"Testa-me"

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Eu adorava poder acreditar nela, mas a verdade é que já não sei no que acreditar. Às vezes já não me reconheço, já não reconheço as coisas faço, nem o que digo. 

Tentei tirar estes pensamentos da cabeça, mas fico nervoso só de pensar que tenho de lhe contar os meus planos de comprar a casa do Hunter para começar a produzir. Ela vai detestar-me por isso.

Acordei ainda cedo, tenho de tirar a droga do meu carro antes que fique de dia. Levantei-me devagar para não a acordar, mas ela abriu os olhos assim que tirei o cobertor de cima de mim. 

"Onde é que vais a esta hora?" Perguntou, com os olhos apenas meios abertos. 

"Vou tratar de umas coisas."

"Mas só tens de entrar no trabalho daqui a duas horas."

"Eu tenho doses no porta-luvas. Tenho de tirar aquilo de lá antes de amanhecer... e logo preciso de falar contigo." Ela assentiu. 

"Tem cuidado." Desta vez fui eu quem assentiu e saí do quarto. 

Regressei a casa para jantar, mas não tive coragem de lhe contar. Pela primeira vez em muito tempo ela está bem disposta, e não quero estragar isso... não por enquanto.

Vesti o casaco para voltar a sair e ir para o meu segundo emprego, que de emprego tem pouco, mas é o que lhe chamamos cá em casa, para não ferir susceptibilidades. 

"Por favor, tem cuidado, ok?" Pediu, enquanto deixa um beijo na minha face. 

"Prometo." Engoli em seco, porque sei que lhe estou a mentir. 

"E não voltes tarde..." Assenti e saí sem dizer mais nada. 

Consegui fazer uma boa quantia esta noite. Já tenho alguns clientes habituais. Não contei a ninguém, mas tenho feito uma alterações à cocaína que estava na cave do Hunter, tenho juntado um Valium esmagado a cada dose. 

O Valium é um relaxante muscular forte, que faz com que o efeito da coca seja igual, mas evita espasmos e rigidez muscular... é o melhor de dois mundos, e com isso já consegui aumentar o preço das doses. 

Regressei a casa e ela já estava deitada. Entrei no quarto com passos suaves, eu sei que precisamos de falar, mas estou a enganar-me a mim próprio ao tentar evitar ao máximo esta conversa, e se ela estiver a dormir, é a desculpa perfeita para dar a mim próprio para adiar ainda mais. 

Acordou quando me sentei na cama, para mal dos meus pecados. Sorriu.

"Já chegaste? Que horas são?"

"Duas e meia... volta a dormir."

"Tinhas dito que querias falar comigo. Eu tentei manter-me acordada até chegares, mas estava cansada e acabei por adormecer... mas podemos falar, agora que estou acordada." 

"Ok... podemos ir lá para baixo? Não quero que os miúdos oiçam... nem acordar o Liam." Levantou-se da cama e seguiu-me até ao sofá da sala. Sentou-se a olhar atentamente para mim, à espera que eu começasse a falar. 

"Então?" Franziu a testa para o meu silêncio prolongado. 

"Eu vou comprar a casa do Hunter, para ter um local seguro para trazer mais e produzir." Disse de seguida para não me arrepnder a meio. 

"Desculpa?" Semi-cerrou os olhos. "Tu vais o quê?" 

"Foi o que ouviste." Desviei os olhos porque a forma como me observa com a acusação no olhar dá cabo de mim. 

"Eu achei que isto ia ser só até acabar o que havia na cave."

"Mudei de ideias... é um rendimento demasiado bom para o deixar acabar."

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