"Até ao fim da tua vida"

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Peguei na roupa dela que tinha mais próxima e ajudei-a a vestir-se... não, não pode ser hojem não pode ser agora. Peguei-a ao colo para descer as escadas embora ela me tenha garantido que não era necessário. Mal entrei no carro o meu pé já estava no acelerador... espero não estragar o motor, é última coisa que preciso neste momento. 

Parei o carro em frente à entrada das urgências e pedi para alguém trazer uma cadeira de rodas. Enquanto isso perguntavam-me o que tinha acontecido, e eu não sabia... só sabia que tinha uma mulher grávida, com uma dor agonizante, provavelmente pronta para dar à luz... Oh meu Deus... eu não estou pronto... eu ainda não estou mentalizado para ele nascer agora... a qualquer momento... 

Tiraram-na do carro e sentaram-na na cadeira de rodas. Foram a toda a velocidade com ela para dentro do hospital, tentei seguí-los mas um enfermeiro colocou-se à minha frente. 

"Desculpe, o senhor não pode acompanhá-la para aquela ala..."

"Não posso, o quê? É a minha mulher, está a ouvir? E é o meu filho! Eles não vão a lado nenhum sem eu ir com eles, nem que para isso tenha de partir a cara a alguém."

"Por favor, acalme-se, ou vou ter de chamar a segurança."

"Chame a segurança que eu parto-lhes a cara também!" Continuo com o tom de voz demasiado alto para o local onde me encontro. "Para onde é que os levaram? Porque é que eu não posso ir?"

"Tenha paciência, a sua esposa foi só fazer alguns exames e poderá estar junto dela novamente em breve."

"Eu quero estar junto dela agora! Agora, percebe?" 

"Desculpe, isto não é da minha conta, mas acho que se há coisa que a sua mulher não precisa agora é que você faça um alvoroço no meio da sala de espera das urgências. Sente-se, beba um pouco de água, não tarda nada alguém virá dar-lhe notícias e levá-lo até ela." Engoli em seco, pouco conformado, mas virei as costas ao enfermeiro e sentei-me numa das cadeiras vagas da sala de espera. 

"Acompanhantes de Nathalie Campbell?" Um homem de bata branca chamou para o coletivo, saído da porta por onde a levaram. 

"Nathalie Turner!" Levantei-me e fui ter com ele. "O nome dela é Nathalie Turner." Informei, entregando-lhe a cédula de identificação do cartório que nos passaram para ser utilizada enquanto os documentos não são atualizados. Ele franziu a testa a olhar para cédula. 

"Bem... você teve um dia em cheio hoje. Casou..." Nem o deixei terminar. 

"Fui pai?" Perguntei com a um remoinho no estômago. Ele riu-se. 

"Ainda não... na verdade o que aconteceu hoje foi que o bebé acabou de se colocar na posição certa para o parto... procurei informações junto do obstetra que acompanha a sua esposa, e de facto o bebé estava numa posição que impossibilitava o nascimento por parto normal, e estava a considerar-se a hipótese de uma cesariana. No entanto, neste momento nada poderia estar melhor. As contrações que a sua esposa sentiu foram uma reação natural do corpo dela ao movimento do bebé, no entanto não está para nascer já. As dores já aliviaram e ela poderá voltar para casa dentro de momentos... no entanto, é provavél que regressem nos próximos dias, e aí sim você deverá estar preparado, porque quando ela voltar, não duvide, você vai ser pai." Sorriu. "Que mais informações lhe posso dar?" Coçou a barba do queixo. "Presumo que já saiba que tem ali um grande rapagão, está tudo normal, o movimento brusco não parece ter afetado o bebé em nada." 

"Obrigado." Ao mesmo tempo que apertava a mão do médico vi-a sair pelo seu próprio pé. Corri até ela e segurei-lhe no braço. "Estás bem?"

"Está tudo bem, Kev..." Sorriu. Aproximei a cara da sua e falei mais baixo. 

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