Epílogo (Parte 1)

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5 anos depois

— Ô, de casa! Cheguei!

Logo depois de colocar o menino de dois anos de idade no chão, Live se sentou em uma cadeira próxima à porta, começando a tirar os sapatos. Deveria ser uma tarefa fácil, mas estava a cada dia mais difícil por conta da barriga que entrava no sexto mês de gestação.

O primeiro a vir correndo em sua direção foi Enzo. Ela viu-se obrigada a largar um dos sapatos no chão quando o menino, agora com cinco anos de idade, a abraçou fortemente.

Logo em seguida, chegou uma adolescente de doze anos, que foi diretamente até o menino que chegara com Live, pegando-o no colo.

— A tia estava morrendo de saudades de você, meu amor!

Ainda abraçada a Enzo, Live sorriu observando a cena. Desde que adotara o pequeno Tehuti – garotinho que conhecera em uma de suas viagens à Etiópia — que ele virara o verdadeiro xodó de toda a família. Não tinha sido nada planejado: simplesmente se encantara pelo menino e enfrentou uma batalha judicial para conseguir adotá-lo. E, apenas algumas semanas depois que saíra a adoção definitiva e ela pôde levá-lo para casa, descobrira-se grávida de um rapaz com quem se envolvera casualmente. Para quem nem tão cedo planejava ser mãe, ela agora se via com dois filhos.

Fazia três anos que Live, após concluir a faculdade, começara a trabalhar em uma grande empresa e se mudara para um pequeno apartamento que ficava a dois quarteirões de onde as mães adotivas moravam. Porém, ainda utilizava de suas férias para dar continuidade aos seus trabalhos voluntários na Índia e em países da África. Foi em um desses trabalhos que conhecera Tehuti.

— E de mim, nada de saudades? — Live provocou.

Rindo, Alexia soltou-se de Tehuti e também foi abraçar a irmã de criação.

— Desde quando você é ciumenta, mana? Nós nos vimos anteontem.

— Mas eu já estava com saudades da minha nerdzinha favorita!

Nesse momento, Maire e Mic também chegaram, indo ambas diretamente até Tehuti. A ruiva o pegou no colo, logo fazendo festa. Até mesmo Micaela, embora mais contida, se derretia toda pelo menino. Observando aquilo, Live não pôde evitar achar graça. Aos trinta e seis anos, elas não tinham um perfil que qualquer um cogitasse já serem avós, mas já era a forma como ensinavam Tehuti a chamá-las.

Animadas, elas adentraram a casa levando o menino junto. Enzo as seguiu, também empolgado com a presença do "sobrinho" para brincar com ele. Live olhou para Alexia e brincou:

— Tá vendo como são as coisas? Agora é só Tehuti! Ninguém lembra da Live aqui.

Micaela, que ia atrás da esposa, parou e voltou-se para Live.

— Disse alguma coisa?

Live riu. Alexia explicou:

— Ela está com ciúme porque vocês não ligam mais para ela.

Micaela cruzou os braços diante do corpo e apoiou-se à parede.

— É isso o que acontece quando temos filhos. Vai se acostumando, que logo chega mais um.

— Nem me lembre! — Live levou as mãos à barriga. — Não tive nem tempo de me acostumar com o primeiro, e está vindo outro por aí. Enfim... vocês ainda não estão prontas? Temos uma reunião para ir, esqueceram?

— Por mim, já teríamos ido! — Alexia era a mais ansiosa. — Vamos ser os últimos a chegar.

— Não exagere, Alexia! — Micaela retrucou. — Ainda está cedo. Lembre-se de que os outros convidados vêm de muito mais longe.

— Nem tanto! — a adolescente rebateu. — Todos já estão em Tóquio. Quero muito rever todos.

Live sorriu, compreensiva.

— Nós também queremos, Alex. Mas a tia Mic tem razão, ainda está bem cedo. Vim antes porque sabia que essas duas aí iam querer babar um pouco no Tehuti.

— Ele é uma criança adorável — Micaela confessou. — E, por falar nisso, vou lá ajudar a Maire a cuidar dele.

Dito isso, a loira seguiu para a sala. Live e Alexia a observaram, segurando o riso. Sabiam bem que Tehuti era uma criança super comportada e que provavelmente Maire não precisava de qualquer ajuda para cuidar dele. Era só um pretexto para Mic também aproveitar um pouco a presença do menino.

Live voltou a desamarrar o sapato que ainda estava em seu pé esquerdo, enquanto perguntava:

— E aí, alguma novidade?

— A gente se viu anteontem, mana.

— Muita coisa pode acontecer em dois dias — Não que Live de fato acreditasse que algo relevante tivesse acontecido.

— Bem, uma novidade é que minha avó Gabi ligou. Sem ser meu aniversário ou Natal.

— Ah, é? — Live resmungou. Gabrielle não era exatamente a sua pessoa preferida. — E como ela está? Continua a mesma chata?

Alexia riu. Sabia que Live não fazia qualquer questão de esconder sua antipatia por Gabrielle. Sentimento este que não era de todo infundado.

— A mesma coisa de sempre. Ela fala com a mamãe Mic, pergunta como ela está, se precisa de alguma coisa, depois fala comigo e faz as mesmas perguntas, e só. Nunca pergunta pela mamãe Maire ou mesmo pelo Enzo.

— É, algumas pessoas não conseguem mudar tanto assim. Acho que ela ter voltado a aceitar a tia Mic como filha já é o máximo de mudança que conseguiu fazer.

— Mamãe Maire disse outro dia que a mamãe Mic aliviou um grande peso das costas dela com isso. Que não era muito, mas já a confortava. Não sei... Eu não gosto muito do fato de a minha avó não aceitar a minha família, mas... Ela é minha avó, no fim das contas.

— É, eu sei. É uma avó bem chata, mas ainda é sua avó.

— Mudando de assunto, enquanto não está na hora de sairmos, gostaria de ver o meu novo projeto para a Feira Cultural da escola?

Já descalça, Live se levantou.

— Claro. É alguma maquete? Um monólogo? Ou um desenho?

— Na verdade, estou desenvolvendo um novo aplicativo de celular. Anda, vem ver!

Animada, a adolescente saiu correndo na frente, rumo ao seu quarto. Live franziu a testa, ainda sendo capaz de se assustar com o quanto aquela menina era precoce.

*****

Guardians II - MetamorfoseOnde histórias criam vida. Descubra agora