Desde que chegaram a Anchester, o clima pareceu ameno. O calor havia baixado consideravelmente, e o frio ruidosamente os atingia em parte na noite, onde a escuridão parecia se fechar ao redor deles como uma grande mão sombria.
Jack não poderia mentir para si mesmo. Estava inseguro. Ele tivera a ideia de resgatar Emily da mansão, idealizara o plano e tivera coragem suficiente para tirá-la da cidade. Mas nada tirava uma certa ponta de insegurança de seu peito. Uma vez sua mãe lhe falara que o amor espera a coragem persistir em busca dele. Tinha convicção de que o que estava fazendo era um risco, mas tinha que insistir no que acreditava. E aquele momento, o que estava vivendo, era o que acreditava. Isso bastava.
Ele acordou pela manhã, deixando Emily dormindo, tranquilamente, na cama. Confortável com o colchão macio. Pelo menos podemos dormir bem, pensou. Ele tinha se perguntado várias vezes o que Emily pensava quando pediu a Brandon para comprar um piano. O espaço no pequeno quarto do hotel em que estavam era impossível que coubesse de forma aprazível o piano no cômodo. Será que ela sentia falta da música? Sinceramente, acho que não. O que será, então?
No conforto do hall, servindo-se de biscoitos e leite, Jack arrumou um jeito de espairecer. Saiu do hotel e deu uma volta no parque. Não ficava muito distante dali. O local tinha uma fonte que despejava água em uma circunferência de cinco metros a partir de uma bela estátua de pássaro. Era realmente uma bela escultura. O fino brilho surgia no bico do que parecia um pardal gigante, numa cascata que jorrava abaixo, encontrando-se com as ondulações formadas na bacia de água da fonte. Ele pousou a mão na cascata e levou ao rosto. Sentiu o limpar de sua alma naquele momento. A água o ajudava a manter o controle de si mesmo. De relance, olhou de um lado a outro, receoso.
Não enlouqueça, Jack. Não há ninguém por perto! Ninguém!
Se distanciou da fonte, retornando para o hotel a tempo de levar um café da manhã bem caprichado para Emily.
Enquanto ela despertava, ele tinha a certeza de que não tinha sensação mais prazerosa. O grandes fios loiros pendurados de leve para fora da cama, os olhos tentando manter conexão com a fraca luz do ambiente, vinda de uma breve abertura na janela. Jack sentou-se perto dela, a bandeja nas mãos carregada de frutas, pão fresco e suco.
- Bom dia! - pousando a bandeja de lado, levou a mão aos cabelos dela e acariciou. - Espero que tenha passado uma noite agradável, senhorita.
Emily respondeu com uma risadinha acanhada, sentando-se logo em seguida para se prender na refeição matinal a sua frente.
- Não precisava se incomodar.
- Nenhum incômodo. Até que eu gostei de fazer isso, então vá acostumando-se a ver isso todos os dias! - ele ficou parado, percebendo que ela se aproximava o rosto do dele, os lábios dos dele, então o beijou delicadamente.
- Obrigada. - sua voz saiu sussurrante frente ao rosto dele.
- Encare isso como o meu pedido de obrigado. - e deixando que ela aproveitasse a refeição, ele se retirou para a sala.
* * *
Pela primeira vez desde que chegara pensou em ligar para casa. A imensa questão pairava sobre sua cabeça numa irritante nuvem de indecisão.
Meus pais... eles não merecem ficarem preocupados.
Usou o telefone do quarto para discar. A primeira voz que ouviu após quatro toques, foi de Clarice:
- Espero que você tenha uma boa explicação!
- Tudo bem! - categoricamente ele explicou tudo a ela e naturalmente, como imaginou, ela repugnou a ação. A ideia de longe foi tratada por ela como ridiculamente perigosa.
- Então trate de retornar agora mesmo, Jack! Papai e mamãe estão no Grand Mary no momento e quando retornarem a primeira coisa que farei será dizê-los a verdade! Não sabe o quão preocupados estão! Então, por favor, Jack... - ela realmente estava nervosa do outro lado da linha e ele entendia muito bem sua posição.
- Clare, Clare... só preciso que confie em mim! Eu estou bem e Emily também está! Precisávamos desse tempo sozinhos!
- Para quê? - perguntou Clarice. - Para provar o quê e para quem? Só está se arriscando com aquela família e sabe disso! Ou pretende nunca mais entregar Emily para eles novamente? Talvez você não saiba ou não lembre... mas ela é filha deles! Naturalmente já estão pondo Deus-sabe-quem a procura!
- Confie em mim... - foi tudo o que Jack disse antes de desligar.
Ele não estava arrependido após aquela ligação. O mais importante era que a sua família soubesse que estava bem. Não tinha dado a localização de onde estava, e isso, caso fosse dito, teria causado um arrependimento extremo a ele.
- Ela só está preocupada. - Emily se aproximou, vindo do quarto e sentando-se ao lado dele, de camiseta e peças íntimas por baixo. - Diferente da minha que só quer me arrastar de volta para realizar desejos caprichosos deles!
- Talvez comecemos uma vida nova... - disse Jack, sentindo novamente o sabor dos lábios dela. - E se não arriscarmos talvez nunca ficaremos juntos. Sei que é o certo e não me arrependo!
- É exatamente isso que eu lhe diria se não roubasse minhas palavras! - ele recostou-o no sofá, sentindo seu corpo debruçado no dele.
Jack a tomou nos braços de forma que as pernas de Emily se enroscassem em sua cintura. Ele subiu a mão pelo dorso dela, apertando de leve, sentindo os cabelos loiros impregnarem sua mão com um delicioso aroma de avelã. Sentia ainda mais profusamente seus lábios nos dela, os estalos dos beijos se misturarem ao movimento delicado que faziam. E diante de tudo o que sentia o tirou da realidade. O que mais esconder de si mesmo? O que o faria desistir do que o fazia feliz? Ali, naquele exato momento, ele exalava satisfação e um felicidade plena. O que seria maior do que o que sentiam um pelo outro? Qualquer que fosse o rancor que invadisse seus sentimentos, não poderiam atingi-los.
Ele arrancou a camiseta do corpo de Emily, enquanto ela fazia o mesmo com a jaqueta que ele usava. Logo estavam limpos, pele a pele, paixão a fluir entre dois corpos conectados. Ele a pousou sobre as teclas do piano, a beijando por todo o pescoço, descendo pelos ombros nus. Ela sentiu um arrepio trespassar-lhe o interior, seus dedos apertaram as teclas e um som instaurou-se no ambiente. O som espiralava nas cordas no interior do piano e um riso dela o tomou de surpresa, que juntou-se ao momento.
Pela primeira vez na vida nunca teve tanta certeza do que queria. Do começo ao fim. Não se arrependeu nenhum momento de nada.
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O Amor É Cinza
RomanceJack Field é um jovem de vinte anos que é reservado à família e não pensa duas vezes quando quer ajudá-la em qualquer coisa. O emprego de artista de rua não está rendendo, porém a persistência de que um dia tudo será melhor o torna focado em seus ob...