"Até um dia..."

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Ponto de vista da Nat

Deus... já não me lembro de há quanto tempo não entrava nesta casa. Atirei a mochila com as minahs coisas para cima do sofá. Fui ao quarto dos meus pais, só para garantir que eles já se mudaram daqui, de vez, e tal como previa, não havia uma única peça de roupa naquele quarto. 

A minha cabeça está prestes a explodir. Abri o frigorífico para ver se tinha alguma coisa para comer, e tal como desconfiava, estava tudo passado do prazo. Senti um ardor no braço que me lembrou que ainda tinha um guardanapo colado à pele com sangue seco do corte. Fui à casa-de-banho, passei o braço por baixo de água fria para não doer quando tirasse o guardanapo, desinfetei o corte e coloquei um compressa presa com adesivo por cima dele... acho que o melhor a fazer por agora é dormir. 

A manhã chegou e nem por isso a minha dor de cabeça passou. Eu preciso urgentemente de me distrair porque passei a noite inteira a sonhar com tudo o que ele me disse, e com o momento em que me atirou para o chão. Eu preciso de tirar isso da minha cabeça. Peguei no telemóvel, que esteve desligado desde que saí de casa dele e começaram a chover chamadas não atendidas e mensagens dele... não podia preocupar-me menos com isso. Procurei o contacto de alguma das minhas amigas. 

"Estou?" A voz conhecida do outro lado da linha deixou-me mais tranquila. 

"Natasha? Achas que podes fazer-me um favor?"

"Claro, o que é que precisas?"

"Achas que podes reunir as miúdas e irmos sair todas esta noite?"

"Claro! Elas vão ficar super animadas! Há tanto tempo que não sais connosco! Tenho a certeza de que vão adorar! Apanhamos-te em casa, às dez da noite, pode ser?"

"Sim... por favor."

"Vai ser ótimo metermos a conversa em dia! Até logo."

Ponto de vista do Kev

Chega! Eu não posso continuar em casa enquanto ela continua a rejeitar todas as minahs chamadas e ignorar todas as mensagens. Preciso pelo menos de saber como é que ela está... pelo menos pedir desculpa, como uma pessoa normal. O que eu fiz ontem não se faz. O que eu disse ontem não se diz e se o meu objetivo com todo aquele espetáculo era sentir-me melhor, falhei miseravelmente. 

Peguei nas chaves de casa e saí como uma flecha... talvez seja um pouco tarde para ter tomado esta decisão mas tenho quase a certeza de que a vou apanhar em casa. Respirei fundo repetidamente enquanto o elevador sobe e pára no seu andar. Bati três vezes na porta, com a mão fechada a tremer. Nem um som vem do lado de dentro. Bati de novo... e de novo, e de novo, até os nós dos meus dedos doerem demasiado para continuar. Sentei-me no chão, encostado à porta... ela não vai ficar ali dentro fechada para sempre, mas eu vou ficar aqui para sempre se for isso que é preciso. 

Ponto de vista da Nat

Às dez e dez da noite as minhas amigas bateram à porta. Estou com um vestido de manga comprida, mesmo com o calor que está porque não quero que vejam o corte e comecem a fazer perguntas. Abracei-as uma a uma, porque já não as via há muito tempo... demasiado tempo. 

"Como é que tu estás?" A Natasha perguntou enquanto me puxava à parte. "Percebi pelo telefone que não estavas muito bem... Não entraste onde querias?"

"Entrei... é..."

"O Turner?" Baixei a cabeça por saber que a resposta é demasiado óbvia.

"Acabei com ele... ele não reagiu muito bem."

"Tenta não pensar nisso... vamos divertirnos."

De facto a noite foi muito divertida... dancei, bebi bastante para esquecer os problemas e só regressei a casa quase às cinco da manhã. Saltos na mão, andar cambaleante pelo hall de entrada do prédio, vista turva para descobrir em que botão carregar no elevador e um enorme cagaço quando vi alguém a dormir no chão encostado à porta de minha casa. Mas não tardou para que me apercebesse de quem se tratava. Dei-lhe um toque no braço com a ponta do meu pé descalço. Abriu os olhos devagar, esfregou-os e só depois olhou para cima, na minha direção. 

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