Onde apertar

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– Mas Azizi... você precisa me ouvir! Eu e meu irmão somos Soldados habilidosos, prontos para servir ao Prefeito com garra e determinação!

– As únicas garras que você tem estão cravadas no meu terno Calvin Carne, e vou arrancá-las uma a uma se não sair do meu caminho!

– Chiwanda é um expert em armas de fogo! Isso pode ser útil pra guarda da Prefeitura!

Expert? – o leão perfumado afastou as patas do Soldado, tentando escapar daquela situação desagradável. – Não foi seu irmão quem explodiu um dos maiores reservatórios de pólvora da Cidade dos Leões?

– Bom... Todo mundo erra...

– Graças a isso o exército está defasado de armas de fogo. E se os ursos resolvessem invadir ao Norte? Além disso, por causa do acidente, seu irmão não consegue falar mais uma palavra!

– M-meu irmão fala, sim! – Chiwocha retrucou, sabendo que não era exatamente verdade. – Bom... Você só precisa saber escutar...

– Se quiser falar com o Prefeito faça como qualquer um: vá até a recepção e agende uma reunião. Em dois ou três anos, talvez, Tukufu tenha uns cinco minutinhos para dispensar com você. Agora me dê licença.

Azizi saiu do hall de entrada da Prefeitura sem olhar para trás. Não queria dar brecha para estender aquela conversa incômoda. Custou muito para alçar minha carreira no servidorismo, não vou manchar minha reputação com o Prefeito por algo tão fútil quanto velhas amizades. Azizi era tão aficionado em sentir-se especial que usava essência de flores em sua pelagem para camuflar o odor típico de leão.

A Prefeitura da Cidade dos Leões ficava na Avenida Chucrute, conhecida por suas churrascarias a rodízio de primeira qualidade. O leão perfumado seguiu até o cruzamento com a Rua Buchada, onde havia bares e danceterias. Mesmo sendo tarde da noite, ele decidiu parar e tomar um drinque, pois não teria outra chance tão cedo. Seus olhos cansados vislumbraram o conhecido letreiro em neon do Bar Becue, e suas patas o guiaram para dentro, passando por mesas de sinuca, bêbados exasperados e leoas assanhadas demais, levando-o até o costumeiro tamborete em frente ao balcão.

– Ah, senhor Azizi! – o Barlion o reconheceu. – Há tempos não nos dá o ar de sua graça. Como está indo a vida de Assistente do Prefeito?

– É o melhor emprego do mundo – o leão de juba penteada estava tão cansado que mal conseguiu erguer um sorriso falso.

– Oh, estou vendo – o outro falou por detrás de seu espesso bigode. – Bom, vai querer o de sempre, imagino.

– Por favor. Sem aquelas bolinhas cor-de-rosa nojentas.

– Claro, claro – o Barlion trabalhou com suas garrafas, agitou uma coqueteleira e misturou as bebidas, servindo o líquido dourado em uma taça com rodela de limão e sal nas bordas. – Prontinho. Parece até um drinque que as leoas tomam na dieta.

Azizi relevou o sarcasmo, apanhou sua taça e bebeu em apenas um gole, sentindo o sabor forte do álcool intensificado pelo sal. A bebida queimou sua garganta, arranhando-o ao fluir por seu estômago vazio.

– Essa bebida fica melhor se acompanhada com petiscos – o leão bigodudo apontou, enquanto o outro chupava a rodela de limão.

– Pois é, mas eu não. – ele fez sinal para repetir a dose.

O leão de terno azul-celeste brincava com sua rodela seca de limão, erguendo-a e soltando sobre o balcão. Ele não viu quando outra figura se aproximou, vestindo uma jaqueta de couro preta, calças jeans e óculos escuros.

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