Noite conturbada

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A lua cheia brilhava no céu noturno se Maya, cercada por milhares de estrelas que formavam suas constelações.

Sobre o distrito subterrâneo de Uni, a unidade de Reno Hon fazia a patrulha. Ryu Hon e seus dois primos, além de mais dois soldados da unidade do pai do jovem estavam sentados em uma depressão no solo rochoso da montanha, cumprindo o turno deles de vigia.

Eles tinham sido designados para ajudar com a guarnição da propriedade do Lorde Gyon Jinx. Um membro da linhagem Prata dos Jinx que trabalhava como chefe das finanças da cidade.

Gyon Jinx possuía sua própria unidade militar responsável por sua segurança, mas seu primo, que era o Senhor da Cidade, achava que seria bom o chefe das finanças ter um pouco mais de guardas.

A propriedade de Gyon Jinx ficava em uma região um pouco isolada de Uni. Se tentassem chegar pelo portão principal, as pessoas teriam que andar mais de um quilômetro em um túnel mal iluminado com luzes artificiais até chegarem ao portão reforçado que era a entrada para os jardins do nobre.

Mas existia outra maneira de chegar até a propriedade. Um buraco tinha sido criado no topo do jardim para que o Lorde pudesse observar a lua e as estrelas com seus convidados quando fizesse suas festas. O buraco ficava vinte metros acima do jardim e além dele se encontrava a superfície do Monte Fuu. Uma região rochosa de acesso bloqueado pelos militares, com muitas depressões e trilhas.

- Essa noite está fria. - Um dos soldados disse enquanto esfregava os braços com força.

- Pelo menos não está chovendo. – Saka Hon falou calmamente enquanto mastigava um duro pedaço de carne.

- Ficaram sabendo do ataque ao blindado dois dias atrás? – Ziko Hon perguntou de repente. - Um amigo meu faz parte de uma das unidades atacadas. Ele falou que foram atacados por quase uma centena de homens dentro das ruas da cidade. Uma centena!

- Com todos esses problemas com as facções, agora temos bandidos dentro dos muros... são tempos difíceis.

Saka Hon comentou balançando a cabeça para os lados. Ao seu lado, Ryu Hon se remexeu inquieto.

- O que foi?

- Um amigo da Academia esteve presente no ataque.

- O tal de Xi Zhang? – Ziko Hon perguntou curioso.

- Não. Foi outro.

- Nosso priminho está cheio de amigos agora. - Gracejou Ziko Hon com um meio sorriso.

- Não sei como suportam alguém tão emburrado quanto você. - Comentou Saka Hon ainda mastigando a carne.

- Como se você pudesse dizer algo. - Rebateu Ryu Hon.

Os três começaram a rir. Apesar de todos os problemas no distrito comercial e industrial. A zona nobre continuava calma e inabalável.

- Ei, Saka. Me dê um pouco de carne também. – Ryu Hon pediu esticando a mão esquerde em direção ao primo.

Algo o acertou no braço no exato momento em que ele pegava a carne das mãos de Saka Hon. O braço foi jogado para o lado e uma dor explodiu no jovem logo abaixo do ombro.

Antes que Ryu Hon conseguisse gritar de dor, Saka Hon pulou sobre ele, derrubando-o no chão duro.

- Fique quieto! – Saka Hon falou com firmeza no ouvido de seu primo enquanto olhava em volta.

- Como ele está? - A voz de Ziko Hon surgiu preocupada, não muito distante deles.

- Uma flecha no braço. – Saka Hon respondeu examinando o braço esquerdo do primo mais novo. - E do seu lado?

- Jiko já era. - A voz de Ziko Hon ficou um pouco raivosa. - O desgraçado o acertou na garganta.

- Gojo? – Saka Hon então chamou pelo último membro da equipe de vigilância.

- Vivo. - Gojo disse simplesmente. - Estou com os desgraçados na mira. Vou começar a caça-los.

