"O meu corpo não mente..."

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"Kevin... o que é que se passa contigo?" Fez aquele ar de condescendência. 

"Passa-se que eu gosto de ti! Não posso gostar de ti? Foda-se, Sugar... eu tenho saudades tuas. Eu quero tratar-te bem, posso?" 

"Se amanhã de manhã me tratares mal estás fodido comigo!" Aconchegou-se um pouco mais nos meus braços. 

"Eu não vou tratar-te mal, nunca mais. Prometo."

"Não prometas. Sabes que não vais cumprir. Eu já fico feliz se conseguires tratar-me bem nem que seja só hoje." Fechou os olhos, com os lábios encostados ao meu pescoço. 

"Só gostava que as coisas pudessem ter sido diferentes..."

"Mas não foram, não há nada que possas fazer para mudar o que já aconteceu." 

"Mas posso mudar o que está para acontecer. Só preciso que acredites em mim quando te digo que o filho da puta que conheceste até agora não sou eu. Eu posso ser uma pessoa totalmente diferente... e vou ser. Tu sabes o que dizem... que só damos valor a alguma coisa quando estamos prestes a perdê-la e foi isso que aconteceu comigo." 

"Claro que não és..." Soltou uma risada pequena. "...Apenas acabaste de te referir a mim como uma 'coisa', mas não faz mal... eu estou habituada."

"Não foi isso que quis dizer, Sugar... tu percebeste-me." 

"O problema é que eu te percebo demais, é por isso que não és capaz de me enganar. Mas valeu pela tentativa. Se puderes continuar a tentar até amanhã de manhã seria o ideal, porque realmente preciso que alguém finja que gosta de mim esta noite..." 

Chega! Não aguento mais! Está há sei lá quanto tempo a tentar convencê-la de que gosto dela e é assim que me paga? Levantei-me da cama de rompante. 

"Caralho, Nathalie! Porra!" Sei que estou a gritar, mas simplesmente não consigo evitá-lo. "Se achas mesmo que não gosto de ti o que é que ainda estás aqui a fazer? Porque é que continuas a ficar aqui comigo se não acreditas numa única palavra do que te digo?" 

Ela suspirou e levantou-se da cama, sem me dar uma única resposta, com uma expressão de condescencência estampada no rosto. Passou ao meu lado e mostrou-me aquilo que foi apenas o vislumbre de um sorriso. Eu estou visivelmente irritado, alterado e com vontade de esmurrar alguma coisa, com a respiração acelerada e provavelmente a fazer a cara de mau de sempre. 

"Tudo bem, Spice... não faz mal." Encolheu os ombros. "Eu já sabia que ia acabar assim... como sempre...Nem sequer precisas de pedir desculpa..." Baixei a cabeça enquanto fala e ela passou a mão pela minha cara, que não está macia o suficiente para receber uma carícia dela, porque há três dias que não faço a barba.

Mas o que raio se passa com ela? Ainda há pouco estava uma pilha, e agora está um mar de calma. Pega nas suas roupas e... NÃO! NÃO ESTA NOITE!

"O que é que vais fazer?"

"Eu apanho um táxi, não te preocupes comigo." 

"Nem sonhes!" Fiz a minha melhor cara de impor respeito. 

"Foste tu que perguntaste o que é que eu ainda estou aqui a fazer, e a verdade é que já não estou aqui a fazer nada. Então o melhor é ir para casa."

"Pára com isso!" Tentei elevar o tom, mas pela primeira vez em muito tempo aconteceu exatamente o contrário e a minha voz fraquejou. Ao reparar nisso ela parou de desvirar as roupas do avesso e olhou para mim, com os olhos esbugalhados, um ar espantado, e até mesmo preocupado. "Eu não quero que te vás embora! Nunca quis em nenhuma das vezes que te disse para o fazeres, mas principalmente hoje, eu quero que fiques! Do fundo do meu coração, se é que ainda acreditas que tenho um, eu quero ter-te ao pé de mim esta noite..." Oh não... isto não vai mesmo acontecer... Comecei a sentir os meus olhos a ficarem húmidos. Por favor, não à frente dela. "Hoje eu vi uma das coisas mais assustadoras da minha vida... eu vi a mulher de que eu gosto quase a ser abusada por outro! A mulher que considero minha a ser praticamente uma marioneta nas mãos de outro! Eu não quero deixá-la sair por esta porta... eu quero ficar com ela... eu quero pelo menos tentar passar-lhe um sentimento de segurança, e quero sentir-me seguro por estar a protegê-la... Eu quero que ela volte a ser minha e que não tenha medo de mim." Pestanejei e contra todas as minhas forças senti uma gota pequena soltar-se do canto interno do meu olho esquerdo, e logo em seguida do direito. 

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