O Poço

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Fechou a porta do carro devagar, como se lhe faltasse a força, encostou-se a ela e as suas costas deslizaram no metálico frio do carro até ficar sentada no alcatrão, com a cara escondida nos joelhos fletidos. 

"Nathalie..." Chamei o seu nome num tom mais normal mas ela não respondeu nada além de soluços de choro. "Sugar..." Aproximei-me dela e peguei-lhe na mão para a ajudar a levantar-se e assim que o fez escondeu a cara no meu pescoço. 

"Desculpa... eu faço o melhor que consigo. A sério que faço..." 

"Eu sei..." Suspiro e passo os dedos no seu cabelo ao aperceber-me que mais uma vez fui uma besta para ela, sem a menor razão. "Desculpa, eu não devia ter falado assim contigo. Tu és uma mãe maravilhosa." Abanou a cabeça negativamente. "És sim... tu és uma ótima mãe. Eu tenho muito orgulho em ti, Sugar... muito mesmo." 

"Porque é que nós não podemos ser normais? Porque é que não podemos falar como um casal normal, e ter uma vida normal?"

"Nós estamos a fazer tudo o que podemos para ser uma familía normal, e vamos conseguir, mais cedo ou mais tarde." 

"Eu odeio que tu faças o que tens de fazer... eu tenho medo que te aconteça alguma coisa... tu não és assim Kev... tu não és um..." Não terminou a frase. 

"Não... eu não sou. Eu também não gosto, só o faço porque tem de ser. Só durante mais algum tempo... vai ficar tudo bem. Anda lá... entra no carro, vamos para casa." 

Deixei o carro estacionado em frente à porta de casa. Ela pegou no Liam e levou-o para dentro, enquanto eu escondo o que me sobrou para vender amanhã no guarda-luvas do carro. Entrei em casa, e ela já tinha colocado o Liam a dormir. 

Sentei-me no sofá apenas a olhar para as paredes e a pensar sobre aquilo que anda a fazer... eu estou a pedi-las e sei disso... devia deixar-me disto o mais rápido possível.

"Não vens para a cama, Spice?" Perguntou da ponta das escadas. 

"Já vou..." Assentiu e sorriu. Eu preciso de um segundo emprego que não seja vender droga... preciso mesmo. Subi as escadas e deitei-me ao seu lado. "Nathie?"

"Hm?" Não abriu sequer os olhos.

"Preferias nunca ter-me conhecido?" Abriu os olhos e acendeu a luz para olhar melhor para mim.

"Que pergunta é essa, Kev? É claro que eu não preferia não ter-te conhecido..."

"Não... a sério, Sugar. Pensa em como teria sido a nossa vida se não nos tivessemos conhecido. Tu estavas em Nova Iorque, a tirar o teu curso na universidade... a divertires-te com os teus novos amigos... ou teus pais iam pagar-te os estudo e um teto até que tu tivesses trabalho... depois ias ter um bom emprego, um bom apartamento em NY, ias conhecer alguém na faculdade que realmente valesse a pena... ele ia ser uma pessoa normal... ia tratar-te bem. Não ia tirar-te do sério, nem ia discutir contigo como eu discuto. Iam ser um casal de pessoas racionais e mentalmente sãs, então ele não ia engravidar-te... e depois iam viver juntos, e ter uma casa em condições... só iam ter filhos quando tivessem a vida preparada, e iam ter tudo o que precisavam para lhe dar... se o Liam fosse filho de outro pai ele não ia passar aquilo que eu sei que ele vai passar... ia ter uma boa infância... ia poder brincar na rua com outras crianças normais." 

"Kev... eu não queria estar com mais ninguém. Eu não me imagino a viver a minha vida com mais ninguém que não sejas tu. E és o melhor pai que conheço... nunca questiones o quanto fazes por mim, pelo Liam e por toda a gente desta casa. Eu sei que às vezes dizes coisas sem pensar e que eu aprendi a fazer isso contigo... sei que às vezes dizes aquilo que achas que vai doer mais de ouvir, e eu apanhei esse hábito de ti... Mas também sei que não queres mesmo dizer nada do que dizes... e eu também não, Spice... sempre que eu digo que te odeio, que não quero estar contigo, que quero deixar-te... é tudo mentira... Nem que eu quisesse... eu não poderia viver sem ti."

"Eu não preciso de me dês essa conversa da treta para me sentir melhor... só faz pior, porque dá a sensação de que dizes isso por pena de mim."

"A última coisa que sinto por ti é pena... eu posso até odiar-te antes de ter pena ti."

"Eu às vezes odeio-te mesmo, sabias? E eu sinto-me uma merda quando sinto que te odeio... às vezes eu penso mesmo como seria se não te tivesse conhecido... não é que eu não queira o Liam... ele foi das melhores coisas que aconteceu na minha vida e é por ele que eu me levanto da cama todas as manhãs... mas a vida poderia ser diferente... para nós os dois. Eu sei que tu tens sempre uma visão mais romântica da vida... mas olha a tua volta Nat... se isto já alguma vez foi uma história de amor, agora já não o é... Nós estamos presos nesta vida. Para sempre... E não vai melhorar... com o Liam a crescer aqui, cada ano que passar vai ser mais difícil de o manter na linha e longe de coisas erradas. Olha para mim... eu cresci aqui e olha no que me tornei... uma pessoa insensível, pragmática... que faz o que for preciso. Eu já me meti em tudo o que há de errado... eu já roubei, eu já usei droga, já participei em lutas ilegais, engravidei-te, e agora participo no tráfico... o que é que me falta para ser um pior exemplo possível para o Liam?" 

"Podes ver isso dessa prespetiva... ou podes pensar que tudo o que já fizeste foi para cuidar da tua família... nunca mataste ninguém, Kev... nunca fizeste nada por pura maldade... só por fazer. Nunca magoaste ninguém que não se tenha habilitado a sair magoado."

"Tu ainda não te apercebeste, pois não? Nós somos a margem da sociedade... somos o que de pior ela tem para oferecer. Somos as pessoas que são olhadas de lado na rua. E embora não tenhas nascido disto, agora és parte deste lugar... embora tenhas nascido menina de colo, berço de ouro, e tenhas vivido uma vida normal e previligiada agora também estás na margem... sabes o que é que as pessoas pensam quando te vêem? Elas pensam que és mais uma miúda parva e cega que se deixou abusar por um delinquente marginal, e que acabou grávida e sem poder fazer nada para mudar isso... as pessoas acham que tu estás comigo por causa do Liam... elas acham que assim que ele for mais velho eu te vou meter fora daqui e que vais ficar sozinha com o nosso filho... acham que estás destinada a ser mãe solteira... daquela que tem de ir fazer umas noites no strip para alimentar o teu filho... acham que eu vou lixar-me para vocês e acabar um drogado bêbado igual ao meu pai... é assim que as coisas acontecem aqui."

"Por ser o que acontece com os outro não quer dizer que vá acontecer connosco... pois não?"

"Sabes o que é que é pior?" Suspirei. "É que eu não sei... eu não adivinho o futuro, mas a nossa vida está demasiado parecida com outras vidas em que tudo aquilo aconteceu."

"Não precisa de acontecer connosco. Nós vamos provar a toda a gente que acha isso que nós não vamos seguir o padrão desta história... nós vamos sair deste poço, Kev... eu ainda não sei como, mas nós vamos sair..."

Hey babes <3 Sim... eu sei! Foram quase 3 meses sem publicar esta história, DESCULPEEM!! Espero que gostem deste capítulo pequenito.O que é o que Kev quer dizer com esta história toda? :o

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Kiss <3

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