Deixei escapar uma risada. Ainda não sei bem como lidar com ele quando é assim. Não é a isto que estou habituada. De certa forma ele tem razão quando diz que eu me esforço para acreditar que ele está a fingir e que me quer magoar, porque eu morro de medo de acreditar nele, eu morro de medo de me habituar demasiado a este seu jeito maravilhoso de ser meigo... Desde que ele entrou na minha vida sinto que fiquei mais forte. Muito, muito mais forte. Ele obrigou-me a sê-lo. Sempre me tratou de uma forma tão vulgar... sempre me fez acreditar que nunca estaria lá para mim. Sempre me fez acreditar que se alguma coisa desse para o torto não ia ser ele a safar-me. Sempre gritou comigo e me disse tudo aquilo que eu precisava de ouvir sem ter pena de mim e sem pensar em como isso me afetaria. Eu não era assim antes dele. Depois de o enfrentar a ele eu sinto que consigo enfrentar qualquer outra coisa que apareça no meu caminho. Ele ensinou-me a ser fria e eu morro de medo que este novo Spice me faça perder a minha frieza e a capacidade de o enfrentar quando os nervos lhe subirem à cabeça e começar a gritar... Eu tenho medo de perder a capacidade de lidar com ele.
"Spice?"
"Hm?"
"Promete-me uma coisa."
"O quê?"
"Que vais continuar a gritar comigo de vez em quando." Ele soltou uma gargalhada.
"Só se não me conhecesses acharias que eu não vou gritar de vez em sempre... Sugar, eu sou uma besta. Não és tu que vais fazer com que eu deixe de ser. Nasci assim... vem de dentro, percebes? Corre na veia... agradece por isso ao meu pai." Eu fiz alguns momentos de silêncio depois de o ouvir.
"Há quanto tempo não visitas o teu pai?"
"O que é que isso interessa?"
"Só curiosidade..."
"Eu nunca o visitei." Respondeu, friamente, como se isso não o afetasse nem um pouco.
"Há quanto tempo é que ele está preso?"
"Não sei... ele nunca foi propriamente presente. Toda a minha vida ele esteve a entrar e a sair da prisão, nunca sabia quando ele estava dentro ou fora, a não ser quando o via na rua. Só vinha a casa para sacar todo o dinheiro que pudesse e ocasionalmente fazer mais um filho à minha mãe."
"E todos os teus irmão são filhos dele?" Ele soltou uma risada, um tanto condescendente, talvez por causa da minha ingenuidade.
"O que é que achas, Sugar? Eu só vou dizer-te que sou a cara chapada do meu pai, tu conheces os meus irmãos... quantos deles se parecem comigo?" Fiz uma pausa para pensar.
Definitivamente, não a Jules... a Jules tem a pele muito mais clara que a maioria dos irmãos, é ruiva, tem sardas, tem um aspeto demasiado nórdico para ser irmã completa dele, que pelo contrário tem um aspeto muito mais latino. O Martin... é loiro, tem olhos claros. Mais uma vez, nada que se pareça com o Kev, que tem cabelo e olhos castanhos escuros.
"O Rick é muito parecido contigo..." Observei o mais óbvio de todos eles. "E o Ally tem os teus olhos... A Jules tem um sorriso parecido com o teu..." Riu-se novamente, da mesma forma que já havia feito.
"Oh, por favor Sugar... eu tenho o sorriso da minha mãe... e essa é a única coisa que tenho em comum com a Jules... não achas demasiado óbvio que a mãe é a única família que temos em comum?" Respirei fundo, porque não quero responder. Tenho medo de o magoar, eu sei como ama os irmãos, por isso remeti-me ao silêncio. "Sim, só acertaste nos dois primeiros... Mas não te sintas mal por falares sobre isso comigo... eu não me importo com isso, amo-os a todos da mesma maneira. Para mim eles não têm pai, nem mãe, nem ninguém além de mim. Eles não são filhos de ninguém. Eles são meus. Todos eles, sem diferença."
"Eles sabem?" Perguntei, a medo.
"De quê?"
"Quem são os pais deles."
"Sabes, quando és uma criança, e tens irmãos à tua volta, e de vez em quando um homem entra na vossa casa, e os teus irmãos lhe chamam pai... sendo que tu nunca tiveste um pai contigo, partes do príncipio que aquele também é o teu pai. É um ciclo infidável. Eu chamava-lhe pai... o Martin aprendeu a chamar-lhe pai, depois a Jules aprendeu a chamar-lhe pai, e o Rick também... mas esse também é filho dele. O Ally não. O Ally não sabe o que é mãe, nem o que é pai. A minha mãe foi-se embora quando ele tinha 2 meses e ele nunca sequer viu o nosso pai... e acho que ele é o que está melhor... nunca teve de ver ou conviver com nenhum daqueles estupores. Eu não quero que nenhum deles tenha contacto com os nossos pais... porque de todos nós, eu fui o que tive mais contacto... e olha no que me tornei."
