A resposta de Aka Gim

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Sentado nas sombras de seu quarto, Ichi Gim afundava contra a poltrona acolchoado enquanto pensava em tudo que tinha acontecido nos últimos meses desde a derrota em Iseka.

Ele ainda sentia um gosto amargo na boca sempre que se lembrava de tudo que tinha perdido, de seus subordinados, de sua frota, de suas conquistas, tudo jogado na lama pelos imperiais.

E a perseguição pela frota imperial após a perda de Iseka tinha sido o mais humilhante, tanto que ele tinha tido que abandonar todas as naves que tinham sobrado para poder escapar com vida e tendo pouco mais de cem subordinados ainda com ele quando chegou no esconderijo de seu irmão.

O pior de tudo foi a recepção fria que seu irmão tinha lhe dado quando chegou ao esconderijo. Aka Gim o recebeu com um olhar gélido e poucas palavras gentis, perguntando rapidamente se estava ferido, quantos tinham sobrevivido e se tinha alguma chance dele ter sido seguido.

Após responder as rápidas perguntas de seu irmão mais velho, ele tinha sido confinado ao aposento que tinha lhe sido entregue. Ele tinha sido separado do resto de seus subordinados e seu único contato com qualquer outra pessoa era com os servos que lhe traziam comida.

Ou pelo menos foi assim até o dia em que seu irmão o visitou mais uma vez. Aka Gim estava trajando sua armadura completa de enerjom com o elmo sendo a única coisa que faltava. Ele tinha uma capa amarrado sobre os ombros e o capuz jogado para trás, revelando seu rosto cansado e seus olhos frios.

- Perdão por mantê-lo confinado, irmão. – Aka Gim falou enquanto puxava uma cadeira para se sentar. – Mas precisei fazer uma limpeza no seu grupo antes de vim falar com você.

- Uma limpeza? – Ichi Gim perguntou, ele não estava nada confortável com o tom de seu irmão.

- Sim, precisei lidar com todos que não era verdadeiramente leais aos Gim.

Os olhos de Ichi Gim se arregalaram diante da afirmação de seu irmão. Ele era esperto o suficiente para entender o que implicavam as palavras que Aka Gim tinha acabado de dizer.

Ele respirou fundo tentando se acalmar enquanto seu irmão o observava atentamente.

- Vamos nos rebelar? – Ele conseguiu perguntar após um momento, a garganta travada enquanto pensava no que estava por vim.

- Nos rebelar? Acho que essa é a melhor maneira mesmo de nomear o que estamos fazendo. – Aka Gim respondeu se recostando contra o encosto da cadeira onde estava sentado. – Mas eu prefiro dizer que estamos proclamando nossa independência.

Percebendo a confusão na expressão de seu irmão, Aka Gim suspirou e continuou falando.

- Pense comigo, irmão, a Família Kumo chegou ao fundo do posso. Nosso Mestre é o último deles, sem nenhum herdeiro para assumir seu manto futuramente. O pouco poder que conquistamos nos últimos cem anos desde que o Império nos condenou foi destruído nessa última guerra. – Ele fez uma pausa e o cansaço era visível em seu rosto. – Eu não culpo Ele por essa falha, nós éramos simplesmente fracos demais para conseguir o que queríamos e o resultado foi essa derrota esmagadora. Agora, quantos anos mais teremos que nos esconder até que uma nova força de combate que possa enfrentar toda a província seja levantada mais uma vez? Quanto tempo mais teremos que viver como servos?

Ichi Gim ficou em silencio estudando as palavras de seu irmão. Sim, sua Família Gim servia a Família Kumo a mais de cem anos, desde a época em que eles também faziam parte do Império ali na Província das Chuvas Cortantes, assim como as outras famílias que serviam os Kumo no esconderijo. Os Gim eram Bronzes e os Kumo eram Pratas e quando um caiu, o resto deles foi junto.

As crônicas de Maya - A saga do Império Izar - Parte IOnde histórias criam vida. Descubra agora