Capítulo três - Equipe quase completa (Parte 2)

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Na manhã seguinte...

A chegada dos filhos de Eric tinha feito sobre as outras crianças menores o efeito de um fósforo em um barril de pólvora. Como só passaria alguns dias em Tóquio antes de voltar para os Estados Unidos, Rachel decidiu sair para passear e levou consigo os três filhos mais novos, juntamente com Andrew e Sarah, que estavam tristes devido ao sequestro da irmã. Alexia bem que queria ir junto, mas Micaela a convenceu a ficar, já que não achava muito confiável que Rachel saísse sozinha com tantas crianças. Mal a conhecia, mas o fato de ser esposa de Eric fazia com que ela sentisse sérias suspeitas sobre o senso de responsabilidade da mulher. A mais velha, Erika, quis ficar com o pai, assim como Henrique, que se mostrava interessado em acompanhar as investigações.

Porém, novamente Henrique não pôde ficar junto aos mais velhos. Juntamente com Alexia e Erika, foi mandado para um dos quartos, o mesmo onde Hina, mais uma vez, dormia profundamente, alheia aos trágicos acontecimentos ao seu redor. A única criança que se mantinha junto ao grupo de adultos era Riki.

Lá estavam dez guardiões, reunidos no salão. Apesar de não existir um protocolo escrito a respeito disso, pareceu-lhes automático que se posicionassem cada um dentro do respectivo círculo de seu signo, alguns sentados e outros de pé. Ao centro estavam Marco, Sofie e Riki. Depois de ter lhes contado sobre o ataque sofrido no dia anterior, Micaela narrava as partes do diário de Kiara que havia conseguido descodificar. Havia ali algumas informações sobre Cyane, mas nada, até o momento, que fosse de muita importância. Algumas coisas eles já sabiam, como o fato de ter uma força descomunal. Outros detalhes poderiam vir a ser importantes, como possuir doze generais em seu exército particular. Doze, o mesmo número de guardiões. Talvez não fosse uma mera coincidência. As narrativas de Kiara deixavam sempre uma dúvida a respeito da origem de Cyane, e Micaela esperava que isso fosse algo que em algum momento tivesse sido descoberto por Kiara e descrito naquele caderno.

— Eu não fazia ideia sobre o número exato de generais — Riki comentou após a leitura. — Mas, sobre a origem de Cyane, a dúvida de Kiara-sama era devido à sua idade. Poucos tiveram a chance de estar frente a frente com ela e sobreviver para narrar, mas ela é sempre descrita como uma mulher jovem.

— E qual é o assombro disso? — A pergunta de Hikari verbalizava a dúvida de todos.

O garoto-youkai explicou:

— O assombro é o fato de Cyane ser bem mais velha do que Kiara-sama... ou mesmo do que o falecido rei Kuro.

De fato, a declaração trouxe surpresa a todos. Sofie pediu para o youkai explicar melhor e esse assim o fez:

— Tudo o que sei é que Cyane foi oponente do rei anterior a Kuro, muitas décadas atrás. Tanto que, muitos anos depois, aliou-se a Kuro e o ajudou a tomar o poder. Quando isso aconteceu, ela tornou-se governante de uma enorme e longínqua província no mundo youkai e participava ativamente das decisões de Kuro no comando de tudo. Quando Kuro caiu, ela uniu o seu novo exército para retomar o poder.

— Então... — Maire tomou a palavra. — Essa mulher deve ter mais de cem anos.

Ryan balançou a cabeça, confuso.

— Então como pode ainda ter uma aparência tão jovem?

Live levantou uma questão:

— Alguns youkais podem fazer isso, não podem? Aparentar menos idade do que realmente têm.

Riki assentiu, porém fez uma ressalva:

— Só que não é só isso. A aparência de Cyane também é descrita de formas diferentes no decorrer desse tempo.

— Uma youkai transmorfa? — Micaela sugeriu.

Anne ainda se mantinha apática e calada, mas, mesmo assim, fez uma observação:

— Como o youkai que levou a Cat. Ele usou a aparência do Toshihiko.

Ryan suspirou pesadamente. Parecia uma maldição que, mesmo depois de morto, o antigo Guardião de Sagitário continuasse a infernizar as suas vidas.

Riki respondeu:

— Acontece que Cyane não tem poderes transmorfos. E é aí que está o mistério com relação à sua aparência sempre mudar.

— Cara, essa parada tá muito confusa — Eric simplificou os pensamentos de todos.

Ryan se revoltou:

— Confuso ou não, precisamos invadir aquele inferno de mundo youkai e trazer a minha filha de volta.

Marco estava tão aflito quanto o genro para salvar sua neta, mas fez uma observação:

— Mic e Kari analisaram toda a área da praia e não encontraram nenhuma fenda na barreira.

Hikari concordou:

— É, e precisamos de alguma fenda para que eu consiga passar para o mundo youkai e levar vocês juntos. Lembrem-se de que precisam da minha energia youkai para conseguirem atravessar.

Ryan continuava indignado.

— Não é possível que não exista uma brecha. Existem youkais vindo para cá. O próprio Riki conseguiu vir.

— Mas eu não sou um meio-youkai, senhor. Existem rachaduras ínfimas na fenda, que permitem que alguns youkais de sangue puro e bom controle de youki consigam passar. A composição do sangue da princesa Hina é de apenas um quarto humano, referente à mãe de Kiara-sama. Ainda assim, tive um desgaste muito grande de energia para conseguir trazê-la para cá junto comigo. Eu não conseguiria atravessar com um ser humano puro. Nem mesmo com um meio-youkai.

Sofie respirou fundo. Odiava, mais uma vez na vida, ser obrigada a manter a calma e a racionalidade em uma situação tão desesperadora. Mas sabia que não existia alternativa.

— Faltam menos de quatro dias para o horário determinado pela youkai que atacou Hikari e Micaela. Estaremos na praia nesse momento. E temos até lá para planejar o que faremos para conseguir atravessar. Eric trouxe os antigos arquivos dos guardiões passados, e vamos analisá-los, enquanto Micaela continua a tentar decodificar o diário de Kiara.

Anne, que até então estava sentada, levantou-se, retomando o desespero.

— Eu não tenho como esperar mais quatro dias. Eu quero a minha filha de volta, agora!

Ryan se levantou, abraçando a esposa.

— Nós vamos salvá-la, Anne. Mas precisamos esperar.

— Não posso esperar. Ela deve estar assustada, com frio... Eu já passei, duas vezes, por aquele inferno, e não posso permitir que minha filhinha fique lá por nem mais um minuto.

Enquanto Ryan continuava a tentar tranquilizar a esposa, Sofie observou a tudo em silêncio, sentindo um forte ardor na garganta e um aperto no peito por ver aquele velho filme se repetir. No entanto, agradeceu a Deus por, ao contrário dela na segunda vez em que viu-se perdendo a filha que levara dezessete anos acreditando estar morta, Anne tinha o homem que amava ao seu lado. Tinha seus pais, sua irmã... uma família. Tinha muita gente disposta a dar a vida para trazer Catherine de volta. Ela própria seria capaz de qualquer coisa para salvar sua neta. Qualquer coisa.

Ao mesmo tempo em que a primeira lágrima escapou dos olhos da francesa, ela também se sentiu sendo abraçada. Marco a consolava, enquanto notoriamente lutava para segurar o próprio choro.

Não era só Anne que contava com aquela dádiva. Ela própria também não estava mais sozinha.

*****

Guardians II - MetamorfoseOnde histórias criam vida. Descubra agora