"Nascido para cuidar"

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Abri os olhos a respirar com dificuldade. Aproximei a mão esquerda da cara para procurar a aliança e ela está no meu dedo. Suspirei de alívio ao olhar para o lado e vê-la a dormir, com uma expressão calma no rosto. Não me parece confortável, mas como poderia estar com uma barriga daquele tamanho? 

Está a vestir apenas um pequeno top que não lhe tapa a barriga, porque ultimamente meteu na cabeça que qualquer coisa na barriga a está a apertar, mesmo que esteja a dançar lá dentro. Não resisti à tentação de colocar a mão por cima da sua barriga e senti um pontapé... ele faz isto sempre que sente a minha mão... e sinto-me até lisonjeado porque só resulta comigo, ele já tentou, a Jules já tentou, o Ally já tentou... todos já tentaram, mas o meu rapaz só dá pontapés na mão do pai.  

Essa é outra daquelas coisas que não sei como é que ela aguenta... toda a gente a querer tocar-lhe na barriga, todos os dias a mesma história, chegam da escola e a primeira coisa que fazem é procurá-la para lhe dar festas na barriga, e tentar, com alguma sorte, testemunhar um pontapé... e ela tem toda a paciência do mundo... às vezes quando sente que ele está a mexer chama os miúdos para eles poderem sentir... e principalmente e Jules passa horas sentada na alcatifa da sala, enquanto ela está sentada no sofá, a passar as pontas dos dedos em volta do seu umbigo e a falar com Liam... eu nem sei o tanto que ela pode ter para falar... sinceramente se eu fosse a Nathie já a tinha mandado dar uma curva... mas é isso que nos diferencia, ela é ponderada, e às vezes acho mesmo que é isso que nos mantém juntos. 

Mas no meio desta história toda, de gravidez inesperada e bebé indesejado (indesejado antes de eu saber que ele existia, porque agora não há coisa que deseje mais no mundo), o mais feliz, além de mim, é claro, é o Ally... Vão ter poucos anos de diferença e para ele vai ser como ter outro irmão... um irmão mais novo, que foi coisa que ele nunca sequer sonhou que podia acontecer. 

Ela mexeu-se na cama e eu percebi que ainda estava a acariciar a sua barriga, e que talvez por isso ele estivesse a mexer-se mais e ela ficasse ainda mais desconfortável do que parece estar. Abriu os olhos e sorriu para mim. 

"O que estás a fazer?" Perguntou, apenas com um dos olhos abertos. 

"Olhar para ti... não posso?" Sorri. 

"Spice, isso é só meio creepy... a olhares assim para mim no escuro a meio da madrugada..." Deixou escapar uma risada. Não consigo concentrar-me nas minhas palavras porque só consigo lembrar-me do sonho do qual acabei de acordar. 

"Tu sabias, não sabias?"

"Sabia a o quê?" Franziu a testa. "Não estás a fazer sentido... estás a ter um episódio de sonambolismo ou alguma coisa do género?" 

"Não... estou a falar de antes. Da altura da nossa primeira vez... foi por isso que não me procuraste... tu sabias..."

"Eu sabia o quê?" Deitou-se de frente para mim e olhou-me no fundo que há em mim. 

"Tu sabias..." Sorri. "Tu sabias que não estavamos prontos, não sabias? Tu sabias que não era a altura... tu sempre soubeste."

"Eu só não te procurei porque não achei que fosse capaz de lidar contigo... a verdade é que tu eras fascinante para mim... era lindo... eras uma linda confusão, isso sim... e eu não tinha capacidade para lidar com isso. Sempre soube os meus limites, então limitei-me a ficar feliz com a nossa noite... sinceramente eu nunca sequer pensei que ia voltar a estar contigo por um segundo que fosse, e já quase nem pensava na nossa noite na altura em que me pediram para te dar turoria."

"Obrigado por seres tão consciente... e por teres voltado para mim já toda crescida, madura e capaz de aturar as minhas merdas." Soltou mais um risada.

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