Brandon tinha sido bastante gentil em oferecer o teto para eles.
Jack se sentiu renovado na nova casa, tudo parecia caminhar para um processo de paz e quietude que ele quase nunca podia sentir.
Naquela manhã Emily pareceu-lhe mais acuada, quieta e bastante pensativa. Seus olhos percorriam os cantos da sala de estar, num relaxamento contínuo. Jack se aproximou, e viu quando ela notou sua presença e recuou um pouco.
- O que houve? - a sua preocupação era realmente intensa. - Aconteceu alguma coisa?
O silêncio de Emily era perturbador e aquilo instigava Jack de uma maneira confusa. Ele nunca a tinha visto daquela forma, nem mesmo quando sabia que ela tinha passado por um momento de dor. A felicidade em minhas mãos foge como um pássaro recém-saído da gaiola. Ele estudou mais um pouco o comportamento dela, sem invadir seu espaço. Não sabia o que estava acontecendo. Quando dormira ela ainda não tinha deitado, quando acordou ela não mais estava na cama. O problema seria ele? Tentou enxergar o que mais seria, porém não encontrou o que poderia ser. A morte de Roliço a tinha causado uma tristeza sem precedentes, a tomara de uma maneira irreversível, dolorosamente desapontadora, mas Jack achou que não fosse isso. Com certeza não era isso.
- Eu só quero estar com você. - então ela soltara essas palavras. Jack se sentiu totalmente surpreso com aquilo.
As palavras voaram para longe, sem precisão no momento. Tudo que ele tinha a fazer era retribuir ao pedido dela. Aconchegou-se na poltrona com ela, passando o braço pelo pescoço de Emily, enquanto a jovem recostava a cabeça em deu ombro.
- Vai ficar tudo bem. - as palavras dele voltaram. - Não se preocupe, Emily. Eu estou aqui e nada de mal lhe acontecerá.
Seus olhinhos marejados subiram aos dele e ela sussurrou:
- Não sei se estamos seguros aqui.
Aquela afirmação torturou Jack. O que ela queria dizer com aquilo, exatamente? Tentou ler sua expressão e cada movimento corporal que ela fazia, mas tudo era um misto de comportamento que o confundiu.
- Por que está dizendo isso?
- Não sei. Apenas... acho que não podemos mais ficar aqui.
Tinha algo mais. Ele queria saber o quê:
- Emily, você não pode olhar nos meus olhos e não dizer todas as suas inseguranças. Escute... eu quero saber o que a perturba, o que a aflige! Diga-me. - ele encarava o mel na cor de seus olhos, emitindo um brilho ímpar, naturalmente esplêndido.
Mais silêncio.
- Eu quero ajudá-la, mas não posso fazer isso se não me falar o que está acontecendo!
- Norman... - seu semblante era pálido, seus olhos saltaram e Emily endireitou-se na poltrona para olhar Jack firmemente. - Ele estava aqui ontem. Eu o vi, o vi, o vi... ele quer nos matar, Jack! Matá-lo! Eu não vou deixar que isso aconteça!
Aquela era uma informação que tomara Jack de surpresa. Parte dele acreditava plenamente nela, outra parte duvidava e ele não entendia o motivo. Talvez fosse pelo trauma que Emily havia sofrido envolvendo o irmão. Duas mortes. Não era fácil esquecer tudo isso de maneira rápida e fácil. Jack entendia que ela tinha motivos para estar tão assustada, recuada e paranoica... ele não queria acreditar, mas seria tudo aquilo imaginação dela ou Norman realmente estava perturbando-a novamente?
- Espere... Norman?
- Sim, sim! Ele esteve aqui Jack! Ontem! Eu o vi, lá embaixo, entre os arbustos que rondam a árvore de Brandon no gramado. Como ele nos achou? Deus, como? Ele não parecia mais meu irmão, era como se... como se tivesse o mal tomando seus olhos definitivamente. Eu não só via o olhar dele em mim, mas também sentia. Eu sentia, sim, eu sentia. Me provocava calafrios, era como se meu sangue congelasse nas minhas veias... eu sentia que não tinha mais saída... não tinha!
