"Masoquista"

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Ela não é uma criança... continua a repetir isto a mim próprio como se tivesse algum fundo de verdade. O que estás a fazer Kevin? Pára com isso! O que é que tu queres da pobre miúda? Será que o que tu sentes é tão inofensivo quanto tu queres acreditar que seja? O que te deu? Porque é que pediste que ela namorasse contigo? Onde tinhas a cabeça? Estás maluco? Isto não és tu... tens de reparar esta situação o mais rápido possível...

Entro em casa e não oiço nada. Absolutamente nada. Devia ouvir os miúdos, como de costume... mas nada. Nem uma mosca. 

"Mãe?" Chamo, mas a única resposta que obtenho é o meu próprio eco. "Martin? Estás em casa?" Mais uma vez apenas oiço a minha própria voz a ser projetada no andar de cima. 

Olhei para o relógio... existe a remota chance de ainda ser demasiado cedo? Não... não existe... são sete da tarde. Toda a gente devia estar em casa. Fui até à cozinha beber um copo de água e vi um bilhete no frigorífico. 

"Querido Kevin, finalmente vou ter o futuro que mereço. Desculpa-me por deixar-vos assim, mas sei que são consegui ultrapassar. Sei que tu vais conseguir dar uma vida decente aos teus irmãos com o trabalho na loja. Eu vou casar no fim-de-semana, quando leres este bilhete vou estar num avião a caminho das Maldivas. Não vos posso convidar. Comportem-se.
Até um dia.
Beijos da mãe.
PS.: Não fui buscar os miúdos à escola e ao infantário, vais ter de ser tu a fazê-lo.
"

Apenas assim, o meu mundo colapsou... ela sempre falou em deixar-nos e eu sabia que ela tinha um novo namorado mas... deixar-nos mesmo? Aos cinco? Eu nunca esperei que ela fosse mesmo fazer isto. Abri o frigorífico para ver apenas duas latas de cerveja... Eu já não tenho assim tanto dinheiro de sobra quanto isso... eu não estava pronto... se ela tivesse avisado com pelo menos um mês de antecedência... Oh meu Deus... preciso de ir buscá-los à escola! Já é tão tarde! Devem estar a desesperar! 

Saio de casa como um tornado, a correr por tudo quanto é lado. O primeiro a fazer é ir buscar o Ally... aquela mulher não tem coração para deixar uma criança de um ano assim sem mais nem menos... Só então caí na realidade... como é que eu vou tomar conta de uma criança de um ano? Eu não sei nem tomar conta de mim! Ao chegar à cresce do Ally bati ferozmente na porta e uma senhora de meia idade veio abrir. 

"Boa noite." Digo, sem fôlego e faço um gesto com a mão para ela me dar tempo de respirar antes de continuar. Engoli em seco e falei ainda ofegante. "Peço desculpa pela demora, eu vim buscar o Ally..."

"Bonitas horas..." Olhou-me com desdém. "É por isto que os adolescentes não deviam ter filhos..." 

"Não... mas... não, ele não é meu filho... é meu irmão. A minha mãe esqueceu-se e..." Parei de falar. Não tenho de dar justificações a ninguém. A mesma mulher desapereceu para dentro do recinto e voltou com ele ao colo, entregando-o nos meus braços.

"Mommy?" Já estava a dormir e mal consegue abrir os seus pequenos olhinhos. Ouví-lo chamar a mãe fez-me crescer um nó no peito. 

"Não, Ally... é o mano."

"Keh?" Pergunta, de olhos fechado. 

"Sim, pequenino... sou eu." Um esboço de sorriso apareceu na sua cara e continuou a dormir no meu colo. 

Andei o mais rápido que consegui até à escola do Rick, da Jules e do Martin, com o Ally ao colo. Estavam os três sentados na escadaria de fora da escola, porque já estava fechada. 

"O que é que aconteceu? Porque que é que demorou tanto? Onde é que está a mãe?" 

"Eu explico-vos tudo em casa. Vamos... Martin, faz-me um favor." Tirei a carteira do bolso. "Devem estar aí uns dez doláres... passa no loja e compra esparguete, carne picada e polpa de tomate." 

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