Xi Zhang dava suporte emocional a Ryu Hon ao seu lado. Eles estavam em formação, milhares de militares, na pista de pouso para as naves militares. Os soldados formavam várias fileiras ombro a ombro cercando perfeitamente a pista de pouso formando um gigantesco retângulo com suas linhas desenhadas pela massa de homens e mulheres.
Nenhuma nave estava em terra no momento, todas flutuavam acima do complexo militar, fazendo perfeitos círculos sobre a cabeça de todos. No centro da pista, várias piras feitas de madeira tinham sido colocadas e sobre elas estavam mais de cem homens e mulheres.
Os membros da unidade de Reno Hon, assim como os guardas e servos do Chefe das Finanças estavam deitados com os corpos cobertos por mantos negros sobre as piras. Xi Zhang sabia o quanto era doloroso para Ryu Hon ver aquela cena. Seu pai, primos e companheiros de unidade estavam todos mortos.
Xi Zhang tinha alguns companheiros lá também. Os poucos que morreram quando eles lutaram na cozinha. Ele apertou o cabo de sua almashas ao se lembrar disso. Yga Wen tinha lhe dado a arma do homem que eles tinham capturado. O próprio Tash portava uma em sua cintura.
Com a ajuda do brasão do Senhor da Cidade, a unidade de Yga Wen tinha ficado incrivelmente mais forte. Ele tinha conseguido recrutas para completar o desfalque de seus homens que pereceram em combate. Conseguido equipamentos melhores que seriam muito uteis para a próxima missão que tinham recebido, estavam todos armados com da'mashas e quatro deles com alfings. O clima entre os soldados estava bastante tenso.
- Hoje nos despedimos desses bravos companheiros. – O Aush, oficial de mais alta patente na base militar de Fuujitora obedecendo diretamente ao Senhor da Cidade, começou a falar com a ajuda de um alto falante. - Nossos tempos de paz são ameaçados por terroristas, vermes sem corações que ousam ameaçar nosso Império. Eles resolveram agir aqui, em Fuujitora, e mataram nosso honrado Chefe das Finanças e levaram nesse ato mais de cem vidas. Escória!
- Escória! - Rugiram os milhares de soldados.
- Não deixaremos nossos bravos companheiros que pereceram cumprindo seus serviços serem desonrados. - O Aush continuava falando. - Iremos caçar essa escória, limparemos nossas ruas desse lixo manchado de sangue. Nosso Senhor já deu a ordem, a cidade está lacrada, ninguém entra nem sai até que a situação esteja sobre controle. Quando deixarmos a base hoje, iremos as ruas prontos para derramar sangue pelo bem do futuro de nosso povo.
- Pelo futuro de nosso povo! – Esbravejaram os militares pisando com força no chão.
Xi Zhang olhou em volta, vendo a intensidade nas expressões de cada soldado ao seu redor. Estavam todos bastante abalados com tudo que tinha acontecido, mas estavam prontos para honrar as memorias de seus companheiros deitados sobre as piras.
Um alvoroço começou em meio as fileiras de soldados e um corredor se abriu enquanto cinco figuras usando mantos passavam em direção ao centro da pista de pouso. Cada uma daquelas pessoas usava um mando de cor diferente e passavam uma presença diferente.
Aqueles eram os sacerdotes dos padrinhos. Uma senhora com o cabelo preso e usando um manto vermelho vinha no canto esquerdo, ao seu lado estava um homem alto e musculoso de manto marrom com uma farta barba. Ao lado desse homem estava uma outra mulher de manto preto com um longo cabelo escuro indo até o centro das costas. E aquele que estava no canto direito usava um manto cinza com várias bandagens sobre o corpo, como se escondesse uma vasta gama de queimaduras ou alguma doença contagiosa.
O último homem de manto que liderava os outros sacerdotes, usava um manto branco, era um senhor de idade avançada que andava lentamente em direção ao centro da pista de pouso. O velho parou e olhou em volta, acertando sua posição encurvada. Os outros quatro sacerdotes pararam atrás dele.
