"Quando as saudades apertam..."

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"Eu sei que tenho... eu sei que te estou a dever um favor enorme depois do que fizeste hoje..."

"Tu não me estás a dever nada, Sugar... esquece isso." Está com uma expressão fechada e nem olha para mim.

"Desculpa..." Baixei o olhar.

"Não é a mim que tens de pedir desculpa... não fui eu que fui drogado e quase violado." Olhou-me fixamente, forçando-me a olhar para os seus olhos. "Tu confias demais nas pessoas... e confias nas pessoas erradas. No fundo isto também é um pouco culpa minha. Tu conheceste-o numa das únicas noites em que não fui atrás de ti até à estação. Eu devia ter ido. As coisas só acontecem quando eu sou demasiado orgulhoso para ir..." Encolheu os ombros. "Mas ainda assim, não estou a tirar as culpas de cima de ti. Porque sim! Tu tens a culpa. Quem te mandou envolveres-te com um gajo qualquer que não conheces de lado nenhum? O que é que ele te disse? Que eras especial? Que eras linda? Essas baboseiras todas? Aposto que se fez passar por menino de ouro do bairro... não foi? O menino de ouro que conseguiu um futuro estável em South Side..."

"Aham..."

"E tu acreditaste que, saído de um lugar como este, ele tinha aquele carro, as roupas de marca, dinheiro para esbanjar através de um trabalho honesto?" Soltou uma risada. "Porque é que és tão ingénua?"

"Desculpa... eu não consigo ver maldade nas pessoas se essa maldade não estiver estampada à frente dos meus olhos."

"Mas estava estampado à frente dos teus olhos! Só não vias se não querias! Eu avisei-te, mas tu não quiseste saber do que eu disse! Tu nunca queres saber do que eu digo!" Levantou a voz.

"Eu já pedi desculpa..." Senti os meus olhos ficarem molhados, o que não é muito normal, porque nas discussões que tenho com ele costume ficar firme. "O que é que queres mais?"

Suspirou e olhou para cima quando se apercebeu de que eu estava prestes a começar a chorar.

"Nada! Não quero mais nada." Soprou para o ar. "Fica aqui... dorme, faz o que tu quiseres. Mas não saias daqui. Eu preciso de ir dar o jantar aos meus irmãos." Eu apenas assenti. "Não saias mesmo daqui! E muito menos tentes descer as escadas... ainda te magoas." Saiu do quarto e fechou a porta.

Escorrei pelos lençóis para me deitar de novo, aconcheguei-me nos cobertores e fechei os olhos.

Ponto de vista do Kev

Quando regressei ao quarto, após dar o jantar aos miúdos ela estava a dormir de novo. Sentei-me na mesma cadeira a olhar para ela e a pensar na quantidade de vezes que desejei tê-la aqui no último mês... e agora está mesmo aqui, embora não seja pelas melhores razões, ela está exatamente onde quero que esteja.

No entanto hoje não consigo olhá-la com o desejo do costume... sim, continua absolutamente perfeita, sem dúvida de todas as que já vi até hoje ela é a minha preferida... Sim, eu sei que não faz o meu género... mas eu gosto do que eu gosto, porque é que não posso quebrar o padrão e gostar de alguém de que realmente valha a pena gostar em vez de me ficar com as galdérias das redondezas? E é neste momento que paro por um minuto para pensar: uau Kevin... como conseguiste isto? Ela é das boas...

Não sei se devo acordá-la ou não, está a mexer-se e coma respiração acelerada já há uns bons cinco minutos, mas falta-me a coragem. Se estiver a sentir-se mal ela vai acordar sozinha. E foi isso que acabou por acontecer, cerca de cinco minutos depois.

"Vejam que acordou..." Não consegui esconder o sorriso que teimava em formar-se no meu rosto. Ela olhou para mim, com um ar assustado, ainda com a respiração acelerada. Levantou-se da cama e começou a olhar em volta. "Ei, ei ei... calma. Está tudo bem, relaxa." Levantei-me da cadeira e fui até ela, segurei nos seus ombros, sem aplicar força, porque ela ainda me parece bastante confusa. "O que é que estás a fazer? Estás à procura de alguma coisa?"

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