A Fábrica de Sabão

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A Estação Acém estava lotada como sempre. Abbo trotava pelas plataformas, tentando reconhecer o cartaz que ocultava a passagem para casa. Era o dia da visita à Fábrica de Sabão, e a corça precisava desaparecer do mapa antes do fim da tarde, quando o Prefeito planejava abrir o Banco dos Leões. Toda a cidade estava animada em finalmente conhecer o temível lugar, e os afazeres da jovem adiaram sua fuga até o último instante. Felizmente tivera tempo de deixar Ghofiri com Asani, que tinha instruções de fugir com o filhote para longe. Não sei se poderei cumprir a promessa de encontrar a mãe do leãozinho, mas talvez os dois possam levar a vida em algum lugar, longe do Centro... O dinheiro que deixei com Asani deve durar alguns dias, e depois disso... Bom, ele sabe se virar... Espero.

– Aposto meus bigodes que Tukufu cairá ante a revolta popular – o ratinho cinza cochichava sob a pelagem da cabeça da corça. – E já que estamos com a chave verdadeira, os cervos estarão longe do alcance dos revoltosos.

– Mas ainda passarão fome – a jovem apontou. – Isso é uma solução de curto prazo, ainda preciso pensar em como alimentar todos.

– Você se cobra demais, senhorita. É muito para uma corça só.

– Eu sei, mas farei o que puder – De repente eles deram de cara com o grande cartaz, com a silhueta do leão devorador de ratos. – Vou pensar nisso quando a chave estiver segura.

– Quando o que estiver segura? – alguém disse atrás deles.

A jovem podia jurar que aquele rosnado pertencia ao Prefeito Tukufu, porem quando ela se virou não reconheceu as feições por trás daqueles óculos escuros, nem por baixo da boina preta.

– Q-quem é você?

– Não sabe quem eu sou? – o leão moveu seu corpo musculoso na direção de Abbo, balançando lentamente sua cauda. – Não o culpo. Embora tenhamos nos esbarrado no Departamento de Registros, não fomos devidamente apresentados – ele esticou uma pata grande e maciça para apertar os frágeis cascos da corça-leão. – Prazer, sou Balogun.

Abbo já ouvira falar no General do Exército Leonino. O próprio Prefeito soltou uma ou duas palavras acerca dele. Não era um bom sinal encontrá-lo naquele lugar.

– O prazer é todo meu. Sou Abbo, Assistente do Pref...

– Sei quem você é, leãozinho – o General interrompeu. A jovem tentou se livrar do aperto de pata dele, mas o leão a prendia firmemente. – O que está fazendo aqui? Não devia estar com Tukufu na Fábrica de Sabão?

– Sim... Digo, não. Na verdade... estou indo para lá agora.

– Verdade? Porque o trem desta estação não passa lá. Por outro lado – Balogun a puxou pelo braço, não lhe dando opção –, estou indo para lá agora mesmo. Será uma boa oportunidade de... nos conhecermos melhor.

Ruffles observava tudo em silêncio. Por um minuto ele pôde jurar que o focinho molhado do militar o farejara, porém o General continuou arrastando a corça até chegarem em uma limusine preta.

– Designei uma equipe para fazer a segurança do evento – O leão disse, enquanto sequiam seu destino. – Alguns leões de elite, Farejadores... O de sempre. Porém algo me deixou bastante chateado.

– Senhor?

– Esse batalhão era liderado por um grande Soldado, tão competente que eu o promovi a Sargento, porém ele não apareceu. Deve conhecê-lo, era seu Assessor temporário, Imara.

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