Rule Breakers

"Que difícil!"

Fui quase a correr para a estação porque não quero perder o comboio e ter de engolir o orgulho de novo e voltar para casa dele... além disso não quero dormir em casa dele duas noites de seguida. Aliás, eu nunca mais quero dormir em casa dele, porque tenho medo que isso se torne um hábito, e é um hábito que não quero de todo adquirir.

Cheguei apenas uns segundos antes do comboio entrar na estação. Regressei à minha casa vazia, tomei um duche, voltei ao meu pijama e meti-me no meio dos meus corbertores. O telemóvel vibro... não acredito que já é ele... aquela pessoa não me dá descanso. Soprei para o ar e olhei para o telemóvel para me aperceber de que não era uma mensagem do Spice, mas sim uma chamada do Renan... estive quase a recusar a chamada, mas acabei por atender. 

"Estou?"

"Nat?"

"Passa da uma da manhã, o que é que tu queres?"

"Já estavas a dormir?"

"Não, mal cheguei a casa. O que é que queres?"

"Mal chegaste a casa? Onde é que estavas?"

"Não é da tua conta. Agora vai direto ao assunto. Porque é que me ligaste?"

"Eu queria saber se tu estás disponível amanhã à noite."

"Para ti eu nunca estou disponível."

"Não sejas assim, Nat. Eu só quero ir tomar um café, conversar... tentar voltar a ser teu amigo."

"A que horas?"

"Estás a falar a sério?"

"Sim, a que horas?"

"Às nove?" 

"Às oito."

"Combinado. Então, acho que te vejo amanhã. Dorme bem."

"Tchau." Desliguei a chamada e apaguei a luz. 

Estava quase a adormecer quando o telemóvel vibrou de novo. Soprei para o ar e vi o que era... agora sim, uma mensagem do Spice.

"Já estás em casa?"

"Não, fui raptada pelo caminho."

"Não tens graça. Já estás em casa ou não?"

"O que é que isso te importa?"

"Se estou a perguntar é porque quero saber. Custa assim tanto responder a uma pergunta tão simples? É só sim ou não."

"Sim."

"Ok. Até amanhã." 

"Não vou amanhã."

Passaram alguns minutos e ele não respondeu. Aconcheguei-me para dormir e o telemóvel tocou. Revirei os olhos quando li no ecrã "Spice a chamar..." Esta noite não me dão descanso. Atendi.

"Estou?"

"Porque é que não vens amanhã?"

"Tu és doido? Tu disseste-me para não ir."

"Eu estava chateado. Tu tens de vir."

"Já tenho compromissos marcador."

"Onde é que foste arranjar um compromisso tão depressa e a estas horas?"

"Não te diz respeito. Se não querias que eu tivesse marcado compromissos não me tinhas dito para não ir."

"Eu estava zangado!" Levantou a voz. "Não percebeste isso?"

"Sim, eu percebi. Só que eu não adivinho quando é que tu realmente queres dizer o que dizes, ou quando dizes da boca para fora. Eu não estou dentro da tua cabeça, não sei o que é que tu queres!"