- Quantos são? - Saka Hon perguntou, levantando um pouco a cabeça. Mal ele a ergueu e teve que baixa-la novamente quando uma flecha passou assobiando sobre sua cabeça.

- Dois. Armados com arcos. Mantenha-se abaixado, idiota.

Assim que terminou de falar, Gojo disparou sobre um dos inimigos. Ryu Hon que estava abaixado sobre o corpo do primo só teve tempo de ouvir um estalo seco quando a escorpioneta entrou em ação.

Ryu Hon sabia que Gojo era um atirador de elite na unidade de seu pai. Ele era tão bom que seu pai tinha o presenteado com a escorpioneta que ele estava usando no momento. Uma pesada besta feita de metal, que podia deixar carregada em seu interior cinco dardos pesados o suficiente para atravessar um homem de armadura leve.

Os primos ficaram em silencio, esperando agachados no escuro, de repente algo acertou o chão rochoso não muito distante deles.

- O desgraçado tem uma boa mira, para alguém que só está usando um arco rustico. – Mal Gojo terminou de falar e os primos ouviram outro estalo da escorpioneta.

Dessa vez, além do estalo, eles ouviram um grito de dor vindo de algum lugar na escuridão da noite.

- Venha comigo, Ziko.

Gojo se levantou, ainda apontando sua escorpioneta para a direção de onde vieram as flechas e levou Ziko Hon, que já tinha sacado sua da'mashas, para verificar os inimigos abatidos.

Saka Hon puxou Ryu Hon para que ele se sentasse e começou a trabalhar rapidamente na flecha no braço do primo. A arma tinha acertado o lado de dentro do bíceps, mas não tinha penetrado muito fundo por causa do colete pressurizado. Saka Hon removeu a flecha com eficiência sem causar nenhum dano ao braço do primo, aliviado por ser uma simples ponta de flecha triangular sem farpas nas laterais.

Ryu Hon teve o braço enfaixado para impedir o sangramento. Ele sentia uma dor suportável e sabia que não conseguiria mover o braço esquerdo por um tempo. Juntos, eles foram até Ziko Hon e Gojo que estavam em volta de um dos atacantes. O homem tinha sido atravessado logo abaixo do peito esquerdo pelo dardo da escorpioneta e tinha sofrido bastante antes de dar o último suspiro, estava claro isso pela sua expressão de dor.

- Vejam isso. – Gojo falou enquanto passava para Saka Hon o arco do homem. - É feito com chifre de Bacau.

- Bacau? Mas não são os...

- Sim, é o tipo de arma usada pelos Clãs Exilados.

- Um clã atacando Fuujitora? – Saka Hon estava em choque. Descrente com aquela informação. – Eles nunca foram loucos ao ponto de tentar algo assim.

- Parece que agora eles são. – Gojo se ergueu verificando os arredores. – Mas isso não é o pior. Não consigo entrar em contato com o Tash.

Os olhos de Saka Hon se arregalaram e ele rapidamente levou sua mão até o elmo, apertando com precisão o botão que ativava o comunicador com o líder da unidade. Mas não houve nenhum sinal de comunicação se estabelecendo.

- Cortaram nossa comunicação? – Ryu Hon perguntou com um pouco de dor enquanto observava os outros três soldados.

- Normalmente os exilados não possuem esse tipo de tecnologia, algo está tremendamente errado aqui. – Gojo disse, cuspindo em seguida no chão.

- O que faremos? – Ziko Hon que tinha permanecido agachado ao lado do corpo do homem abatido por Gojo finalmente tinha se levantado. Ele tinha procurado por qualquer coisa que identificasse o indivíduo, mas não teve sorte.

- Vamos até a Casa de Vigia, rezemos aos Padrinhos para que tudo esteja bem por lá.

- E se não estiver? – Ryu Hon perguntou o que estava na mente de todos eles. A grande preocupação que começava a afligir a mente dos quatro.

- Então precisaremos nos preocupar se o Lorde está em segurança!

As crônicas de Maya - A saga do Império Izar - Parte IOnde histórias criam vida. Descubra agora