"Até que a morte nos separe"

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Ponto de vista da Nat

É a primeira semana em que não vou trabalhar. Digamos que o tamanho da barriga já não é propriamente confortável e já começa a pesar para estar em pé o dia inteiro. Embora eu ache que podia continuar a trabalhar, se me arranjassem uma cadeira para me sentar, o Kev achou melhor eu ficar em casa nestes últimos tempos para, segundo ele, não correr o risco de ter o bebé ao balcão. 

Os miúdos acabaram de sair para a escola, ele acabou de sair para o trabalho, e eu não sei que raio fique a fazer o dia inteiro em casa. Sentei-me no sofá e liguei a televisão para me aperceber que apenas estão a dar os noticiários e os programas matinais merdosos. A campainha toca, e eu demoro mais de uma eternidade e levantar-me do maldito sofá... pareço um balão. 

"Já vai! Já vai..." Digo a caminhar para  a porta, e quando finalmente consegui chegar lá já estava ofegante. 

"Bom dia, minha linda. Como estás hoje?" Vi o sorriso agradável da Mrs. Meyers, uma senhora viúva, talvez não longe dos oitenta anos, a quem o Kev vai fazer uns arranjos em casa de vez em quando.

"Boa dia, Mrs. Meyers... um pouco mais inchada todos os dias." Ri-me. "Entre." Saí da frente da porta e ela entrou, a passo lento, com um saquinho de tecido bordado na mão. "Venha, sente-se no sofá." Encaminhei-a até à sala e ela sentou-se ao meu lado no sofá. 

"Como está o Kev e os meninos?" 

"Estão bem. Acabaram de sair para a escola e para o trabalho." Sorri. 

"Aborrece-te estar em casa, não é?" Soltou uma risada. 

"De morte... eu não estou habituada a isto, por mim ficava a trabalhar até ao momento de o ter, mas o Kev acha que eu corria o risco de ter o bebé em cima do balcão e achou preferível que ficasse em casa." Deixou escapar uma gargalhada sentida.

"Querida, os homens são mesmo assim... Eles acham que são os fortes, os protetores... não passam de cãezinhos assustados quando chegam estes momentos... ainda me lembro do parto do meu primeiro filho. Sabes eu não vivia aqui nessa altura, nós só nos mudámos para a cidade depois, costumavamos viver numa casita pequena, na zona rural, tinhamos uma hortinha e tudo, e as mulheres não iam ao hospital ter os filhos, chamava-se a parteira a casa. Normalmente os homens não ficavam para assistir, e nem costumavam permitir isso, mas o meu Francis não admitiu uma coisa dessas... jamais ele confiaria em deixar-me sozinha com uma parteira e mais umas senhoras idosas e experientes da zona para dar à luz o seu primeiro filho, então fez um grande espetáculo para o deixarem ficar lá... Tu sabes lá a complicação que deu..." Riu-se de novo. "Ele berrava mais do que eu! Rezava a todos os santos, parecia que me estava a ver morrer, e se queres que eu te diga, nem estava a doer assim tanto. A parteira teve de mandar chamar o meu pai, para o meterem dali para fora, que só estava a atrapalhar... Eu tinha a tua idade, mas nessa altura não era considerado cedo ter filhos com a idade que tu tens... era o normal padrão, eu até já estava casada... Se bem que nós casámos por eu estar grávida, e há sessenta anos atrás estar grávida e solteira era um escâdalo, não era suposto fazermos essas coisas até sermos casadas, e o meu filho até foi dado como permaturo... mas não era permaturo coisa nenhuma, nove meses certinhos e direitinhos... só que quando casei já ia de quase três meses." Riu-se. "E vocês minha linda? Para quando está o casamento?" Olhou para o meu dedo. 

"Na quarta-feira... mas não vai ser nada de especial. Não vai haver vestido nem nada dessas coisas. Vamos ao cartório, assinamos os papéis e já está, mas se quiser ir assistir, pode ficar à vontade." 

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