Há três dias que não falo com ninguém, não saio de casa nem para ai às aulas. Não sei ao certo o que se passa comigo, nem porque é que estou a reagir assim. Desde que tive aquela conversa com o Turner e me vim embora para casa nunca mais atendi chamadas ou respondi a mensagens, por muito que a Trice tente entrar em contacto comigo.
Mas enfim, não posso ficar eternamente aqui fechada a tentar descobrir e por artes mágicas qual dos dois está a mentir. Sim... porque é mais do que claro que algum deles não está a dizer a verdade. Por um lado a Trice não teria nenhum tipo de razão para inventar uma coisa daquelas, porque vamos ser sinceros... o que é que ela tinha a ganhar? Nada, apenas tinha a perder. Por outro lado, o Turner parecia bastante convicto quando me disse para lhe perguntar coisas que ela não saberia caso estivesse a mentir... Chega! Chega disto! Chega deste impasse mental!
Peguei no telemóvel e procurei o número da Trice, da qual já tenho 43 chamadas não atendidas nos últimos três dias. Pus para chamar e esperei que ela atendesse.
"Oh meu Deus! Nat! Eu estava tão preocupada contigo, estava a pensar em passar em tua casa hoje só para me certificar de que está tudo bem."
"Não, não está tudo bem. Eu quero falar contigo. A sós e com calma. Já que estavas a pensar em passar por aqui, passa mesmo, logo quando saíres das aulas. Pode ser?"
"Sim, claro que sim amiga... Eu só quero que fique tudo bem contigo e que voltes ao normal. Agora preciso de desligar, vou entrar para a aula. Beijinhos e até logo."
"Até logo." Desliguei a chamada e tapei-me de novo com a mesma manta com que estou tapada há três dias, no sofá.
Pouco depois das seis da tarde ouvi a campainha, e fui abrir a porta. Não sei até que ponto estou preparada para ouvir as respostas dela...
"Posso entrar?" Perguntou, quando eu abri.
"Sim, claro." Abri espaço para ela passar "Senta-te." Apontei para o sofá.
"Olha, Nat... primeiro que tudo eu lamento imenso que isto esteja a acontecer contigo. A sério, lamento mesmo. Eu sei como é complicado e..."
"Deixa-te de tretas! Primeiro quem fala sou eu. Tu estás aqui para responder às minhas perguntas e nada mais." Ela ficou a olhar para mim, de olhos esbugalhados, sem reação. "Então é o seguinte... Sim, eu nós andamos a comer-nos, foder-nos, chama-lhe o que quiseres, sim, nós fazê-mo-lo. E quando tu me disseste aquilo eu fiquei muito, mas muito puta da vida! E não penses que foi só com ele! Foi contigo também por não me teres dito antes... enfim, eu fui falar com ele, e ele, como eu já esperava, desmentiu e disse que eu devia primeiro tentar confirmar se o que me disseste é verdade e foi para isso que te chamei aqui. Sentir-te-ias confortável em me responder a algumas perguntas?"
"Claro..." Encolheu os ombros.
"Ainda bem, porque ias responder mesmo que te sentisses desconfortável. Então, se tu já o fodeste, vais-me saber dizer quantas e quais as tatuagens que ele tem?"
"Claro... Ele tem uma na entrada da virinha, apenas um pouco abaixo do umbigo, do lado direito, com a palavra 'Danger'... Outra nas costelas, do lado esquedo que diz '4 angels 4 me'... E finalmente, uma na omoplata que diz 'For those who left', entre duas pequenas cruzes e por baixo 'South Side Chicago 2013'."
"E as cicatrizes?"
"Uma na perna direita, um pouco acima do joelho, outra nas costas, ao nível da cintura."
"Como e onde é que vocês faziam isso?"
"Tudo começou quando ele próprio veio falar comigo, um dia, há hora de almoço. Eu não sabia o que é que ele queria... Mas aposto que sabes como ele é... consegue tudo o que quer com aquele jeito meio agressivo de ser... é tão mandão..." Deixou escapar um sorriso. "Essa era uma das coisas que me dava mais pica nele... aposto que é o mesmo que acontece contigo, não é?" Eu limitei-me a permanecer em silêncio. "Bem... apenas aconteceu. Ele conseguiu arrastar-me para todo aquele mundo à parte dele. Fez-me acreditar que precisava da minha ajuda com os irmãos... para que eu tomasse conta deles... fez-se passar por vulnerável e eu caí... tal como tu passei muitas horas em South Side... mas a maior parte delas não estava propriamente a tomar conta dos miúdos... por muito que goste deles, aquela Jules então... é um doce de miúda."
"Ok! Chega! Já ouvi o suficiente." Soprei para o ar.
"Agora já acreditas em mim?" Suspirou e baixou o olhar.
