"O essencial"

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Admito que depois de ela ter virado costas fiquei de olho o resto da noite à espera que alguém da polícia aparecesse, o que não aconteceu, e as minhas suspeitas de que ela estava apenas a fazer bluff confirmaram-se. 

Regressei a casa, mais uma vez de bolsos cheios. Admito que esta sensação de poder, de chegar a casa e descarregar os bolsos de notas, é algo de viciante, mas também sei que não posso deixar-me levar na adrenalina do que ando a fazer, porque é momentâneo, apenas para cobrir as necessidades... mas por outro lado... é tanto dinheiro e ainda há lá tantos pacotes... ainda nem usei um inteiro... eu posso continuar a fazer isto por meses... posso misturar alguma coisa no pó para fazer render mais... eu posso conseguir muito com isto... NÃO! NÃO, TURNER! NÃO VAIS MISTURAR COISA NENHUMA! Ainda matava alguém ou alguma coisa do género... isso não vai acontecer... no entanto vi num documentário que às vezes misturavam ipobrufeno em pó... não era mal pensado... ipobrufeno alívia as dores... é um relaxante muscular e ajuda naqueles sintomas de ressaca que os agarrados sentem... podia até ser um incremento... algo que diferenciasse das outras... que os fizesse querer comprar só a mim... NÃO! MEU DEUS... EU ESTOU A FICAR LOUCO! EU NÃO POSSO FAZER ISSO... NÃO! Eu estou a fazer isto apenas por necessidade e não passará disso. 

Ouvi os seus passos nas escadas e olhei na sua direção. 

"Olá..." Sorriu, e sei que o seu sorriso é o reflexo do alívio de me ver chegar a casa sem um arranhão. "Como correu hoje?" Engoliu em seco. 

"Olá... correu melhor que todos os outros dias... acho que a minha fama de preços baratos se está a espalhar." Respirei fundo. 

"Quanto é que fizeste hoje?" 

"Quatrocentos..."

"Spice, só entre ontem e hoje já fizeste o mesmo dinheiro que farias num mês de trabalho... com o que vais receber do teu verdadeiro emprego já dá o dobro daquilo que costumavas ganhar... se calhar podes fazer isto menos vezes... só uma vez por semana, por exemplo..."

"Não! Claro que não! Eles vão à minha procura todos os dias... e se eu começo a não estar lã nunca eles acabam por deixar de ir lá à minha procura..."

"Então, talvez pudesses levar menos quantidade... para o caso de seres apanhado teres menos contigo..."

"Sugar, não te preocupes... eu vendo tudo num instante. Quase que nem chego a estar lá uma hora..." 

"É tempo suficiente para te verem e te apanharem..."

"Ninguém me vai apanhar... agora eu vou tomar um duche e vou dar muitos miminhos aos meus amores, está bem?" Sorri e dei-lhe um abraço que ela retribuiu da forma mais aconchegante possível. 

"É só que eu... eu preocupo-me contigo..." Sussurrou com a cabeça no meu ombro e com os braços em volta do meu pescoço. "Porque eu amo-te... e não quero que nada de mal de aconteça..."

"Eu sei, Sugar... e sei que ficas com o coração nas mãos sempre que eu saio por aquela porta para ir fazer isto... mas eu faço isto por nós e eu sei como fazer as coisas... não te preocupes."

"Eu tenho medo que já não consigas sair disso... eu tenho medoq ue isso passe a ser a nossa fonte principal de rendimento e que tu aches que é mais fácil do que trabalhar no duro o dia inteiro... eu tenho medo que te dediques a essa vida para sempre... eu não quero que sejas isso... e eu sei que tu precisas de adrenalina na tua vida... mas por favor não te deixes levar... pensa nos teus irmãos e no exemplo que tens de dar... pensa em mim e no Liam... por favor, não te deixes levar..." Não largou o meu pescoço por um segundo e senti uma lágrima quente cair na minha pele.

