"Confiança"

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Saiu de cima de mim, apenas alguns minutos depois. Deixando-me com a mesma sensação de sempre, no entanto, talvez um pouco mais forte hoje. Esta sensação de estou no lugar errado, com a pessoa errada, a fazer a coisa errada... Esta sensação de que tudo está errado quando estou com ele...

"Anda." Levantou-se da cama e agarrou a minha mão para me puxar. "Vamos tomar banho."

"Não pode ir um de cada vez?" Perguntei, sem sequer olhar para ele. 

"Não." 

Levantei-me, e fui atrás dele. Sem abrir a boca, sem olhar para a sua cara por uma vez sequer. Ele entrou no chuveiro, eu também mas fiquei de costas para ele. Não me apetece ter de ver a sua expressão fechada nem o seu olhar que se torna mais reprovador a cada pestanejo. Ele saiu antes de mim... eu deixei-me ficar apenas mais uns minutos, para poder aproveitar sozinha a água quente que escorre pelo meu corpo. 

Saí, enrolei-me na toalha e voltei ao quarto. Comecei a recolher as minhas roupas que estavam espalhada aqui e ali por todo o lado. Vesti-me e saí do quarto. Ao chegar em frente à porta da saída apercebi-me de que as chaves deviam continuar no bolso das suas calças. Voltei a subir as escadas, entrei no quarto, procurei as suas calças e tirei as chaves do bolso. Ele não se mexeu, não olhou para mim, não reagiu. Permaneceu exatamente como estava, deitado de costas na cama, a olhar para o teto... Dirigi-me à porta do quarto e abri-a de novo. 

"Onde é que vais?" 

"Para casa." 

"Já perdeste o comboio."

"Chamo um táxi." Ele não respondeu mais. 

Desci as escadas, fui buscar a minha mala que estava em cima do sofá e vi o seu maço de cigarros em cima da mesa da sala. Tirei um, acendi-o. Abri a porta da rua e saí. Tranquei a porta, meti a chave pela caixa do correio e sentei-me nas escadas da entrada. Liguei para a central de táxis para chamar um e fiquei à espera, enquanto fumo o cigarro que lhe roubei. No fundo, acho que o faço para me tentar sentir como ele... ou seja, não sentir nada. 

Não sei se o táxi afinal vem ou não, já estou sentada aqui fora, a congelar até aos ossos há mais de meia hora e ainda não vi um único táxi. O meu telemóvel vibrou, deve ser da central a pedir indicações para chegar aqui. 

Nova mensagem de Spice:

'Já estás em casa?' Ignorei.

Uns minutos depois recebi uma chamada. Olhei para a janela do seu quarto e a luz continua acesa. Recusei a sua chamada e continuei à espera do maldito táxi que nunca mais chega. A porta da rua abriu-se atrás de mim. 

"Vem para dentro." 

"Estou bem aqui." Respondi, sem me dar ao trabalho de olhar para trás. 

"Vem para dentro!" Repetiu, mais alto.

"Não! Deixa-me em paz." 

Ele sentou-se ao meu lado nas escadas, acendeu um cigarro, deu um bafo e entregou-mo. 

"Não quero." Respondi sem desviar o olhar das rede do portão. 

"Não foste tu que tiraste o que falta no maço? Porque se não foste o Martin vai ouvir das boas amanhã."

"Fui."

"Então toma." Voltou a entregar-mo e desta vez aceitei-o, dei um bafo e devolvi. "Tens a certeza que não queres entrar? 'Tá um frio do caraças."

"Sim, tenho a certeza." 

"Sabes que provavelmente o táxista perdeu-se por aqui e já voltou para trás, certo?"

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