- Quando nascemos. – O velho começou a falar com uma potente voz ampliada. – Shin'Sa nos desperta com honestidade e honra. – A mulher de manto vermelho foi até a frente, se ajoelhou e começou a orar. – Durante a vida, Shoukam nos faz trabalhar duro em busca da prosperidade e Ukshi apresenta as mudanças em nossos destinos. – O homem de marrom e o de bandagens foram até a frente e se ajoelharam fazendo também uma rápida oração enquanto permaneciam ao lado da mulher de vermelho. – Quando o fim chega, Yon'Tal recebe e guarda nossos mistérios e segredos. A vida possui um início, um meio e um fim. A de nossos companheiros chegou ao fim, mas as nossas ainda estão no meio, devemos honra-los e não deixar que seus sacrifícios tenham sido em vão. Somos o povo de Izar, somos o povo das Terras Altas, somos a semente do amanhã. Oremos pelas almas de nossos companheiros.
Todos os militares colocaram o punho direito dentro da mão esquerda e curvaram a cabeça em direção ao centro da pista de pouso. Os sacerdotes continuaram rezando em silencio pelas almas dos soldados e servos. Logo o momento chegou e eles avançaram em direção as piras.
Cada sacerdote se agachou ao lado de uma pira e no momento seguinte as chamas lamberam a madeira. Eles continuaram seguindo em meios aos falecidos soldados e servos, ascendendo suas piras funerárias. Aquele era o enterro digno dos soldados. O enterro digno de heróis que deram suas vidas em serviço.
Alguns homens murmuraram algumas últimas palavras antes de se virarem e começarem a deixar a pista de pouso. Aquela era a última despedida deles para com seus velhos companheiros, era algo rápido e silencioso, mas era o bastante para os mortos.
Xi Zhang apertou o ombro de Ryu Hon, seu amigo permanecia em silencio, olhando para as piras acesas, sabendo que seus parentes se encontravam ali em algum lugar, sem vida.
- Olhe. – Xi Zhang disse surpreso.
Ryu Hon ergueu a cabeça assim como os soldados próximos a eles e viu uma chuva de confetes prateados caindo do céu. Algumas naves estavam fazendo suas oferendas aos falecidos soldados, um último símbolo de companheirismo.
Os dois garotos permaneceram juntos, observando as chamas e a chuva de confete que flutuava pelo ar. Eles esperaram pacientemente enquanto os soldados iam deixando a praça um a um. Pouco a pouco o número de militares presentes foi diminuindo até que só os parentes ou amigos bem próximos dos falecidos continuavam lá.
- Eu vou com você. – Xi Zhang disse ao lado do amigo.
Juntos, eles seguiram até uma parede verde escura no canto da muralha da pista de pouso, algo que tinha passado despercebido na primeira vez que Xi Zhang estivera ali. Lá, eles viram uma gigantesca sequência de nomes, milhares deles, e bem lá no final se encontrava um grupo recém esculpido na parede retangular verde.
- Todos eles foram homenageados com honra. – Xi Zhang disse observando o mural dos caídos.
Ryu Hon observou calmamente tudo aquilo, ele viu o nome de seu pai e de seus primos. Aquela era uma homenagem bastante honrosa, somente os soldados mais fiéis e condecorados que caíram em batalham recebiam a honra de ter seu nome gravado ali. E todos os soldados que deram suas vidas para tentar defender o Chefe de Finanças eram considerados isso. Por mais que não tivessem conseguido salvar o senhor deles, eles conseguiram salvar o seu herdeiro. E o Senhor da Cidade era grato pelo menos por isso.
- Vamos, Ryu Hon. – Xi Zhang puxou o amigo pela manga da camisa. – Temos muito trabalho a fazer.
Estão gostando da historio? Não esqueçam de curtir e comentar a história para ajudar a divulga-la. Grato.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As crônicas de Maya - A saga do Império Izar - Parte I
Science FictionO mundo de Maya sofreu uma grande calamidade que quase o destruiu. Civilizações inteiras foram destruídas e as que sobreviveram estavam fraturadas. 600 anos após a grande catástrofe, Maya volta a ser povoada por vários reinos e impérios onde sábios...