"Homem a sério"

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Ela regressou, vinda do seu quarto, e eu consegui regressar à minha postura. Os pais dela não disseram mais nada. Estão sentados no sofá, de cabeça baixa, com medo de olhar em volta sem autorização, como criancinhas assustadas... é tão fácil assustar esta gente rica que até dá dó. 

"Queres despedir-te deles?" Perguntei, quando se juntou a nós na sala. Ela abanou a cabeça negativamente. "Vamos?"

"Aham..." Levantou a pega da sua mala de viagem. "Adeus." Disse secamente e começou a andar na direção da porta. Eu saí logo atrás dela e segui-a para o elevador. Ao fim de alguns momentos de silêncio finalmente abriu a boca. "Tu fazias mesmo aquilo?" Sussurrou.

"Fazia o quê?"

"Não te faças desentendido... aquilo que disseste aos meus pais quando eu estava no quarto."

"Claro que não... foi só para os assustar."

"Tens a certeza?"

"Claro que tenho a certeza... achas que eu alguma vez pagava a alguém para fazer mal aos teus pais? Aliás, onde é que eu ia buscar os 100 dólares?" 

"Ainda bem... nunca mais brinques com coisas sérias. Abusaste, não achas?"

"Desculpa." 

Não disse mais nada até casa... também não puxei conversa porque sei que quando ela amúa não vale a pena dizer nada porque ela vai ficar emburrada até que lhe apeteça. 

Chegámos a casa, cansados, tanto fisicamente como emocionalmente. Deixei a mala com as coisas dela na entrada e segui-a até ao sofá. Ela olha em redor. 

"Onde é que estão as nossas fotografias? E o quadro que estava na parede?"

"Eu..." Engoli em seco. "Eu rasguei-as todas." Ela olhou para mim, no entanto não me parece zangada ou chateada. 

"É compreensível..." Encolheu os ombros. E sentei-me ao seu lado. 

"Eu nunca deixei de gostar de ti... em nenhum momento, se é isso que estás a pensar."

"Eu sei que deixaste... mas não faz mal... E também sei que se calhar só estou aqui porque não queres que a mãe do teu filho esteja sozinha... e também sei que finges ainda me amar para eu ficar sem fazer birras. Mas tudo bem... eu não me importo. Fico feliz que estejas a ser homem o suficiente para fazeres isto pelo teu filho..." 

"Sugar..." Segurei-lhe na mão e peguei no seu queixo com cuidado para a fazer olhar para mim. "Não digas essas coisas. Eu não estou a fingir coisa nenhuma... Como se achasses mesmo que te esquecia apenas num mês... As fotos não estarem aqui não quer dizer nada... eu continuo a olhar para elas todos os dias, no telemóvel, antes de ir dormir... e a foto que estava na mesa de cabeceira continua lá, mas está dentro da gaveta, e todas as noites antes de dormir eu olho para ela... até chego a passar o dedo pela tua cara para te dar festas através do vidro, diz lá se não sou ridículo..." Deixei escapar uma risada e ela também abriu um sorriso. "Ouve... eu sei que estás com medo. Eu também estou. E eu sei que vai ser díficil, ninguém disse que não seria, mas nós vamos conseguir... eu estou habituado a dar jeitinhos, e a andar apertado... e também já criei um bebé, e tu também já estás habituada a cuidar de bebés... vai correr tudo bem. Tu sabes como eu sou com os meus irmãos, agora imagina com um filho... Natie, eu vou ser o pai mais cuidadoso que tu já viste na tua vida, e tenho a certeza que também vais ser uma mãe maravilhosa, tens tudo para sê-lo. Não vejas isto apenas pelo lado negativo. Nós vamos ser uma família linda, meu amor... Ok, talvez a família tenha começado um pouco antes da hora, mas o que é certo é que nos juntou de novo. E eu estou diferente. Sei que um mês não é muito tempo para alguém mudar mas eu mudei. Eu cresci por não te ter aqui. Eu prometo que vamos ser felizes, e que o nosso filho vai ser feliz... eu prometo que um dia ainda nos vamos rir de estar tão nervosos agora." 

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