"Eu sei que vais voltar..."

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Eu não respondi, virei-lhe as costas e puxei os cobertores para mim. Odeio-o mais a cada segundo que passa. E odeio a forma como me deixo ser usada por este filho da puta sem vergonha... nem sei porque continuo a deixá-lo fazer isso, fico a sentir-me horrível a seguir. Sinto-me o objeto autêntico. 

"Tens frio?" Perguntou, quando me encolhi e abracei a almofada.

"Não."

"Sabes que se tiveres frio podes chegar mais cá, 'né? Estás quase a cair da cama. Eu não te como." Ao mesmo tempo que disse isto soltou uma risada. "Ok... retiro o que disse. Sim, eu como-te, mas não te faço mal, por isso podes chegar mais para cá."

"Não é preciso."

"Chega mais para cá!" Levantou a voz. "Tu ainda vais mexer-te e acabar por cair da cama, porra." Passou o braço pela minha cintura e puxou-me. 

"Podes largar-me? Se faz favor..." 

"Não."

"Larga-me!" Levantei a voz, ainda mais que ele e tentei soltar-me do seu braço.

"Como queiras." Largou-me. "Porque é que ainda me preocupo?" Sussurrou. "Vai-te embora se quiseres. O que é que ainda fazes aqui?" 

"Boa pergunta." Levantei-me da cama, enrolei-me na manta que trouxe da sala, peguei nas minhas roupas que ele tinha enroladas com as dele em cima de uma cadeira. 

"Onde é que vais?"

"Vou-me embora."

"Não, não vais. São quatro da manhã, queres morrer?"

"Vou-me embora para o quarto da Jules." Saí e bati com a porta. 

Entrei no quarto em frente e meti-me debaixo dos cobertores. Ele entrou apenas uns segundos depois. 

"Volta já para onde estavas." 

"Não!"

"Não me faças agarrar-te por um braço e arrastar-te de volta. Levanta-te daí e vai para o teu lugar!"

"Tu é que disseste que podia ir-me embora. E eu fui."

"E podes. Mas se é para te ires embora da minha cama é para ires direta à porta da rua." 

Sentei-me na cama para olhar para ele. 

"Não me tentes, porque sabes que eu vou. Se queres assim tanto ver-me fora daqui, eu vou."

"Vai então!" Saiu do quarto e entrou no seu. Voltou uns segundos depois e atirou-me uma chave. "Destranca a porta para saíres, volta a trancar quando estiveres lá fora e mete a chave pela caixa do correio."

Eu fiquei simplesmente a olhar para ele, sem saber ao certo o que fazer. 

"Saí para eu me vestir." 

"A sério?" Soltou uma risada. "Precisas que eu saia para te vestires? Isso é rídiculo depois do que aconteceu nas últimas quatro horas..." 

"Ok." Saí da cama e comecei a vestir-me. 

Peguei nas chaves e desci as escadas. Ele ficou lá em cima a olhar para mim, enquanto abro a porta da rua para sair. 

"Vais morrer, Sugar..."

"Como se isso te importasse." Ele encolheu os ombros. 

"Sim. Tens razão. Faz boa viagem... para o inferno... porque depois das últimas quatro horas, para o céu é que tu não vais." 

"Vai-te fuder." Saí e bati com a porta. Tranquei-a e meti a chave pela caixa de correio. 

Respirei fundo. Já só faltam menos de três horas para o comboio... que mal pode acontecer? Pus-me a caminho da estação... pelo menos lá há muita luz... bem mais do que nestas ruas em que dois em cada três candeeiros não acende. Vi um vulto no canto de um prédio por onde eu tenho de passar... não deve ser nada... deve ser só algum dealer, ou uma coisa do género... nem me vai dizer nada. Passei a uma distância que considero segura de seja lá quem for que está no canto escuro e ao passar comecei a ouvir passos atrás de mim. Não olhei, apenas apressei o passo. 

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