu o primeiro beijo em Clarice dentro do quarto de hospital.
- Tem certeza de que quer ir hoje? - perguntou Terency, tocando-a no abdome. - Pode fazer mal ao bebê.
- Tery, claro que não. Eu posso. Até porque, desde que engravidei não me apresentei mais. Hoje será o primeiro dia do meu sobrinho, e quero não só presenciar isso, como participar também. Jack com certeza estaria orgulhoso se o visse lá. - explicou Clarice, massageando a barriga de seis meses.
Terency apenas ficou ali, admirando-a e imaginando o quão linda estaria de estátua-viva grávida.
* * *
Ivy Buster lembrou com pesar do passado.
Como pude ser tão tola? Como pude ser essa... mulher?
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O Amor É Cinza
RomanceJack Field é um jovem de vinte anos que é reservado à família e não pensa duas vezes quando quer ajudá-la em qualquer coisa. O emprego de artista de rua não está rendendo, porém a persistência de que um dia tudo será melhor o torna focado em seus ob...