O leão perfeito

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Imara agarrou Ghofiri pela pata e saiu em disparada. Chiwocha só foi entender o que estava acontecendo quando o leão de boina vermelha já passara pela porta de vidro, fugindo pelos corredores do Quartel:

– E-ele estava roubando! – o leão gritou para seu irmão abobalhado. – O Sargento estava roubando armas do exército! Nossa tecnologia!

– Ôche? – Chiwanda estendeu sua pistola para o irmão.

– Não, não é essa arma... Guarda logo isso e vem comigo! É a nossa chance de mostrar do que somos capazes!

Imara conhecia a saída mais próxima, porém o caminho até lá era muito movimentado, de modo que arrastou o filhote por uma série de portas, indo para um dos alojamentos. Só havia um leão naquele quarto: ele estava costurando sua cueca camuflada quando viu o futuro Sargento entrar.

– Boa tarde, senhor, eu... Ué, qual é a desse carinha com o senhor, Sargento?

– Fica na sua, idiota! E não conte para ninguém que me viu, ou te jogo na água fria! – o leão de boina vermelha rugiu. Eles correram até o fim do quarto, onde havia um duto de ventilação abaixo da parede. Imara chutou a grade, soltando-a. – Anda! Entra, moleque!

– M-mas nós temos que ir embora!

– É o que estou fazendo! Esse duto contorna o refeitório, levando até a saída.

– T-tá muito escuro... Vai você primeiro!

O tempo corria. Não ia demorar muito para os irmãos alertarem cada cadete do exército leonino, e se o futuro Sargento quisesse se safar precisava voltar à Prefeitura o quanto antes, desse modo teria um álibi.

– Ok, eu vou na frente – O leão se abaixou, quase não passando pelo buraco na parede. – Viu? Agora... espera... eu não consigo me virar... Você precisa vir atrás de mim. Vamos!

– Não... Eu quero ir pelo outro lado!

– Qual o seu problema, idiota? – o rugido de Imara ressou pelo duto de ar, de modo que ele passou a cochichar com medo de ser ouvido por todo o Quartel. – Só tem baratas e teias de aranha no escuro, nada a temer!

Sem muita vontade, o filhote agarrou-o pelo rabo, acompanhando seu chacoalhar de ancas por vários metros. Quando eles passaram pelo refeitório puderam ouvir um burburinho entre os Soldados que lá estavam:

– Ele mesmo? Tem certeza?

– Eu vi! Na verdade eu lutei contra ele! Soquei tanto sua fuça que ficou com a cara tão vermelha quanto sua boina!

– Sei não... Esses aí estão longe de serem leões perfeitos. Lembram de quando eles disseram ter visto o General Balogun chupando uma cenoura?

– Estamos falando sério, ok? Ah, deixa eles... Vamos caçar os traidores sozinhos!

– Ôche!

– Vocês vão é arrumar sarna pra se coçar! – os demais riram enquanto os irmãos saiam, sem apoio e moral.

Imara chicoteou sua cauda com força, livrando-se das garrinhas do filhote. Depois deu um solavanco na grade de ventilação à frente, abrindo passagem para o ar livre.

– Daqui em diante estaremos desprotegidos – ele sussurrou para Ghofiri, puxando-o para fora do buraco na parede. Eles estavam encobertos por dois grandes vasos de dentes-de-leão. O leãozinho identificou uma sala à frente, onde um jovem Cabo de enfermagem atendia leões com orelhas feridas ou caudas partidas. – A saída da Enfermaria fica à direita da estátua do leão e da serpente... Finja que está tudo bem e ande normalmente, é o segredo para burlar qualquer sistema de segurança.

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