"Não fales assim... tu não te tornaste em nada de mau."
"Sim, pois..." Revirou os olhos.
Fiquei calada, porque sei que este assunto o irritou um pouco e achei melhor fazer uma pausa antes de continuar com este tema.
"Quanto tempo falta para o teu pai acabar a pena?"
"Quanto mais tempo melhor..."
"Tu disseste que ele tinha uma pena de 25 anos quando começámos a falar... já só lhe devem faltar 22... talvez apenas 15 se ele se portar bem e o deixarem sair para liberdade condicional por bom comportamento."
"Bem... sobre isso..." Respirou fundo. "Tu já estavas assustada e eu nao te quis assustar mais, por isso suavizei um pouco a pena dele... na verdade ele está em perpétua." Tentei esconder o choque na minha expressão.
"Perpétua? O que é que ele fez?"
"Primeiro que tudo é bom que tu saibas que ele era um agarrado do pior. Já não havia nada a fazer por ele... ele vivia para a coca e nada mais. Fazia aquilo que fosse preciso para arranjar uma dose. Normalmente assaltava umas lojas, roubava umas malas a idosas, cenas do género, nada de especial, não magoava ninguém. Mas chegou uma altura em que ele já não tinha capacidades fisícas ou mentais para roubar seja quem for, e ele já estava a dever ao Hunter. Os campancas dele já tinham vindo aqui para eu pagar as dívidas dele... inclusivamente eu levei uma carga de porrada porque não tinha dinheiro nenhum em casa. Um dia ou meu pai foi ter com um dos dealers dele, pediu mais uma dose fiada, e recusaram-lhe. Então ele sacou de uma navalha e esfaqueo o gajo até à morte." Eu não consegui responder. Acho que por alguns segundos eu não consegui sequer respirar. Na minha cabeça ecoava a voz da razão, que me dizia continuamente que o Kev não é o pai dele, que o Kev não faria isso... pois não? Não... definitivamente não. Ele não era capaz de matar... quer dizer, não por drogas... talvez por outra razão... talvez por uma razão que valesse a pena... Sim, sem dúvida que ele o faria por uma razão que valesse a pena. E não... definitivamente, não me faria isso a mim... Pois não? Não! É claro que não. Por favor, Nathalie... não sejas ridícula... é óbvio que não te faria isso a ti... a não ser que... A NÃO SER QUE NADA! DEIXA DE SER PARANÓICA. O facto de eu saber que ele é capaz de matar não me devia fazer ter medo dele, mas sim fazer-me sentir segura com ele... não é? "Sugar..." Chamou-me de volta à realidade, porque posso apostar que ele sabe o que me estava a passar pela cabeça. "Eu não sou ele, ok? Eu sou eu. Ele é apenas o gajo que veio na minha mãe, ponto final."
"Eu sei..." Sorri. "E eu gosto de quem tu és."
"E Sugar, nunca te sintas mal por falares dos meus pais. Podes perguntar o que quiseres. Não penses que eu fico emocionalmente afetado a algum nível por falar deles. Eles não significam nada para mim... eu consigo ficar mais emocionado a falar de futebol, do que fico a falar sobre eles."
"Eu gostava de ser como tu, sabes? Gostava de falar dos meus pais como falo dos ratos de esgoto... sem ralar com isso, sem me deixar afetar. Mas não consigo. Eu só fico feliz que os teus irmão te tenham a ti..."
"Agora tu também me tens a mim, Sugar..." Apertou-me um pouco mais nos seus braços. "Quando tu achares que precisas que alguém cuide de ti, e eu sei que isso é muito raramente, eu estou aqui... quem cuida de quatro também cuida de cinco. Eu já te disse isto muitas vezes, e volto a dizer: toda a gente debaixo do meu teto está ao meu cuidado, por isso enquanto estiver aqui, eu cuido te ti."
Hey girls <3 Peço desculpa pela demora nos capítulos, eu vou tentar publicar tanto quanto possível nos próximos dias, antes de começar a época de exames da faculdade. Espero que gostem *-*
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Kiss <3

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Rule Breakers
Romance- Ele: Kevin Lucas Turner, apenas Kev para os amigos, e apenas Turner para quem não o conhece. Muitos fazem trocadilhos com o seu apelido - Turner: Para as miúdas do bairro "Such a TURN on"; para os professores "TURNS everything into trouble" ; em c...