"Sabes uma coisa, Kevin? Eu estava enganada! Tu tens de tanto de ruim quanto o teu pai... e pertences exatamente a onde ele está!" Estas palavras entraram na minha cabeça e causaram um BOOM no meu peito.
"Nunca mais te atrevas a dizer isso, Nathalie! Eu não respondo por mim!" Sinto a minha garganta arranhar e a voz custa a sair.
Ela levantou-se do sofá para ficar em pé, apenas a centímetros de mim, a encarar-me e ao mesmo tempo a desafiar-me. Cemi-cerrou os olhos e fez questão que eu olhasse bem para a cara dela.
"Tu és exatamente igual ao teu pai! Não vales nada! Não vales o chão que pisas... não vales o ar que respiras, Turner! E o teu lugar é onde ele está... e é lá que vais acabar!" Disse, na minha cara... a olhar-me nos olhos, sem hesitar, sem gagajar, sem lhe falhar a voz. Dí-lo na minha cara como uma verdade universal. E só então começou a doer... só depois de o dizer assim é que o meu cérebro conseguiu interiorzar... E doeu... doeu bem fundo. "Do que é que estás a espera? Tu sabes que queres dar-me uma boa chapada na cara... força!" Continua com o mesmo tom de desafio e começou a faltar-me a força e determinação de antes. Baixei o olhar.
"Tu sabes que eu nunca faria isso..." A voz faltou-me e tudo o que proferi foi num tom sussurrado.
"Não? Tens a certeza? E se eu continuasse a dizer aquilo até não puderes ouvir-me mais?"
"Tu sabes que não..." Engoli em seco.
"Se eu ameaçasse sair por aquela porta com o teu filho, agora? Nem assim?" Porque é que me faz isto?
"Não." Abanei a cabeça negativamente. "Nunca." Empurrou-me o peito com as duas mãos e eu dei um passo atrás.
"Reage, Turner!" Levantou mais a voz. E eu apenas abanei a cabeça negativamente.
"Podes fazer o que quiseres... eu nunca te vou bater... nunca vais conseguir isso de mim!" Levantei os olhos do chão e vi-a a levantar a mão, a preparar-se para me bater, e não reagi, permaneci exatamente como estava. Ela olhou para a minha cara e baixou a mão. "Se dares-me uma chapada te faz feliz, Nat... força... mas nunca vais receber o troco da minha parte." Chega a faltar-me a força para falar.
"Tu fazes-me ser assim..." Vi que os seus olhos ficarem molhados. "Eu não era assim, Kev..." Engoliu em seco. "Mas tu não me deixas alternativa... eu não gosto de ser um louca... eu não gosto de falar assim contigo... e dói em mim tudo o que te digo... eu só quero que acordes de qualquer que seja esse transe em que estás, e que páres de enterrar-te naquele mundo... Porque, se continuares com isso, mesmo que eu não entregue, tu vais acabar na cadeia de qualquer forma... Não viste o que aconteceu com o Hunter? Todas as noites quando sais por aquela porta eu penso que tu podes ser o próximo... e eu olho para o Liam, e acho que ele merece ter um pai na vida dele... o pai que eu sei que tu podes ser... eu não quero levá-lo a ver-te através do vidro da sala de visitas da prisão... e muito menos quero levá-lo a visitar-te no cemitério, Kevin... Eu conheço o melhor que eu sei que podes ser... e eu quero que daqui a uns anos ele olhe para ti com tanto orgulho como eu já olhei. Mas tu estás a transformar-te numa pessoa que já não conheço... e eu não gosto da sensação de dormir na mesma cama que alguém que não conheço." Vez uma pausa e engoliu em seco, enquanto as lágrimas lhe tapam a cara. "Tu tiveste uns momento áureos, sabes? Tiveste uns momentos em que eu olhei para ti e vi alguém grande, eu vi-te tomar um rumo, sabes? Eu vi-te empenhado em ser uma pessoa melhor... mas de há uns tempos para cá, Kev... tens estado numa espiral descendente. Tu podes ser muito mais e melhor do que um traficante... tu podes ser a pessoa que toda a gente nesta casa precisa que tu sejas... Eu peço-te por tudo, Spice... eu peço-te pelo Liam, e por todos os teus irmãos, eu peço-te por mim, se isso continuar a fazer diferença para ti... eu peço-te que metas o dinheiro que já ganhaste no bolso e que deixes aquilo. E pedir-te, é tudo o que posso fazer..." Encolheu os ombros, quase como forma de se render. "E tu não tens de lidar comigo se já não quiseres... eu sei que mudei desde que tive o Liam... mas eu não consigo ser a mesma pessoa de antes, porque eu tenho algo maior na minha vida para me preocupar... eu tenho uma vida nos meus braços, e eu não posso ser a miúda inconsequente que conheceste... mas também não te posso obrigar a ficar comigo, então eu posso dar um jeito de sair daqui, e tu podes e tens todo o direito de ir ver o Liam sempre que quiseres, e trazê-lo contigo sempre que puderes... eu tenho muita garganta, mas não tinha coragem de te impedir de o veres... eu tenho para onde ir, ok? Se quiseres que eu saia..." Eu sinto-me petrificado a ouvir as palavras dela. Respirou fundo e começou a afastar-se na direção das escadas. Parou e voltou a olhar para mim, que continuo imóvel no meio da sala. "Tudo o que eu disse foi para te acordar, Kev... Tudo o que eu disse foi apenas por gostar demasiado de ti para te ver andar por aqueles caminhos... Tudo o que ouviste da minha boca é mentira... e eu só o digo para tentar magoar-te o suficiente para te obrigar a desistir daquilo... porque eu amo-te e não aguento ver de perto a tua decadência." Suspirou e desviou o olhar. "Então se quiseres ir descansar na cama, e se não me quiseres contigo, eu posso ficar aqui." Não consigo dizer nada, porque tudo o que ela diz coloca demasiadas coisas em causa na minha vida. "Devias ir dormir sobre o assunto agora..." Forçou um sorriso.
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Rule Breakers
Romance- Ele: Kevin Lucas Turner, apenas Kev para os amigos, e apenas Turner para quem não o conhece. Muitos fazem trocadilhos com o seu apelido - Turner: Para as miúdas do bairro "Such a TURN on"; para os professores "TURNS everything into trouble" ; em c...