– Acha que conseguiremos uma promoção depois de hoje?
– Ôche.
– Mas fizemos parte da guarda do Prefeito, isso deve contar alguma coisa. Não estou certo, maninho?
– Ôche.
– É, como sempre você está com a razão. Até porque só guardamos o camarim do Prefeito, não fizemos sua escolta. Mesmo assim nossas capacidades militares deveriam ser melhor aproveitadas, talvez em uma base armamentista... ou quem sabe na patrulha da Prefeitura... Não estou dizendo que eu, Chiwocha, seja melhor que os outros Soldados, mas... você me entende, não é, Chiwanda?
– Ôche.
O grande comício seguiu agitado noite afora. Os leões quase nunca viam festas como aquela, de modo que aproveitavam ao máximo, tomando bebidas quentes e comendo churrasco. Porém os dois Soldados que conversavam na frente da tenda amarela não estavam nem um pouco animados. Mais cedo, quando Tukufu deixou seu camarim para ir discursar, seus guardas o acompanharam, todos menos os irmãos Chiwocha e Chiwanda, dois leões de juba acobreada e olhos castanho-escuros. Eles dividiam uma ponta de cigarro enquanto o mais velho e menor ralhava sobre o trabalho:
– A gente devia falar com o Prefeito – Chiwocha prosseguiu com suas reclamações, passando o cigarro para o irmão. – Somos Soldados capacitados, e eu tenho as patas mais mortais da Cidade dos Leões! Eu devia estar liderando no lugar do General Balogun!
O mais novo e maior dos leões puxou a fumaça do rolinho branco, encheu o peito e a soltou bem devagar, saboreando o tabaco.
– Ôche – Chiwanda disse, devolvendo o cigarro.
– Você também tirou boas notas na Academia, e olha onde nós estamos! Guardando uma tenda vazia, enquanto Soldados inferiores escoltam o Prefeito de volta ao Gabinete. Temos que reagir de alguma forma! Temos que mostrar nosso valor para o bando! Temos... – o leão mais velho colocou o cigarro na boca, aspirou o tabaco queimado e soltou uma baforada espessa e ansiosa – Temos que montar nosso próprio negócio!
– Ôche – o mais novo e maior ergueu os olhos, admirando as estrelas no céu noturno sem ligar muito para a conversa.
– Algo no qual possamos nos destacar, talvez... um negócio de carregar caixas! Ou uma loja de empacotadores de compras... Ou um mercado de lixeiros... Coisas com as quais tenhamos experiência. O que sugere?
– Dentes-de-leão!
Um terceiro leão se aproximou, assustando os Soldados distraídos. O irmão mais velho soltou um grito, achando que se tratava do General, enquanto que o mais novo já estava batendo continência.
– Que porcaria é essa? Eu quase te furei com minha lança, seu doido! – Chiwocha mentiu: nem ao menos carregava uma lança.
– Queira me desculpar, Soldado – o leão desconhecido empurrava um carrinho, no qual havia uma grande caixa cheia de flores amarelas –, mas o Prefeito encomendou essa caixa de dentes-de-leão, e eu...
– Opa, opa, opa! Não estou sabendo de encomenda nenhuma! – o irmão mais velho olhou desconfiado para aquela quantidade absurda de flores. – Além disso, não temos dinheiro para pagar por essa porcaria!
– Não se preocupe, senhor – o entregador se fez de desentendido, passando pelos dois Soldados. Ele entrou na tenda amarela sem formalidades, descarregando a pesada caixa antes que fosse impedido. – As flores já estão pagas, só me pediram para entregá-las aqui. Tenham um bom dia.
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O Banco dos Leões
AdventureUM CAPÍTULO NOVO TODOS OS SÁBADOS! ^^ - Há muitos anos, o General do exército leonino, Tukufu, roubou a chave do banco da Cidade dos Cervos, que hoje sofre com uma grande crise econômica. Nos dias atuais, os cervos convivem c...