Irmãos

210 37 8
                                    

Xin Zhang olhava com a testa franzida para as costas de seu irmão mais novo. Xi Zhang já tinha tomado um banho após seu castigo e agora eles se encontravam no quarto do sexto filho de Xen Zhang.

- Aquele maldito do Raim não se segurou mesmo. – Xin Zhang comentou enquanto observava as marcas vermelhas nas costas de seu irmão mais novo.

- Você deveria conhecer ele melhor do que eu. – Xi Zhang comentou enquanto se inclinava para frente no banquinho. – Raim segue todas as regras e ordens ao pé da letra, ele não favorece ninguém.

O quinto jovem mestre dos Zhang soltou um muxoxo enquanto passava nas mãos uma pasta medicinal de coloração verde clara e começava a passa-la nas costas do irmão para ajudar a cicatrizar.

Os Zhang eram umas das poucas Famílias que possuíam acesso a tecnologias medicinais entre outras coisas, mas que evitavam em abusar do uso desses recursos.

Eles alegavam que deveria evitar-se usar recuperações corporais não naturais o máximo possível só abrindo exceções para casos de vida ou morte, ou quem sabe um desmembramento.

- A recuperação natural fortalece o corpo. – Dissera o avô de Xi Zhang uma certa vez enquanto ainda estava vivo.

Xi Zhang se encolhia um pouco e tencionava as costas sempre que a pasta medicinal entrava em contato com as feridas causadas pelos golpes que ele tinha recebido mais cedo.

Para tentar se distrair, ele observou o quarto que não usava a quase um ano. Estava tudo praticamente como ele tinha deixado antes de ir para a Academia. A prateleira com seus livros físicos. Sua cama de solteiro, a pequena mesa onde um tabuleiro estava montado. Tudo continuava o mesmo, mas ele não se sentia o mesmo, tinha presenciado coisas demais e a almashas sobre sua cama era uma prova física de suas mudanças.

- E então? – Xin Zhang falou de repente puxando assunto. – Me conte as novidades, como foi seu ano fora de casa?

Xi Zhang sorriu diante da pergunta do irmão e lentamente foi lhe contando sobre tudo. Sobre suas aulas, seus companheiros de classe, sobre suas boas notas e sobre sua inimizade com Muh Xao.

Quando ouviu sobre o comportamento do jovem de linhagem Prata, o Quinto filho do Patriarca da Família Zhang balançou a cabeça com tristeza.

- Infelizmente ele não é o único que pensa e age assim. – Xin Zhang falou. – Eu tive encontros com outros nobres de pensamentos similares ao desse tal de Muh Xao em minha época na Academia, e ainda encontro algumas pessoas assim hoje em dia.

- Pelo menos Ling Pan não é como ele.

- Ling Pan? Quem é essa? – Xin Zhang perguntou bastante interessado.

Percebendo para onde seu irmão ia querer levar a conversa, Xi Zhang logo desconversou e preferiu contar ao irmão sobre os amigos que tinha feito, principalmente os inteligentes primos Q'wem e o bravo e dedicado Ryu Hon.

O mais novo dos irmãos continuou falando, contou sobre o Teste e o seu primeiro encontro com Arkagim, depois contou sobre suas missões de campo, sobre o derramamento de sangue em Fuujitora e sobre a causa que levou ao seu castigo.

Quando terminou de falar sobre seu ano na Academia, Xi Zhang se deitou de bruços sobre a cama sentindo que um peso tinha deixado seus ombros, era bom desabafar um pouco sobre as coisas que aconteciam durante a vida, principalmente aquelas que causavam um pouco de pressão.

Xin Zhang observou o irmão, percebendo que o jovem Xi Zhang já não era um garoto inexperiente e inocente como tinha sido um ano atrás. Ele tinha vivenciado e sobrevivido ao lado mais escuro desse mundo no qual eles viviam.

- Deixarei você descansar um pouco. – Xin Zhang falou já se levantando, só de olhar para seu irmão mais novo ele podia dizer que ele estava apagando de sono.

Xi Zhang grunhiu alguma coisa irreconhecível para o irmão e fechou os olhos, mergulhando rapidamente em uma completa inconsciência que rapidamente se encheu de sonhos agitados.

O jovem se viu correndo pelas ruas de Fuujitora, viu seus inimigos correndo de um lado para o outro, viu seus companheiros lutando, combatendo e sangrando conforme formas encapuzadas surgiam de todos os lados para ataca-los.

Xi Zhang estava desarmado, ele corria e corria e para onde quer que olhasse via caos e destruição. Via morte, via sangue e desespero.

Ele continuou correndo e então entrou em um beco estreito. Diante dele se estendia uma vasta escuridão, tão profunda que ele não sabia dizer onde estavam as paredes.

Xi Zhang hesitou em avançar, mas assim que deu o primeiro passo, ele viu algo se movendo nas sombras, um ser encapuzado que parecia olhar diretamente para a alma dele se erguia lentamente.

Uma risada cruel se ergueu, reverberando pelas sombras. Dois olhos vermelhos luminosos se acenderam sutilmente dentro de um capuz, mas mesmo assim o garoto não conseguia ver quem estava ali.

Ele hesitou dando mais um passo para frente e então uma almashas se acendeu, enerjom azul brilhou no beco e os contornos da figura encapuzada ficaram um pouco mais claras, revelando um homem trajando uma armadura blindada completa.

- Você não vai fugir de mim. – Uma voz sussurrou para Xi Zhang.

Lentamente a figura encapuzada começou a avançar, a espada balançando ao lado do corpo e os olhos vermelhos cravados nos de Xi Zhang. O garoto sentiu pavor, medo e desespero naquele momento.

Queria gritar, mas nenhum som saia de sua boca, queria correr, mas seu corpo nunca estivera tão pesado quanto naquele momento. Queria enfrentar aquele ser que vinha na direção dele, mas a coragem lhe faltava para sequer sustentar o olhar de seu inimigo.

- Todos vocês vão conhecer o fim!

A figura encapuzada ergueu a almashas e a desceu com tudo em direção de Xi Zhang que ergueu os braços e gritou de dor quando a lâmina o dividiu em pedaços.

Xi Zhang gritou e se sentou na cama conforme o terror do sonho passava, aquele não era o primeiro pesadelo que tinha depois de tudo que tinha presenciado, mas fazia tempo que não tinha um tão sombrio quanto aquele.

Ele olhou em volta e percebeu um servo agachado ao lado de sua cama com os olhos arregalados de medo.

- Quem é você? – Xi Zhang perguntou ainda um pouco sonolento.

- Pe... Peço perdão, Sexto Jovem Mestre. – O servo que não devia ter mais do que doze anos de idade começou a falar, abaixando a cabeça e evitando olhar para Xi Zhang nos olhos. – Mas o Quinto Jovem Mestre pediu para que eu o acordasse para que não perdesse a festa de boas-vindas.

Xi Zhang olhou em volta se recuperando um pouco dos efeitos negativos do sono e se lembrando de onde estava. Ele não estava com nenhum animo para festas, mas sabia que se recusasse, pioraria sua relação com seu pai e com seu primeiro irmão.

Suspirando, ele saiu da cama e pediu ao servo que lhe conseguisse algumas ataduras para evitar que a pasta que seu irmão tinha colocado em suas costas grudasse na roupa. Em seguida, ele pediu para que o garoto lhe trouxesse as roupas para a festa e quando finalmente estava pronto, partiu para se encontrar com seu irmão.

As crônicas de Maya - A saga do Império Izar - Parte IOnde histórias criam vida. Descubra agora