Invasão ao quartel leonino

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– Tio Imara! Tá muito quente aqui... e tá escuro também!

– Silêncio, idiota! Mochilas não falam!

O Quartel do exército leonino era o lugar mais seguro da Cidade dos Leões. Apenas militares e o Prefeito tinham acesso às suas instalações, e havia vários níveis de segurança para impedir que intrusos vissem o que não deveriam. Ciente disso, Imara pensou em várias formas de passar com o filhote sem levantar suspeitas, desde picar Ghofiri em pedacinhos e embrulhar com papel alumínio... até besuntar ele com óleo e dar descarga, rezando para que saísse no banheiro do Quartel. Obviamente, se fizesse algo assim, Abbo contaria para Balogun que ele era vegetariano, destruindo sua carreira militar.

Após pensar bastante, a solução mais óbvia parecia a mais segura: Imara simplesmente enfiou o filhote na sua mochila, enrolado em uma farda suja, torcendo para que ninguém pedisse para inspecionar suas coisas. O plano funcionara: eles já haviam cruzado a cancela de entrada e passado por alguns corredores adjacentes aos alojamentos... mas daí o leãozinho começou a reclamar:

– Me deixa sair... me deixa sair...

– Eu mandei você calar a boca! Se você sair vão te matar, se te matarem Abbo me entrega, e se Abbo me entregar eu perco o emprego... E se eu perder o emprego, eu te mato!

As forjas de armas ficavam dois andares abaixo do solo, protegidas por um sistema eletrônico de identificação e um Farejador de primeira categoria. "Farejadores são leões cujo olfato pode detectar um rato a cem metros de distância, por isso você precisa ficar na mochila de roupa suja, idiota", foi como Imara convenceu Ghofiri a se enrolar na farda fedorenta, antes de saírem do quarto de Abbo na Prefeitura. "Não sei onde sua babá passou a noite, mas não quero dar brecha para aquele leãozinho do interior arranhar minha reputação, então vamos fazer um acordo dessa vez, de seguir com o plano".

No caminho até os elevadores, alguns leões cumprimentaram o futuro Sargento, que parou várias vezes para bater continência e trocar algumas palavras com seus parceiros de farda:

– Parabéns, meu velho! Finalmente você chegou ao cargo que merece!

– Podemos ficar mais tranquilos quanto a ameaça polar, agora que temos Balogun e você no comando!

– Minhas congratulações, senhor. É bom ter alguém assim no comando: um leão perfeito!

Ghofiri estava aborrecido com aquelas pausas, e de vez em quando chutava as costelas de Imara, mandando que se apressasse. O leão fazia caretas silenciosas por conta da dor. Constrangidos e sem saber o que fazia Imara se revirar tanto, os soldados com quem conversava saíram discretamente, cochichando entre si. Depois de um golpe violento nas costas, o leão largou sua mochila, deixando o filhote cair de bunda no chão.

– Agora escute aqui, idiota – o leão disse para sua mochila inquieta –, falta apenas um lance de escadas para chegarmos ao Arsenal e tem um leão muito malvado no caminho. Ou você fica quieto, ou ele vai te descobrir e te fazer em picadinho, ouviu bem?

– Você não manda em mim, quero voltar para o tio Abbo!

Tio Abbo não liga para você, ele nem dormiu no quarto, essa noite. Agora feche o bico e se comporte... idiota!

– Ele liga sim! Ele prometeu encontrar minha mãe, e quando ele encontrar...

Imara deu um croque na cabeça do leãozinho através da mochila, silenciando-o. Dois Soldados se aproximavam, um baixinho e outro grandalhão, discutindo entre si:

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