"Em casa"

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As malas estão feitas e colocadas ao lado da porta da saída. Faço a minha cama pela última vez em algum tempo, com um sorriso na cara. As roupas para hoje estão religiosamente dobradas em cima da cadeira da minha secretária. 

Depois do quarto arrumado ligo para o táxi que me levará ao aeroporto, porque está trânsito e não quero que se atrase. Tomo um duche rápido, visto a roupa que se encontrava na cadeira. Deito um esguicho de um dos perfumes que vão contiuar aqui na minha cómoda. Ao passar pela cozinha pego na última peça de fruta dentro da fruteira e dou uma dentada com vontade na maçã vermelha. Pego na mala, saio e bato com a porta, sem vontade de voltar por estas bandas nos próximos tempos. 

O táxi já me esperava lá em baixo. Levou-me ao aeroporto e ajudou-me a tirar a mala da bagageira. Sorri e agradeci, enquanto retiro do bolso de trás das calças de ganga o meu bilhete de avião. Segue-se uma penosa hora e meia de burocracias até poder entrar no avião e ir para bem longe de Chigaco. 

Como já esperava tive de pagar multa por excesso de bagagem. Mas isso nem me incomodou. As pessoas ao redor olham-me por estar com um sorriso constante e calmo no rosto, enquanto uns choram enquanto abraçam algum familiar vestido de camuflado, enquanto outros correm para os braços de alguém que chega numa alegria eufórica e contagiante, enquanto outros exibem expressões cansadas ou até mesmo desinteressadas... enquanto tudo borbulha de emoções, positivas ou negativas, eu estou apenas aqui... apenas feliz o suficiente para sorrir, não eufórica, não apática... apenas feliz. Apenas descontraída e verdadeiramente feliz, com a sensação de que vou para melhor. 

Vou poder deixar para trás tudo aquilo que me faz mal. A situação dos meus pais, o Renan, a Trice... o Kev... sem dúvida a maior dor de cabeça de que me livrei por ir para Nova Iorque. Oiço as turbinas e sei que estamos prestes a levantar voo. Aperto o cinto e fecho os olhos, com uma respiração profunda. Da próxima vez que pisar terra firme estarei no coração de Nova Iorque em pleno JFK. 

Cheguei, e a primeira sensação que tive foi a de estar perdida. Logo que entrei para a zona de desembarque as pessoas começaram a rodopiar a uma velocidade alucinante à minha volta. Uma nunvem de gente formou-se em volta da passadeira rolante onde aparecem as nossas bagagens, não me permitindo sequer aproximar-me. Decidi deixar aquelas pessoas tão apressadas encontrarem as suas malas e afastar-me, encostar-me a um pilar e esperar. 

Consegui finalmente apanhar a minha mala, que era a única que ainda continuava às voltinhas na passadeira. Passei por mais uma série de borucracias e finalmente pude sair do aeroporto. Apanhei um táxi, entreguei a morada que trazia escrita num papelinho o homem arrancou sem dizer uma única palavra. 

Enquanto percorremos as ruas a única coisa que me passa pela cabeça é como é que me vou orientar se tiver de andar sozinha aqui e neste momento tomei a decisão de nunca sair do campus. Arrastei a minha mala, muito a custo, desde a entrada do campus até ao edíficio 58, onde fica o meu dormitório, que para meu grande azar é no quarto andar... e o elevador está fora de serviço. 

Aqui estou eu a puxar a mala com as duas mãos, de costas, pelas escadas acima, a olhar constantemente para o andar mais próximo, e as minha forças desvanecem um pouco mais quando vejo que nem cheguei ao segundo andar... essa informação deixou-me tão chocada que não sei como, a mala subiu o degrau, e eu caí com o rabo no degrau de cima. Ouvi uma gargalhada atrás de mim, olhei para ver quem tinha sido o corajoso a rir-se de mim quando eu estou com um feitio destes. 

"Achas graça?" Lancei, com um olhar cortante, quando os meus olhos encontraram uma figura alta, no degrau acima daquele onde eu tinha o rabo. 

"Foi engraçado..." Encolheu os ombros, enquanto desce mais duas escadas e pega na minha mala. "Qual é o andar?" 

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