"Vida de merda"

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Estou fora de casa outra vez, a meio da noite, com os bolsos cheios de coca, numa esquina pouco iluminada e a pensar no conforto da minha cama e dos braços da minha Sugar... impaciente para vender tudo e puder correr para casa e olhar para o Liam a dormir até cair no sono. O telemóvel vibrou no meu bolso. Ela parece ter lido os meus pensamentos e sorri ao ver o seu nome no ecrã. 

"Olá, Sugar..."

"Kev, vem para casa! Por favor! Vem já para casa! Agora!" Pela sua voz parece estar a chorar em desespero. 

"Eu vou! Calma." Comecei a correr para casa nesse examo momento. "O que é que se passa?"

"Não sei... o Liam, ele está com muita febre, e está a chorar! E depois parou de chorar e começou a ficar meio roxo, e depois voltou a chorar e a febre está a subir e eu já fiz tudo o que sabia para baixar a febre e ele está a chorar tanto que fica com falta de ar, temos de ir ao hospital, eu não sei o que fazer!"

"Calma, Sugar! Respira tu também... prepara-te a ti e a ele para sairem de casa e espera-me na entrada com as chavas do carro. Estou aí em cinco minutos." 

Quando cheguei ela já estava na entrada com o Liam ao colo e as chaves do carro. O choro dele ouve-se a milhas. Ela atirou as chaves para as minhas mãos enquanto desce as escadas da entrada e se senta no banco de trás para o prender na cadeirinha. 

"Eu sabia... eu sabia que isto ia acontecer..." Soluça no banco de trás. 

"Se sabias porque é que não fizeste nada para o evitar?" A minha voz saí mais aspera do que é minha intenção. 

"Eu sabia que não conseguia cuidar de um bebé! Eu sabia que ia fazer asneira mais tarde ou mais cedo... a culpa é minha... a culpa é toda minha..."

"A culpa não é tua!" Tento a todo o custo não retirar demasiada atenção da condução, enquanto a sem sucesso, a tento acalmar. 

"É sim! Eu fiz alguma coisa de errado, e eu não sei o que foi... e agora ele está assim."

"Os bébes ficam doentes... simplesmente acontece." 

"Não devia acontecer!" Gritou comigo, como se eu tivesse culpa. 

"Pois mas acontece!" Gritei de volta. "Engole o choro e comporta-te como a mãe que és!"

"Não me digas para engolir o choro!" Levantou a voz ainda mais, se é que isso é possível.

"ENGOLE O CHORO! PÁRA DE GRITAR OU EU VOU ESPETAR-NOS AOS TRÊS CONTRA UM POSTE!" 

"Então concentra-te a conduzir, em vez de te concentrares a gritar comigo!"

"Então para de gritar!"

"EU NÃO ESTOU A GRITAR!" 

"O Liam está a chorar!"

"Eu sei!" 

"Faz alguma coisa!" 

"Eu não sei o que fazer, ok? Eu não sei!" 

Ao fim do que pareceu uma eternidade consegui chegar ao hospital. Tirei o Liam da cadeirinha e levei-o ao colo até à entrada, enquanto ela só anda atrás de mim, a tremer como uma vara verde. 

Felizmente, deram-nos prioridade por ser um bebé, e mal entrámos fomos chamados para a ala de pediatria. A médica sorriu e tirou-o dos meus braços assim que entrámos no consultório. 

"O que é que temos aqui?" Olhou para ele e deitou-o numa maca em ponto pequeno. "É o pai?" Perguntou, sem olhar para mim. 

"Sim..."

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