"A Realidade"

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A enfermeira aproximou-se de nós com ele ao colo e entregou-o nos braços da Nathie, que olhou para ele, com os olhos molhados e a cara vermelha. Passou o polegar na sua face e sorriu. 

"Nathalie, vamos deixar o bebé com o pai por uns momentos e tratar de si, está bem?" Ela assentiu. 

Ele levantei-me da cadeira para pegar nele. É tão... tão pequeno, e indefeso. Levaram a sua maca para outra sala e encaminharam-me para o quarto onde ela iria ficar depois. Sentei-me na cadeira ao lado da cama, sem tirar os olhos de cima dele. Sorri, do pensamento que me invadiu a mente e que me diz que tem os meus olhos e o sorriso dela... Desta vez soltei uma gargalhada quase audível... ele ainda quase não abre os olhos, e muito menos sorri... não sei como é que cheguei àquelas conclusões. 

Peguei numa das suas mãos, apenas com o polegar e o indicador e ele libertou aquilo que se pareceu com um bocejo. Dei por mim a sorrir para ele... outra vez. Passei o indicador naquela carinha pequena e ainda corada e apenas poucos minutos depois tinha o meu filho, a dormir ao meu colo, pela primeira vez. Não tive coragem de o colocar no berço que lhe era destinado ao lado da cama que estava à espera da Nathie. Alguns minutos se passaram até que ela entrou numa maca, empurrada por uma enfermeira. 

"Ei..." Olhei para ela e sorri. "Como é que estás?" 

"Melhor do que há meia hora atrás, sem dúvida." Sorriu. "E tu? Como é que te estás a dar com ele?" 

"Estamos a dar-nos muito bem... só que ele deixou-me pendurado e adormeceu..." Ela soltou uma risada. 

"Lamento imenso, mas vamos ter de acordá-lo..." A enfermeira aproximou-se de mim com o sorriso e tirou-o do meu colo. "Ele tem de ser amamentado..." Com estas palavras colocou-o no colo dela e explicou-lhe qual era a maneira mais fácil de o fazer, da forma mais confortável tanto para ela quanto para ele. 

~*~

"Bom dia, Nathalie." A médica entrou no seu quarto. "Ah... Mr. Turner... também já cá está?" Sorriu. "Parece que já ouviu falar da alta deles..." 

"Sim... não me quis atrasar." Assenti. 

Examinou rapidamente a Nathie e o Liam. 

"Bem... não encontro nada que justifique eles continuarem aqui... vou passar a alta. Nathalie, se quiser pode ir vestir-se." 

Os miúdos ainda não o viram... não quis trazer um batalhão de putos para a ala obstétrica de um hospital com mais de cem bebés recém-nascidos por aí. Sabe Deus o que é que eles podiam aprontar. 

Entretanto já tinha comprado o ovo adaptável ao carro para os levar para casa... só cem dólares a voar janela fora com aquele ovo... Entrámos no carro depois de termos a certeza que ele estava bem seguro dentro do seu ovo, que para custar aquela fortuna devia ser feito de bronze.

Deixei-os em casa. Os miúdos estão na escola e eu tenho de ir trabalhar, porque ele só nasceu há três dias e já não sei o que fazer com tantas contas. Custa-me deixá-la sozinha em casa com o bebé recém-nascido... mas tenho outro remédio? Tenho de pagar as despesas do hospital, mais as fraldas, as toalhitas, pomadas, produtos de higiene para bebé que são mais caros que os de adulto, e ele vai ter de tomar um suplemento porque no hospital chegaram à conclusão que a Nat não produz leite suficiente para ele... e cada lata de 500 gramas custa trinta e tal dólares... trinta dólares é o dinheiro que não tenho na carteira neste momento... enquanto estávamos no hospital deram-lhe lá o suplemento, mas agora tenho de ir comprá-lo o mais rápido possível, se é que não quero que o meu filho de três dias passe fome... 

"Eu já volto com o suplemento..." Dexei-lhe um beijo na testa, que estava sentada no sofá a dar-lhe de mamar. Ela assentiu... não faz ideia que temos 27 dólares e 15 cêntimos para nos desenrascarmos até ao fim do mês, e só consegui deixar metade das contas pagas... ela só pode voltar a trabalhar daqui a no mínimo três meses... mas por outro lado, o que é que vamos fazer com um bebé de três meses? Uma cresce está fora de questão... cresces para bebés dessa idade custam quase tanto dinheiro quanto aquele que eu recebo por mês. 

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