A multidão vibrou, esbanjando aplausos e rugidos para o leão-mor que avançava pelo palco acompanhado por seis Soldados. Enquanto o Prefeito acenava e agradecia ao público, dois dos leões uniformizados avançaram para o púlpito, verificando se estava seguro. Abbo ficou feliz por não ter se escondido ali, mas ainda tinha que agir: aproveitaria o furor do bando de leões para se aproximar do palco, contorná-lo e tentar subir sem ser vista. Quando enfim reuniu coragem para tanto, o leão encardido a envolveu com o braço, impedindo que saísse:
– Eu já disse, me obedeça e talvez tenhamos uma chance.
– Não vou ficar parada! Tukufu vai embora, e levará a chave com ele!
– Também vai levar vinte quilos de carne de cervo se você tentar se aproximar sem permissão! – Asani a puxou para seu peito, prendendo-a para que não fugisse.
O leão se aproximou do púlpito, o qual não cobria completamente sua enorme pança. Ajeitou seus oclinhos e começou a falar.
– Queridos membros de nosso amado bando – Sua voz vinha de todos os lados, amplificada pelas caixas negras e ganhando a potência de um deslizamento de rochas. – Dou-lhes as boas vindas ao Grande Comício da Cidade dos Leões! Hoje é um dia de festa e alegria, o qual vocês mereceram! Vocês, que têm trabalhado arduamente para nossa cidade prosperar. Vocês são o sangue fervente nas veias do bando!
Leões empolgados rugiam aqui e ali, capturados pela retórica do Prefeito.
– Embora me parta o coração ter que tocar no assunto, há um mal assombrando nossos dias dourados. E esse mal tem nome: desunião. Há muitos anos, fomos governados por um tirano egoísta. Um leão destoante ao bando cujos atos eram em benefício próprio. Na época, nossa cidade era fraca, e as taxas de desemprego batiam recordes... – Obviamente Tukufu falava do pai de Asani. A corça podia sentir o coração do leão encardido acelerar durante o discurso do Prefeito. – Os mais velhos podem se lembrar do grande golpe que foi quando, de súbito, descobrimos que a verba para compra de carne foi desperdiçada, e que o produto da transação entre cidades foi roubado pelo nosso antigo líder – Tukufu cuspia as palavras como setas que atingiam o emocional do público. Visivelmente os leões se comoviam com aquela história, embora Abbo não entendesse o porquê. – Depois de muita luta e muito suor conseguimos nos reerguer, e somos hoje a mais poderosa das cidades, em tecnologia, poderio militar e produto interno!
Novamente a ovação interrompeu o discurso do Prefeito. Asani roçava os dentes, irritado, imaginando onde seu padrinho queria chegar.
– A soberania dos leões é o nosso maior orgulho. Mas precisamos aumentar nosso espírito de equipe, tornar-nos um com o bando! Por isso a Lei do Bando Forte será modificada a partir de agora.
– Aí está – Asani falou para si próprio. – Era questão de tempo.
– Para quê? – Abbo perguntou, mas foi o Prefeito quem respondeu, logo em seguida.
– A carga horária de trabalho padrão mudará, de 60 para 90 horas semanais. Além disso, quem ficar mais do que três dias desempregado sofrerá uma punição devida. Não aceitaremos aproveitadores em nosso meio! Faremos o possível pelo bem, orgulho e soberania do bando dos leões!
A plateia aplaudiu a decisão de seu líder, embora já não houvesse urros de concordância. Abbo viu alguns rostos decepcionados na multidão, mas até os leões mais abatidos pareciam aceitar a situação, talvez por falta de opção.
– Sei que o fruto dessa lapidação será um bando mais forte, unido e dedicado – Tukufu continuou, abrindo os braços como se abraçasse toda a cidade. – E em comemoração a esse recomeço...
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O Banco dos Leões
AdventureUM CAPÍTULO NOVO TODOS OS SÁBADOS! ^^ - Há muitos anos, o General do exército leonino, Tukufu, roubou a chave do banco da Cidade dos Cervos, que hoje sofre com uma grande crise econômica. Nos dias atuais, os cervos convivem c...