"Palavras magoam..."

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Ponto de vista da Nat

Estava apenas a alguns metros da entrada da estação quando um carro abrandou ao meu lado. Apressei um pouco o passo, o vidro do lado do condutor desceu. Eu continuei a olhar em frente, sem nunca abrandar, hoje não é um bom dia para ser raptada.

"Ei... tu não és a miúda do Turner?" Perguntou, quem quer que seja que está lá dentro. 

"Não." 

"És sim... tu és a miúda do Turner... Nathalie, não é?" A curiosidade fez-me parar de andar e olhar para ele.

"Eu não sou nada do Turner." Levantei a voz. "Como é que sabes o meu nome?" 

"As notícias correm depressa por aí. Eu sou o Hunter." Sorriu e estendeu a mão para fora da janela, eu apertei-a. "Sou amigo de infância do Turner. Tu vais apanhar o comboio?" Perguntou, acenando com a cabeça na direção da estação. 

"Vou." Voltei a andar. 

"Eu vou para o centro... se quiseres boleia." 

"Não, obrigada."

"Eu compreendo que te seja difícil de confiar num gajo qualquer que aparece do nada de carro, nesta zona da cidade, mas eu não te vou raptar, ok? Diz-me onde queres que te deixe, e eu deixo-te lá." 

Na verdade ele não se parece nem um pouco com alguém que me vá raptar... Aliás, ele não se parece nem um pouco com alguém que foi criado e que vive em South Side... tem um bom carro, está vestido com um blazer e camisa azul clara. Nem toda a gente pode ser má aqui, não é? 

"Ok..." Fui para o outro lado do carro e entrei. "Podes deixar-me perto do Regents Park?"

"Claro..." Arrancou e eu tirei o telemóvel da mala. Ficámos durante algum tempo em silêncio. "Então... não me pareces muito bem disposta esta noite."

"E não estou, mesmo..."

"O que é que ele fez desta vez?"

"Além de ser o mesmo idiota de sempre?" Ele soltou uma risada. 

"Sim... além disso, que mais é que ele fez?"

"Coisas... tipo, coisas más, que me deixaram com vontade de o matar."

"Auch... lamento. Eu já falei tanto com ele, já tentei tanto que ele ganhe juízo e que atine. Afinal ele tem quatro crianças a cuidado dele, devia tentar ser um bom exemplo, e ele nem sequer faz um esforço. Eu era muito amigo dele na infância, depois com o tempo as nossas vidas tomaram rumos tão diferentes que acabámos por nos afastar."

"Fizeste bem. O melhor para toda a gente é ficar longe dele."

"Eu já me cansei de tentar encaminhá-lo... é impossível. Algumas pessoas nascem com mau gene... é o caso dele, não pode negar de quem é filho. Não lhe dou 10 anos para estar no mesmo lugar que o pai..."

"Não lhe dou 10 meses..." Ele soltou uma risada. 

"O que aconteceu foi assim tão mau?"

"Apenas mais um dia normal para quem lida com o Turner... Todos os dias uma merda diferente, todos os dias uma discussão diferente, todos os dias uma arma diferente que me passa pela cabeça para o matar." Ele riu-se de novo. 

"Tu és divertida..." Eu deixei de responder. Fomos calados até ao local onde pedi que me deixasse, agradeci a boleia e saí do carro. "Nathalie?" Chamou quando eu já começava a afastar-me e eu voltei para trás. "Achas que podes dar-me o teu número? Ou eu posso dar-te o meu para o caso voltes a South Side. Não é boa ideia andares por lá sozinha, o Turner devia ter consciência disso e não te deixar andar sozinha." Entregou-me o seu telemóvel, marquei o meu número, dei um toque para o meu telemóvel e guardei o dele. Voltei a entregar-lho. "Obrigado." Sorriu. 

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