"Tenho de acreditar... nunca saberias de tanta coisa se não tivesse acontecido."
"Desculpa, Nat... acho melhor eu ir-me embora para tu teres tempo de assimilar as coisas."
"Sim... é melhor."
Acompanhei-a à porta e assim que ela saiu peguei na estatueta mais próxima que estava em cima do móvel da entrada e atirei-a à parede. Aquele grande filho de uma puta! Ele vai ter de se ver comigo! Fui para o quarto, vesti-me o mais rápido possível, saí de casa deixando para trás um rasto de destruição, porque atirei para o chão tudo quando havia para ser atirado. Entrei no comboio e ninguém faz uma pequena ideia da vontade que tenho de chegar a South Side... ai do ladrão, criminoso ou assassino que se atraver a meter-se no meu caminho hoje, porque quem vai precisar de ajuda é ele e não eu!
Desci as escadas da estação quase a correr, e fui assim o restante caminho. Empurrei o portão da entrada com um pontapé, subi as escadas e bati à porta com o punho, continuamente até que ele veio abri. Assim que o fez... assim que olhei para a cara dele, uma força sobrenatural tomou conta do meu corpo, como se tivesse sido possuida. Empurrei o seu peito com as duas mãos para dentro e entrei. A minha mão subiu e recuou, para ganhar o balanço necessário para lhe proporcionar a chapada mais inesquecível da sua vida. Ele ficou com a cara virada para o lado, com a sua mão na face onde a minha estava marcada a vermelho.
"Tu és o pior cabrão, o pior filho da puta, nojento! És uma criatura absolutamente deplorável e desprezível! Tu não mereces o chão que pisas, nem o ar que respirar, nem a água bebes! Não mereces nada! O mundo seria um lugar tão melhor se não existisses!" Tenho a perfeita noção de que estou a falar em altos berros. "Aliás, é isso mesmo que tu mereces! Mereces ser eliminado deste mundo! Como pudeste fazes aquilo à Trice? Como me pudeste fazer isso a mim? Como é que dormes à noite? A consciência não te pesa? Eu odeio-te! Eu tenho nojo só de olhar para a tua cara sem vergonha! Com todo o meu coração, eu espero que vás morrer bem longe!" Saí e bati com a porta.
Ao voltar para a estação fui invadida por esta sensação, que descreveria como uma mistura entre aliviada, orgulhosa e ao mesmo tempo, muito, mas muito desiludida...
Ponto de vista do Kev
Ela saiu e bateu com a porta. Ainda não caí em mim depois daquela chapada que levei. Ainda estou paralisado a olhar para a porta... provavelmente com cara de parto, porque ainda não percebi o que é que acobou de acontecer aqui... Como assim como pude fazer aquilo à Trice? Eu nunca, mas nunca dirigi a palavra àquela miúda na minha vida. Nunca lhe toquei nem com a ponta de um dedo... aliás eu devo ter olhado para ela apenas uma ou duas vezes na vida!
Esta Sugar está a ficar cada vez mais doida... é a segunda vez em quatro dias que me bate. Nunca uma mulher me tinha batido antes... é uma sensação estranha. Eu nunca a tinha visto tão alterada e tão louca, e ela já é muito louca em dias normais, mas hoje ultrapassou todos os limites. Nunca pensei que ela fosse mulher para se impor... enganei-me.
O mais estranho? Odeiei ouvir tudo o que saiu daquela sua pequena boquinha rosada e deliciosa, mas ao mesmo tempo, no mais fundo de mim, adorei vê-la tomar uma atitude destas... Vê-la ter a ousadia de vir a minha casa, bater-me e dizer-me todas aquelas coisas horríveis na minha cara.
Mas agora vem a parte complicada... como é que vou convencê-la de que tudo não passa de um mal-entendido de proporções colossais e trazê-la de volta para a minha cama... onde, por acaso, ela devia estar neste exato momento, a bater-me o quanto quisesse, mas sentada em cima de mim, de preferência a gemer Spice e a implorar-me para não parar...
Enfim, acho que este é o preço a pagar por me ter metido com uma gaja tão mentalmente desequilibrada... porque ela diz que não é, mas eu sei que é... qual seria outra boa razão para ela se envolver comigo, além de ser mentalmente desequilibrada?
Sentei-me no sofá, ainda com a cara a arder, acendi um cigarro e deixei escapar uma risada... Parece que encontrei uma miúda tão louca quanto eu...
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Rule Breakers
Romantizm- Ele: Kevin Lucas Turner, apenas Kev para os amigos, e apenas Turner para quem não o conhece. Muitos fazem trocadilhos com o seu apelido - Turner: Para as miúdas do bairro "Such a TURN on"; para os professores "TURNS everything into trouble" ; em c...