Jack a abraçou, notando que ela não tinha dormido durante a noite. Por isso que o lado da cama pareceu tão arrumado. Emily passara a madrugada acordada, com medo e Jack não estava lá para protegê-la, dizer que tudo ia ficar bem. Aquilo o magoou de um jeito que não teve como se desviar da culpa.
- Tem certeza que era ele, Emily? - perguntou, querendo tomar certeza.
- Sim... não... não sei! - ela levou as mãos à cabeça e encarou o chão, chorando. - Tenho certeza que era, mas ao mesmo tempo que não! Não parecia ele, Jack... estava tão diferente, parecia um ser maligno dentro dele. Me olhava... nunca esquecerei como me olhou. E de repente... não estava mais lá. Sumiu na escuridão, com as sombras, com tudo...
- Bom dia! - assoviando, Brandon surgiu pela cozinha. Rapidamente notou o olhar suplicante de Jack para ele e Emily na poltrona, em lágrimas. - O que está acontecendo?
- Emily acha ter visto Norman ontem à noite. - explicou para Brandon.
- Oh, céus... isso é verdade? - Brandon se ajoelhava diante dela, confrontando-a com o olhar.
- Ela acha que sim. - respondeu Jack por ela.
As olheiras de Emily demonstravam a falta de sono. As bolsas abaixo dos olhos adquiriam um tom escuro, quase um roxo. A retina avermelhada e irrequieta.
- Tudo bem se acharem que não estão seguros aqui. - disse Brandon. - Se querem que eu os leve a algum lugar mais seguro...
- Não. Não, tudo bem. - Emily se acalmou. - Não quero que você se envolva ainda mais, Brand. Norman pode levar isso como uma afronta e querer algo contra você! E eu não responderia por mim se isso acontecesse!
- Ela tem razão. - concordou Jack, levantando da poltrona e se mantendo de pé ao lado da lareira, com algumas toras no seu interior. - Se Norman realmente está nos perseguindo, não adianta fugirmos. Não sabemos se tem mais da trupe dele nos nossos calcanhares, nos vigiando.
- Oh, aquele garoto... - Brandon estava bravo, bateu com o punho na mesa de madeira com os porta-retratos. - Eu o vi crescer! O vi brincar e ser criança! Vi todas as etapas de sua vida e o que acontece? A vida o torna um assassino! Quando eu pensaria nisso? Não sei de onde vieram as influências...
A natureza do ser humano está escrita. É imutável seu destino. Norman e Emily conviveram juntos, contanto são totalmente diferente um do outro. O que responderia aquilo? A natureza...
* * *
No fim da tarde quando finalmente Jack pôde ver Emily bem, descansada após dormir oito horas seguidas e se alimentar, tentou reservar um tempo para fazer uma ligação. Brandon o deixara a vontade para fazer o que quisesse.
- Espero que retorne o quanto antes, Jack! Por que o noivo não quer comer! Ele vai morrer e a culpa não vai ser minha! - as palavras de Terency foram diretas, sem rodeios.
- Quero que espere apenas mais alguns dias, Tery. Estarei de volta, não se preocupe. Cuidarei dele assim que retornar. De qualquer forma não haverá mais casamento! O problema agora é que ele fique de boca fechada em relação a nós. - explicou Jack, contando com a colaboração do mecânico.
- Oh, Jack... precisa ver como a magreza o tomou! - ele mexeu em algumas peças na caixa de ferramentas e se despediu: - Adeus!
Jack levou o telefone ao gancho e pensou sobre o assunto. Ele tinha que voltar o quanto antes. William Lambert não era um problema de Terency, mas um problema dele. Não seria tão insensível a ponto de relaxar sabendo que uma pessoa está em cárcere privado por sua causa. Nem mesmo sendo William Lambert!
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O Amor É Cinza
RomanceJack Field é um jovem de vinte anos que é reservado à família e não pensa duas vezes quando quer ajudá-la em qualquer coisa. O emprego de artista de rua não está rendendo, porém a persistência de que um dia tudo será melhor o torna focado em seus ob...