"Acredita que se eu pudesse ganhar assim a trabalhar mais do que trabalho mas de uma forma honesta, eu não pensava duas vezes em fazê-lo... acredita que eu quero ser o melhor que posso para todos vocês... mas às vezes vou ter de fazer o que tem de ser feito... e quando a vida é como a nossa... a vio honesta nem sempre tem os resultados que nós precisamos... eu já fiz outras coisas deste género antes... eu já fiz coisas que tu nunca pensaste que eu possa já ter feito, em tempos mais difícies... isto é apenas mais uma daquelas coisas que se faz por sobrevivêcia..." 

"Já fizeste coisas que eu não sei?" Perguntou com a voz trémula e eu engoli em seco. 

"Já... e se quiseres eu posso contar-te tudo e como é que ainda estou aqui e nunca nada aconteceu..." Ela assentiu e encaminhei-me para o primeiro andar. 

O Liam está acordado, mas está bem disposto no seu berço a dar às pernas e aos braços enquanto faz caretas que se assemelham a sorrisos. Peguei nele e tirei-o do berço levantando-o no ar para ouvir a sua quase gargalhada desajeitada. Encostei-o ao meu ombro enquanto faço movimentos suaves para cima e para baixo e de vez em quando não resisto a deixar-lhe o beijinho na cabeça, que não tem mais do que uma penugem quase loira. Ouvi o seu pequeno e adorável bocejo e voltei a deitá-lo no berço. 

Fui para a cama e deitei-me ao seu lado. Ela colocou a cabeça no meu ombro e eu comecei a brincar com o seu cabelo como sei que ela adora. 

"Bem... para começar, a primeira coisa que eu fiz para ganhar uns trocos a mais foi as lutas... e repeti quando nós já estavamos juntos... mas antes disso já tinha participado umas três ou quatro vezes, a primeira vez foi logo pouco tempo depois de a minha mãe se ter ido embora... as contas estavam apertadas e eu não sabia o que mais podia fazer... Outra das coisas que eu fiz foi roubar carros roubados... sim é confuso... mas basicamente eu e um grupo de amigos sabíamos quem é que se dedicava a roubar carros, víamos qual era o carro que queríamos roubar, íamos buscá-lo a meio da noite, já com comprador para ele, mal acabávamos de o vender fazíamos a denúncia à polícia da matrícula e da casa do gajo a quem nós o tínhamos roubado e apresentávamo-nos ao comprador com o nome do ladrão original, então quando o carro chegava a ser apanhado todas as pistas indicavam para quem o tinha roubado originalmente e nós ficávamos com o dinheiro. E mais uma coisa que também me deu uns bons trocos foi vender ajustes de contas... alguém tinha contas a acertar com outro alguém, pagava-me e eu fazia o que fosse... só não matava... mas um tiro no pé nunca matou ninguém, não é?" Tentei aligeirar o ambiente. 

"Porque é que nunca me contaste isso antes?"

"Não achei que fosse importante... só ia fazer com que te afastasses de mim e com que talvez até ficasses com medo de mim... e eu já não sou assim... hoje em dia eu não teria coragem de fazer metade das coisas que já fiz sem uma ponta de remorso..." 

"E quando ias fazer esses ajustes de contas... qual foi a pior coisa que já fizeste?"

"Eu não fiz isso muitas vezes porque cada uma das vezes que o fazia ganhava quase o dobro do ordenado que tinha na altura... é só para situações de emergência, quando precisava de muito dinheiro em pouco tempo... mas acho que o pior que eu fiz foi mesmo dar um tiro no pé do gajo... de resto foi só dar umas cargas de porradas para deixar os filhos-da-mãe inconscientes... e não penses que eles eram pessoas inocentes, porque não eram... eles eram gente ruim. Talvez por isso é que também não me pesava assim tanto na consciência." Suspirei. "Não estás arrependida de estar comigo, pois não?" 

"Claro que não... só acho que podias ter-me contado essas coisas mais cedo..."

"Eu nunca te devia ter contado estas coisas... e só contei porque não quero que fiques preocupada com o que estou a fazer agora porque já fiz pior e nunca nada de mal aconteceu... tu tens de perceber que nós somos de mundos diferentes e que não tens de preocupar comigo porque eu estou mais do que calibrado para o tipo de cenas que faço... não é nada de especial... é apenas o essencial."

Hey babes <3 Também ficaram em choque com a revelação das coisas que ele costumava fazer :O

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