O Culto da Noite

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Sentada em uma cadeira de madeira com as pernas apoiadas na quina da mesa retangular, Xou Gim bebia diretamente de uma jarra de barro uma bebida forte chamada de Sangue da Noite. Era uma forte bebida alcoólica feita por alguns Clãs Exilados e Xou Gim tinha se afeiçoado bem a ela, sentindo um prazer na sensação de queimação que a bebida tinha quando descia pela garganta até a base do estomago.

Xou Gim estava dentro de uma sala escura e mal iluminada, sua longa lança modificada repousava sobre a mesa retangular ao lado de seu elmo enquanto ela tomava gole após gole da jarra de barro. Seu braço direito pendia ao lado do corpo com um estranho brilho metálico nas pontas de seus dedos.

Ela ergueu a jarra para tomar um novo gole quando ouviu passos se aproximando pelo corredor do lado de fora da sala onde ela estava. Um homem alto para os padrões das Terras Altas entrou na sala, um olhar de reprovação quando viu que ela estava bebendo mais uma vez.

- O que você quer? – Ela perguntou mal-humorada, tomando mais um gole e então abaixando a jarra.

- Um batedor deles voltou. – O homem falou friamente. – Eles parecem bem irritados agora.

Xou Gim olhou para o homem por um momento antes de desviar os olhos para a jarra em sua mão esquerda. Tudo que ela queria era beber em paz para aliviar a dor de sua perda, mas parecia que a única coisa que ela não teria ali era paz.

Ela colocou a jarra de barro sobre a mesa e se levantou com um grunhido de insatisfação, pegando sua lança com a mão esquerda e deslizando a direita pela superfície da mesa. O homem encarou os dedos dela, ou melhor dizendo, as garras metálicas que substituíam os dedos que ela tinha perdido meses atrás enfrentando os imperiais.

- O implante ainda está incomodando? – O homem perguntou, dando um passo para o lado para que ela pudesse passar ao lado dele para dentro do corredor pelo qual ele tinha vindo.

Um grunhido escapou dos lábios serrados dela enquanto ela avançava pelo corredor mal iluminado, as paredes e o teto eram de pedra bruta e um lampião ou outro de pedras alquímicas iluminavam fracamente o caminho, refletindo nas placas metálicas da armadura dela.

Flexionando as garras que substituíam seus dedos, Xou Gim amaldiçoou o Tash que ela tinha enfrentado no Vale do Mar de Pedras. Ela tinha sido pega de surpresa no movimento repentino dele e acabou pagando por isso com a perda de seus dedos da mão direita. Ela tinha recebido o implante das garras logo em seguida, ganhando novas armas para poder retalhar seus inimigos, mas ao mesmo tempo ela tinha perdido muito da sua maestria com a lança.

O corredor onde ela e o homem estavam terminou em uma grande galeria feita de rochas brutas com estalactites e estalagmites se projetando de todos os lados, alguns até mesmo se conectando e formando estranhos pilares pela galeria.

Olhando em volta, ela viu mais alguns de seus subordinados. Os poucos membros da elite que tinha sido sua unidade particular, reduzida no momento a pouco mais de quarenta deles.

- Onde eles estão? – Ela perguntou olhando em volta, não percebendo a presença de nenhum dos membros do segundo grupo que estava ali.

- No templo. – O homem respondeu azedamente.

Xou Gim deu um olhar a ele em aviso. Ela também não gostava nada dos atuais aliados deles, mas ela sabia o quanto podia demonstrar isso e o quanto não podia.

O homem desviou o olhar, não querendo discutir com ela sobre o assunto. Xou Gim suspirou e fez um gesto para alguns de seus subordinados presentes na galeria, todos se juntaram a ela enquanto ela seguia para uma galeria maior batizada de O Templo da Noite pelo segundo grupo que tinha se aliado a eles ali.

As crônicas de Maya - A saga do Império Izar - Parte IOnde histórias criam vida. Descubra agora